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Tudo ao redor estava com uma beleza diferente, um tanto sombrio, parecendo anunciar que algo iria acontecer, ele notara isso assim que se decidiu, e temia não por sua miserável existência, mas por tudo que ele agora protegia.

Respirou fundo negando a imagem em sua cabeça, queria afastar a dor, preferia pensar em coisas boas apesar dos pesares, acreditar que poderia dar certo no final, uma tarefa difícil já que ser otimista não era seu forte, mas já tinha mudado tanto.

Olhou para a pequena forma ao seu lado, a bela mulher de cabelos avermelhados que já não saía mais de sua companhia, ela com certeza era o motivo dele ter chegado tão longe, ela dava sentido a sua existência, tão diferente dele, e talvez fosse isso que os mantinha tão próximos, mas tinham ainda uma ligação mais profunda, dividiam o mesmo pecado, cometeram o mesmo erro há anos atrás, e foi o que os levou a esse momento, foi o que os uniu, o arrependimento, a culpa, a dor.

Desejava ter sido apenas ele, mas ela passou por uma dor ainda maior, não conseguia imaginar como deveria ser pra ela aguentar tudo isso, todo esse tormento, ele se perguntava se algum dia isso iria parar.

Sua esperança de redenção estava naquela pequena criatura, ele poderia ficar horas a observando, era aparentemente tão frágil e tão docemente linda que parecia impossível alguém querer fazer mal a ela, mas ele sabia que muitos queriam, ele mesmo algum tempo atrás poderia querer isso, o pensamento o deixou enjoado, respirou pesadamente e pereceu sugar todo o ar ao redor, foi como se fios de gelo rasgassem suas narinas, sua mente vagou, mas como sempre, a voz dela o trouxe de volta.

—  Ainda não consigo entender sua decisão Estefan. —  Ela soprou baixo, mas já estava tão acostumado com a voz dela que mesmo se sussurrasse ele ouviria cada letra, pegou suas palavras no ar e sorriu, ela estava tão preocupada que não percebeu seu descontrole.

—  Talvez nem eu mesmo consiga entender, mas algo me diz que chegou a hora, que é o certo — ele limitou-se a dizer, mas se alguém um dia pudesse entender sua decisão, esse alguém seria Hauren, ele ainda a olhava, preocupada e assustada, como gostaria de mantê-la afastada de tudo isso, mas era algo impossível, estava tão envolvida quanto ele, provavelmente até mais

—  E agora isso, esses anos todos tentando mantê-la longe e agora você simplesmente a traz para perto de nós, mesmo não tendo sentido na pele como eu senti, você sabe exatamente do que ela é capaz. —  A mulher dizia incrédula, quase gritava.

Era normal seu medo, Estefan sabia bem disso, sua decisão mudaria tudo, mas de alguma forma precisava ser feito, a garota precisava descobrir quem era.

—  Acompanhei de longe o crescimento dela e não me parece que se lembre do que aconteceu, e eles a amam Hauren, você acha que eles amariam se ela fosse assim tão perigosa? —  ele sorriu tentando parecer despreocupado.

—  Ela pode ser como eu, e bom, você sabe bem como nós... — A mulher ponderou o que ia dizer ao perceber a reação de Estefan.

Ele enrijeceu e sorriu vazio, sem nenhuma alegria em seu rosto, mas tentou disfarçar, ela corou.

—  Bem, é a dura realidade amor —  A voz de Hauren saiu cheia de culpa e dor.

Isso sempre acontecia, e os dois sempre se sentiam culpados, um por falar, o outro por ainda agir com estranheza mediante a natureza da pessoa amada.

—  Você não é assim, e depois de todos esses anos, sabemos que o lado que escolhemos já não faz tanta diferença, não muda tanto assim quem somos de fato — ele disse firme e sorriu passando a ponta do dedo no rosto de Hauren.

—  E modéstia parte, acho que ela pode ter mais de nós —  Estefan encolheu os ombros e virou-se para frente, como se admirasse algo distante. —  De qualquer forma, temos que saber, e não fique com tanto medo, vou te proteger —  terminou com um sorriso provocante.

Suas mãos se enterraram nos bolsos do casaco, com uma postura totalmente relaxada e despreocupada, isso fez Hauren sorrir

—  Não seja ridículo, você é quem precisará de minha proteção. —  Ela deu uma risada alta e fina.

—  Agora vamos, já devem estar nos esperando —  Estefan assentiu com a cabeça.

Mas nenhum dos dois pareceu querer ir embora, ao invés disso Estefan puxou Hauren para perto. A mulher congelou com a surpresa, ele não costumava ter esse tipo de atitude, sempre tão cauteloso, mas ela relaxou em poucos segundos afundando seu rosto naquele abraço tão perfeito quanto ele e então levantou seus olhos para encontra-lo, a expressão dele ainda era de dor e Hauren se sentia culpada por ser quem é.

Ele evitava olhar diretamente para ela, mas a mulher levou suas mãos até o rosto rígido dele e o puxou, não houve protesto, ele sorriu e a beijou da forma mais carinhosa que conseguia, o que não durou muito tempo, nunca durava, não entre eles, o beijo foi do carinhoso para o selvagem, cheio de desejo, os dois pareciam se completar e se encaixar perfeitamente como peças de um quebra cabeça, ainda assim, se alguém tivesse o prazer de presenciar tal cena, pareceria ser algo fora do padrão, errado para qualquer outro, mas para os dois era natural, não poderia ser de outra maneira, desde o momento que suas histórias se cruzaram passaram a pertencer um ao outro, por mais improvável que fosse a união dos dois, tantos anos se passaram e nada havia conseguido os manter afastados, e não foram poucas as tentativas.

Eles se afastaram com a respiração ofegante e então sem nenhuma palavra a mais, se foram, levando apenas a lembrança daquele momento, aquele descuidado, irresponsável e delicioso momento que ambos compartilharam, e a certeza de que mesmo se tal amor um dia os levasse a destruição, nunca desistiriam.

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Marcas em Sangue   [Em Revisão]Where stories live. Discover now