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Sophie colocou os saltos pretos, um dos sapatos favoritos de sua mãe, o tipo perfeito que cobre todo o pé, ideal para quem estava com a manicure vencida e esse era sempre o caso dela. Respirou aliviada, já era o quinto ou sexto par que experimentava.

Levantou e se colocou confiante frente ao espelho, mas o resultado não foi o que esperava, ao invés de ficar feliz por finalmente ter encontrado o par perfeito de sapatos, seu rosto franziu formando uma careta de raiva e frustração. Arrancou do corpo e jogou sobre o amontoado de roupas que estava na cama, o short jeans e a camiseta cinza que alguns instantes atrás pareciam ótimos, mas agora não combinavam com os lindos saltos.

Esse já era seu terceiro fim de semana em Louisville, passou anos sem cultivar qualquer tipo de relação além da que tinha com sua família, mas em Sant'Angelin já tinha dois bons amigos, se dava bem com todo o grupo. Tinha até conversado algumas vezes com sua vizinha Alexandra, uma garota bem tímida, porém divertida.

Queria estar bem vestida em sua primeira noitada com amigos. Já havia saído a noite, mas isso com certeza seria diferente de fugir pela para tomar um ou dois drinks sozinha.

Sophie estava enrolada na toalha buscando alguma opção que ficasse boa com os sapatos quando o telefone em seu criado mudo tocou. Era Luke em uma chamada de vídeo.

— Não era para você já estar arrumada? — Ele perguntou assim que a chamada foi conectada.

— Quer um prêmio por essa constatação? — Sophie praticamente rosnou.

O garoto coçou a cabeça, levantou uma sobrancelha e ponderou por um momento se entrava na discussão ou tentava acalmar a sua mais nova e talvez única amiga. Levou um segundo para escolher a segunda opção considerando que nas três semanas que a conhecia foram umas cinco discussões e Sophie ganhava todas.

— Ok. Não sou o melhor para conselhos de moda, mas qual o problema? — Usou seu tom de voz mais gentil possível.

— O problema é que nenhum dos meus tênis surrados serve para o programa de hoje, e os lindos saltos pretos da minha mãe não combinam com minhas roupas terríveis. — Ela choramingou. Já não parecia a garota raivosa de segundos atrás.

— Se já pegou um par de sapatos, pega logo uma roupa da sua mãe também. — O garoto deu de ombros.

Sophie levou a mão ao rosto e balançou a cabeça negativamente, e ele esperou que começasse o ataque de raiva e xingamentos.

— Como eu não pensei nisso antes? — Sophie pareceu realmente incrédula com a solução óbvia.

— É porque eu sou um gênio. — Luke assobiou aliviado, conseguiu evitar o desastre. Ele esperou enquanto ela foi até o quarto de sua mãe e voltou alguns minutos depois com peças de roupa e uma caixinha de joias.

— Você é o melhor amigo que eu poderia ter, e deveria ir com a gente. — Constatou enquanto avaliava as roupas frente ao espelho.

— Já te falei que não me encaixo. — Ele gaguejou um pouco alterado. — E tenho coisas melhores para fazer. — A última palavra saiu gritada, pois Sophie entrou no banheiro para experimentar a roupa.

— E o que é mais importante do que sair com sua melhor única amiga? — A garota gritou.

— A resposta é o motivo de eu ter ligado, achei outra imagem. — Disse como se estivesse revelando que encontrou um baú de tesouro.

— É sério, essa obsessão já está ficando estranha. — Ela saia do banheiro abotoando um colar que pegou na caixinha de joias da mãe. — O que acha?

Sophie parou frente ao celular exibindo a blusa preta de tecido transparente e brilhos que pegou de sua mãe, um short jeans de seu próprio guarda-roupa que deixava suas curvas em evidência, para completar um colar prata com um pingente delicado. Luke precisou de alguns segundos para responder, não por ter dúvidas, mas por precisar recuperar o fôlego depois de admirar a garota.

— Você está incrível. — O garoto corou.

Sophie fingiu não notar e sorriu fazendo gestos de campeã. Os dois deram risadas deixando o clima estranho para trás.

— Que foto você achou? — Ela perguntou sem demonstrar muita importância.

— Parece que seu amigo também foi rei em uma tribo africana. — Ele revelou usando um tom mais alto que o normal ao pronunciar "seu".

— Depois procura no dicionário o significado da palavra "coincidência". — A garota debochou.

— Você leva essa palavra a sério demais, está para nascer alguém menos desconfiada.

Luke já estava revirando os olhos, não conseguia acreditar na falta de interesse da amiga, já era a quarta foto de alguém igual a Hunter que achava, e Sophie continuava achando tudo normal.

— Alguém que já viveu tanto, deveria ter me vencido na esgrima. Mas lembra da surra que dei nele quando Hauren tentou me matar? — Sorriu de canto e levantou uma sobrancelha.

— Hauren não tentou te matar, ela escolheu as disputas aleatoriamente. — Ele balançou a cabeça negativamente.

— Agora quem está levando a sério demais a palavra "coincidência"? Não reparou como ela ficou decepcionada com minha vitória? — Sophie agora tinha uma expressão que o garoto não conseguiu decidir se era de medo ou raiva.

— Acho que você está louca, ela parece gostar de você, até te livrou de ter que dar carona para o Hunter outro dia.

— Ela me dá arrepios, e Hunter não é uma ameaça, queria saber o que era tão importante para falar com ele que não poderia esperar. — Uma última olhada no espelho. — Ótimo, estou pronta.

— Novamente, você está incrível. — Luke disse sem deixar o clima estranho dessa vez. — Sei que acha loucura minha, mas cuidado com o ele.

A garota estava pronta para protestar quando ouviu sua mãe gritando da sala, Vic chegou bem na hora. Despediu-se de Luke, após sem sucesso, pedir mais uma vez que ele fosse junto. Estava decidida a fazer com que o garoto se enturmasse. Tarefa mais difícil do que imaginava, ele preferia passar o tempo com livros e computadores.

Sophie chegou à sala de estar um pouco receosa, sua mãe gargalhava com Vic, mas sabia que não conseguiria sair sem que percebesse suas roupas. Observou a cena por alguns instantes, Helena ria descontroladamente, a ponto de lacrimejar, enquanto sua amiga exagerava ao contar algum acontecimento na escola, uma cena agradável.

— Estou pronta. — Anunciou sorrindo.

As outras duas a olharam, sua mãe ainda se recuperava da risada secando uma lágrima no canto do olho. Vic tinha uma expressão típica dela, cheia de malícia no olhar, um sorriso de canto e balançando a cabeça positivamente. Sophie riu ao lembrar-se que ela lhe sugeriu usar algo "provocante", pois iriam descolar uns gatinhos. Pelo visto havia acertado na escolha. Já Helena a olhava com admiração e talvez até orgulho, vivia pedindo que se arrumasse um pouco mais.

— Você está linda minha menina. — A mulher disse acariciando o rosto da filha com delicadeza. — É tão bom ver você assim, feliz e com amigos.

— Não vá chorar dona Helena, você é a primeira mãe que vejo ficar feliz da filha sair à noite com amigos. — Sophie brincou.

— Prefere que eu seja a mãe chata então? — Ela fingiu estar irritada.

— Não. — As duas garotas responderam juntas.

Sophie deu um beijo na mãe e se despediu puxando a amiga pelo braço.

— Tchau tia Helena. — Vic acenou.

— Não voltem muito tarde, e nada de bebidas. — Mandou forçando sua voz mais séria possível.

 — Mandou forçando sua voz mais séria possível

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Marcas em Sangue   [Em Revisão]Onde histórias criam vida. Descubra agora