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Hunter estava animado, porém Sophie não gostou muito da ideia, já estava até mesmo sentindo saudades de Vic, seria mais fácil lidar com toda a agitação da punk cor de rosa, do que com um garoto convencido querendo conquista-la, e muito mais invasivo, praticamente enfiou a cabeça no armário enquanto a garota trocava os livros da bolsa.

Os dois seguiram em silêncio, a sala da próxima aula era no terceiro andar, mas a loira não dava muito espaço para nenhum assunto, estava preocupada em conseguir achar o caminho até a sala, não tinha certeza se seu perseguidor sabia, e não queria perguntar, seria um motivo para qualquer cantada sem graça, mas estavam atrasados e isso a deixou sem opções.

— Sabe para onde estamos indo? — Ela desistiu do silêncio.

— Próximo corredor à esquerda, sala da professora Bethy.

Sophie sentiu-se aliviada, por ele saber onde estavam e aparentemente ter desistido de qualquer investida romântica. Os dois entraram na sala no mesmo momento que uma senhora magra de óculos.

— Estão atrasados, sentem-se. — A mulher mandou enquanto se dirigia a sua mesa.

Os recém-chegados sentaram-se juntos, enquanto todos os outros estavam extremamente quietos.

— Meu nome é Bethy, sou a professora de inglês, e não suporto que falem junto comigo ou fora de hora, assim como não tolero atrasos em minhas aulas, nem pensem em aumento de prazo para entregar trabalhos.

A classe permaneceu imóvel, Sophie e Hunter se olharam, o garoto fez uma careta como quem diz "estamos ferrados". A professora passou meia hora falando sobre suas regras, não esboçou um sorriso em nenhum momento, e no sinal de qualquer conversa paralela apenas pigarreava fazendo o silêncio voltava a reinar, Bethy era do tipo que os alunos não ousam desafiar.

— Para hoje quero que vocês formem duplas, vão descobrir tudo o que puderem um do outro, nada superficial, se empenhem de verdade em conhecer seu parceiro, para a próxima aula me entregue uma entrevista por escrito com as informações mais importantes que coletaram.

Na mesma hora os alunos formaram seus pares, para sua infelicidade a garota percebeu que haviam apenas dois novatos na sala e ela era um deles.

— Vamos lá amor, conte-me tudo.

Hunter piscou para Sophie que revirou os olhos, mas começou a falar sobre sua vida, o quanto se mudava, de seus pais, seu irmão irritante, do namorico de infância que teve com um italiano, e como ficou deprimida quando sem mais nem menos foram morar no Canada.

Não foi um amor, mas nessa época ainda não sabia que precisava proteger seus sentimentos, não sabia o quanto ia doer se fosse embora, tinha uns treze anos e Giovanni era seu melhor amigo. O conheceu assim que se mudou, ele morava ao lado de sua casa e antes mesmo das aulas começarem já eram amigos, considerou o melhor ano que teve em sua vida.

E quando acabou e eles ainda estavam na Itália, achou que não iriam se mudar, eram cúmplices, contavam tudo um ao outro, andavam de mãos dadas, tomavam sorvete. Sophie costumava arrumar brigas por tudo, mas o italianinho sabia como melhorar seu humor, e foi com ele que deu seu primeiro e único beijo.

Então um dia estava em casa, trocando mensagem com engraçadas pelo celular, combinando um jantar na casa dela para oficializar o namoro, quando ouviu seu pai chamar nervoso, August acabava de chegar a casa, suado e machucado, mandando que arrumassem as coisas, pois partiriam ainda naquela noite. Sophie amarrou a cara ameaçando fugir, mas seus pais não lhe deram ouvidos, falavam algo sobre o pai ter perdido o emprego e arrumado alguma outra coisa no Canada, mais mentiras.

As desculpas nunca faziam sentido e na maioria das vezes saiam às pressas, fugindo de alguma coisa. Ela mandou mensagem para Giovanni, mas ele não respondeu, como não apareceu na sua casa à noite e na manhã seguinte Sophie já estava voando para o Canada, e nunca mais recebeu notícias de seu primeiro namorado.

Foi aí que resolveu parar de fazer amigos, ficou quase o ano inteiro que moraram no Canada sem falar com seus pais. Depois passaram um tempo da Índia, África do Sul, e muitos outros. Um dos países que mais gostou foi o Brasil, passou a maior parte do tempo lá indo a praias. O último que esteve foi o Japão, mais precisamente Tóquio, onde desenvolveu sua paixão por motos.

— Você nunca se perguntou sobre os motivos de seus pais estarem sempre fugindo? Porque é evidente que eles estão fugindo. — Quis saber Hunter que estava em silêncio até o momento.

— Sempre quis, mas eles inventam uma desculpa atrás da outra, então deixei pra lá — Sophie deu de ombros — Agora você, pode começar a falar.

— Você vai ficar decepcionada, minha vida é um saco perto da sua — O garoto fez bico.

— Me conte e eu descido — Insistiu — Além do mais, interessante ou não, preciso escrever sobre você.

— Bem, eu cresci em lares adotivos, nunca me adaptei, e sempre voltava ao orfanato. Na verdade eu era devolvido, fiquei conhecido como o "garoto problema". — Ele deu uma piscadinha e continuou falando.

Contou que ao todo foram cinco famílias, a primeira o adotou quando tinha seis anos, antes disso já havia ficado três anos no orfanato, seu pai sumiu antes dele nascer, a mãe não tinha condições de cria-lo e o deixou lá.

Hunter sempre teve a esperança de sua mãe voltar, por isso aprontava quando era adotado, algumas famílias eram mais insistentes, então precisava pegar pesado, chegou há ficar um tempo em um reformatório. Até que ficou velho demais, com quatorze anos nenhuma família o queria, mas sua mãe nunca voltou.

— Uma coisa não se encaixa na sua história. — Sophie o interrompeu.

— O que?

— Como você estuda nessa escola, se vive em um orfanato? — Ela quis saber.

— Isso eu também preciso descobrir, a diretora do lar onde vivo falou que um tutor anônimo está bancando meus estudos aqui, estou empenhado em saber quem é. — Ele coçou o queixo fazendo cara de mistério. — Linda, nós dois temos um mistério em nossas vidas, podemos investigar juntos.

— Eu passo, obrigada. — A garota falou fechando o bloco de anotações — Já tenho material o suficiente para meu trabalho.

— Para quem teve uma vida de fugas superinteressante, você é uma chata. — Hunter bufou — Aliás, deveria me dar uma chance, depois que lhe mostrar o que é amor de verdade não vai nem se lembrar do Italiano furão.  

O sinal indicou o fim da aula, e todos foram saindo calmamente, Bethy tinha regras para isso também.

O sinal indicou o fim da aula, e todos foram saindo calmamente, Bethy tinha regras para isso também

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Marcas em Sangue   [Em Revisão]Where stories live. Discover now