Capítulo 9 - A vida continua (parte 3)

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A garota despertou suando, olhou para o relógio, apenas meia hora havia se passado desde o momento em que adormecera, pareceu uma eternidade. Pela primeira vez ela teve a certeza que não se tratava apenas de um sonho, era uma lembrança, do assassinato de sua mãe.

Ela se levantou indo para o banheiro, precisava de um banho antes de ir à vigília. Seus pais ainda não haviam voltado, provavelmente iriam direto já que Helena fez questão de deixar um vestido preto de renda pendurado em evidência no banheiro. Sophie sorriu, era gotoso sentir que sua mãe adotiva ainda se importava com coisas tão banais.

Ainda assim ela ignorou o vestido e optou por uma jeans preta e uma camisa de botão. Os cachos estavam presos em um coque alto e não usava maquiagem, lhe dando uma aparência serena.

Ela parou em uma floricultura, apesar de achar besteira essa homenagem cheia de mentiras, sentia que devia isso a Luke.

O lugar estava cheio de pessoas segurando velas iluminadas, ainda havia muita poeira no meio dos escombros, mas construíram uma espécie de santuário para que prestassem homenagens as vítimas.

Luke estava lá junto ao pai, ele segurava uma flor branca usando uma força exagerada como se não quisesse soltar. Seu pai falou algo em seu ouvido e ele fechou os olhos soltando a flor.

Os dois se viraram para deixar o lugar, o garoto de cabeça baixa com as mãos afundadas no bolso do moletom cinza parecia não ver ninguém a sua volta, Sophie o observava desde que chegou ao local, sentiu seu peito apertar com a tristeza que o cercava.

— Luke. — Ela chamou baixo se aproximando dele.

Ele a olhou cabisbaixo, os olhos vermelhos de tanto chorar. O garoto apenas suspirou e voltou a baixar os olhos para deixar o local, o pai olhou de um para o outro sem entender, porém não fez nenhum comentário. Sophie insistiu o segurando pelo ombro com gentileza.

— Por favor. — Ela suplicou. — Eu preciso falar com você.

— Talvez agora não seja o melhor momento. — O pai de Luke sorriu para ela como se pedisse desculpas.

O garoto moveu os lábios para falar algo, porém uma pequena confusão próximo ao santuário erguido para as vítimas.

Algumas pessoas gritavam com alguém que estava vandalizando o local. Luke correu até o aglomerado seguido por Sophie e seu pai, Vic tentava conter a multidão os convencendo que Cristian estava alcoolizado.

— Pare com isso agora mesmo. — Luke gritou fechando as mãos.

Cristian que esvaziava uma garrafa de whisky sobre as oferendas o olhou franzindo o cenho.

— Vamos lá Luke, você sabe que isso não passa de uma grande merda. 

Neste momento alguém acertou uma pedra no meio da testa do garoto que levou  mão ao ferimento conferindo o sangue que escorria e começou a gargalhar de forma exagerada.

Vic olhou para Sophie implorando ajuda e então as duas o seguraram pelos braços o puxando para o mais longe possível dali. A loira deu uma olhada triste para Luke que balançou a cabeça negativamente e deu as costas para ela.

Quando já estavam a uma distância segura, as garotas soltaram Cristian, foi bem fácil o tirar de lá, já que ele não protestou ao ser arrastado em nenhum momento.

— Vocês atrapalharam minha homenagem. — Ele se jogou caindo de costas no asfalto.

— Aquilo não era uma homenagem. — Vic o chutou. — Você acha que ela gostaria desse show?

— Ela adoraria. — Cristian suspirou. — Scarllet era o próprio show.

As duas sentaram ao lado dele e os três ficaram lá por um bom momento observando as estrelas. Não precisavam falar nada, as vezes Vic passava a mão nos cabelos ou no rosto do irmão e depois voltava a recolher a mão.

— Bom, eu já vou. — O garoto se levantou. — Sabe, ela iria gostar se vocês continuassem com a ideia dela para o baile de inverno.

— Podemos fazer isso. — Vic sorriu. — Mas você precisa ajudar, sabe que não sou boa com essas coisas.

— Só faz o baile.

Ele abriu as asas negras e sumiu pelo céu. Victória abraçou as pernas escondendo o rosto entre elas. A noite estava gélida, como se  combinasse com o clima de luto que se instaurou.

— Ele vai sair dessa. — Sophie tentou animar a amiga.

— Eu espero que saia, nunca vi ele assim.

As duas ficaram mais algum tempo sentadas antes de se despedirem. Vic fez como o irmão e em poucos segundos já havia sumido entre as nuvens. Já Sophie voltou caminhando até o local onde algumas pessoas ainda se encontravam na vigília.

— Você está aí. — Michel a encontrou gritando. — Estávamos a um tempo já te procurando.

— Cristian não estava muito bem, ajudei Vic a tirar ele daqui.

— Foi ele o bêbado que estava destruindo o altar para as vítimas? Cara isso foi engraçado.

Sophie o olhou de cara feia e ele deu de ombros se desculpando. Os dois foram até onde os pais estavam conversando com Estefan e Hauren. A garota ainda não estava bem com os professores, falava com eles apenas o necessário nas aulas e treinamentos, por isso não se demorou com eles e foi para casa com Michel em sua garupa. 

O dia seguinte começou tão arrastado quanto os outros, porém a garota acordou mais cedo, fez sua higiene e já estava pronta quando o irmão entrou no quarto ainda enrolado na toalha.

— Essa é a prova que milagres acontecem. — Michel brincou voltando ao quarto para se aprontar.

Quando chegou a escola se deparou com Vic aos prantos no estacionamento e com Estefan que tentava inutilmente acalma-la. Sophie se aproximou e foi surpreendida pela amiga que se jogou em seus ombros chorando desesperadamente. A garota olhou para o professor erguendo a sobrancelha e ele apenas balançou a cabeça.

— Cristian se foi. — Victória disse entre soluços.

Marcas em Sangue   [Em Revisão]Onde histórias criam vida. Descubra agora