Capítulo Três // When I look at you

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Quinta-feira.

"— Talvez seja divertido — replicou Charlotte — poder enganar o público num caso como esse; mas às vezes é uma desvantagem ser tão reservada. Se a mulher esconder o seu afeto do seu objeto com muita habilidade, pode perder a oportunidade de cativá-lo; e não servirá de muito consolo achar que todos igualmente ignorem o que se passa. Há tanta gratidão ou vaidade em quase todos os relacionamentos amorosos, que não é seguro deixar nenhum deles entregue a si mesmo."

Não entendi nada.

Releio aquele trecho. E releio novamente. Por fim, deixo que o livro caía aberto em meu rosto. Resmungo de raiva.

Clássicos idiotas.

E o pior de tudo é que eu estava apenas na página 25 quando jurava que já estava na metade! Gastei duas horas lendo 25 páginas! Marquei em vermelho os trechos que eu não tinha entendido e amarelo os que sim... Revisei as páginas e quase fiquei cega com tantos tons de vermelho.

A cada marcação que eu fazia, transparecia minha raiva pois em uma página, a tinta quase atravessou a folha.

— E se eu apenas desistisse? — pensei alto antes que minha atenção fosse desviada para a minha janela. Necessariamente do som que saía da janela daquela inútil.

Fechei meus olhos com força. Eu ainda iria dar sumiço naquela maldita guitarra dela. E ainda seria nessa vida.

— Amy! — grito da minha janela, vendo a dela estar aberta. Ela não me ouviu, portanto, volto para dentro e pego algo para arremessar nela.

— Qual é? — resmungou, percebendo então que quem a atingiu com um abajur fui eu. — Isso poderia ter me matado, sabia?

Que pena que não matou.

— Da pra você parar com essa guitarra irritante?

— Minha guitarra não seria irritante se você não fosse também.

A maldita tinha resposta pra tudo.

— Isso nem ao menos faz sentido. — digo exasperada.

Ela pega a baqueta da sua bateria idiota e aponta pra sua própria têmpora. Porque, sim, ela tinha um violão, uma maldita guitarra e uma bateria. E o pior de tudo: tocava todos eles excelentemente bem, mesmo que isso me irritasse ao extremo.

— Não faz sentido na sua cabeça.

— Apenas pare de fazer barulho, estou tentando ler aqui. — e, com isso, fecho a janela na cara dela. Isso deve bastar.

Deixo a idiota de lado e volto pro livro idiota porque eu tinha que entrar naquela peça idiota.

"Há poucos de nós com coragem o bastante para se apaixonar realmente, sem encorajamento. A cada dez casos, em nove uma mulher demonstra mais afeição do que ela sente."

Por que diabos eu passei 25 páginas sem entender nada para só então entender essa frase?

Marco em amarelo e o fecho. Não quero pensar sobre aquilo, porque se se apaixonar for ter coragem, eu sou a pior das covardes.

Encaro a janela fechada e vejo Amy através do vidro. Ela de fato havia parado com a guitarra e isso era tão estranho, mas tão estranho que eu não me contentei, abri a janela e não precisei arremessar nada para chamar a sua atenção dessa vez.

— Por que parou com a guitarra?

Ela deu de ombros.

— Porque você pediu.

Enmity [Enemies to Lovers]Onde histórias criam vida. Descubra agora