15. Ele foi embora

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Pov Hannah


Ainda confusa com tudo o que acabou de acontecer, eu pego a sniper em minhas mãos e desço os lances de escada até o pátio. A mulher que agora está ajudando o seu amigo a ficar de pé, me olha e lança um olhar agradecido. Olho ao redor, mas não vejo Daryl, ele ainda não voltou. Meus olhos finalmente se encontram com quem eu menos queria me encontrar. Negan.

Sinto ele se aproximar em passos lentos de mim. Não olho. Sinto meu peito pesar angustiado. Meu mundo parece ficar menor e com menos ar a cada passo que ele fica mais perto de mim. Ele para o seu corpo a frente do meu, impossibilitando que eu olhe para outra coisa a não ser para ele mesmo.

-Precisamos conversar- sua voz rouca e calma é a única coisa que preenche meus sentidos. Meu corpo me trai e eu fico imóvel, sem reação alguma- por favor?- ele pede e a única coisa que consigo fazer é concordar com a cabeça- podem ir indo, nós alcançamos vocês- ele diz para as pessoas atrás de mim.

Deixo a sniper no chão e saio seguindo em passos curtos o homem a minha frente. Nada disso parece real, parece que eu estou em um sonho do qual não tenho nenhum controle. Olho para as suas costas e a sua postura demonstra um aspecto curvado e cansado, nada semelhante ao líder ácido e cruel que eu conheci anos atrás. De repente ele para, me fazendo quase esbarrar com ele.

Sem que eu espere, sinto seus braços me envolverem em um abraço quente e apertado. Isso ainda continua exatamente como era anos atrás. Sinto que vou chorar, mas engulo o nó que trava a minha garganta. Eu não reajo. Não o abraço de volta, mas também não o empurro para longe. Sei qual reação eu deveria ter, mas eu simplesmente não consigo, o meu corpo não quer reagir.

-Como você está?- ele se pronuncia enquanto se afasta e busca por meus olhos.

-Como eu pareço estar?- devolvo a pergunta, levando os meus olhos ao seu.

-Bem- ele abre um sorriso quase imperceptível, mas eu não correspondo.

-Era só isso o que você queria falar?- pergunto dando um passo para mais longe dos seus braços.

-Não, por favor, espera- ele pede- eles me falaram que você estava morta- seu olhar triste quase me convence, mas ele não tem empatia por nada e nem ninguém.

-Para você eu estou- retruco amarga.

-Todo o tempo que passei preso em Alexandria, todos os dias, todas as horas, todos os minutos, eu passei pensando em você e me arrependendo de ter feito o que fiz.

-Voce nem é capaz de admitir o que você fez- solto uma risada nasal dessa baboseira que ele está tentando falar.

-Me desculpa por ter matado o nosso bebê, me desculpa por ter feito tudo aquilo com você- suas palavras são como um soco na minha barriga- eu só sai naquele último dia, para ter uma chance de voltar e cuidar de você, mas eu fui traído e eles me pegaram- sinto a minha garganta doer enquanto eu seguro o choro.

-E se você não tivesse sido capturado pelo Rick aquele dia? E se tivesse matado ele? O que aconteceria quando você voltasse para o santuário? Acha que as coisas ficariam diferentes do que já eram? Eu acho que não... Acho que você continuaria o mesmo filho da puta de sempre- respondo olhando em seus olhos arrependidos.

-A vida que eu levei, as coisas que fiz, eu fiz porque eu estava machucado, com raiva. Eu fiz porque eu perdi alguém no começo do apocalipse, mas não queria que as minhas atitudes tivessem feito eu perder você também.

-Deixa eu te contar uma coisa- começo a falar enquanto enxugo uma lágrima que teimava em escorrer pelo meu rosto- todo mundo tem a porra de uma história triste. Eu também perdi meu pai no começo dessa merda. Depois abusaram do meu corpo mais vezes do que consigo contar nos meus dedos. Depois eu fui torturada e perdi o meu bebê. Então eu conheci uma pessoa e ela me ajudou, cuidou de mim, fez eu me importar com ela, para no fim me contar que só fez tudo aquilo para que eu a matasse quando uma doença de merda tomasse conta de seu corpo- cuspo as palavras sentindo cada lembrança dolorosa passando pela minha mente- deixa eu te contar mais uma coisa, Negan, você fez parte desse lado fodido da minha história e tenho certeza que de muitas outras pessoas também, mas nem por isso eu saí por aí igual uma filha da puta, machucando e matando todo mundo que não fizesse o que eu queria.

HANNAH | Livro Dois | Daryl DixonWhere stories live. Discover now