Capítulo Quarenta e Dois // Too late

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Segunda-feira.

Eu nunca achei que estaria no velório de Lewis dias após o meu casamento com Enola. Nunca achei que sentiria esse vazio, como se eu tivesse perdido uma parte importante de mim, porque, querendo ou não, estamos propensos a perder as pessoas a qualquer momento e elas fazem parte do nosso dia, fazem parte de uma parcela importante do significado de “amor”. E eu amava ele. Yuri o amava. Até mesmo Nora segurou firme a minha mão quando o caixão desceu.

Enola estava inconsolável.

Seus joelhos mal conseguiam ficar firmes por muito tempo, pois uma onda de choro logo vinha em seguida, a derrubando mais uma vez. Seu rosto estava opaco e apagado quando me aproximei dela, após a última pá de terra ser jogada sobre a madeira escura.

Coloquei o chá em suas mãos e passei a mão em suas costas. Vi seus olhos se fechando com o carinho e sua cabeça se encaixar entre meu ombro e meu pescoço.

“Quer ir pra casa agora?”, perguntei, vendo algumas pessoas já começarem a irem embora e outras consolando algum membro da família. Ao longe, vi o momento em que Eloise abraçou Taylor com tanta força que seria capaz de quebrar seus ossos. Mas a garota apenas a apertou mais forte enquanto Eloise chorava copiosamente.

“Precisamos...”, minha esposa começou a falar, no entanto, ao sentir sua voz falhando, pigarreou. “Precisamos achar uma pessoa antes.”

“Quem?”

“Uma mulher chamada Sam.”, se afasta e me mostra uma carta com aquele nome. “Meu avó escreveu pra ela e deixou dentro da caixa, tem uma carta pra mim e outra para essa mulher.”

“Entendi. E a caixa que foi deixada para Lennon? O que tinha nela?”

Ela piscou e levantou a cabeça, como se só tivesse se dado conta naquele momento que havia algum furo que precisava ser preenchido.

“Eu... não sei.”

“Amity!”

Virei meu pescoço em direção a voz que me chamou. Ao erguer meu olhar, vi Nora parada ao nosso lado. Ela usava um óculos redondo escuro e um sobretudo da mesma cor, seus cabelos estava amarrados em um coque totalmente desalinhado e eu sabia que, quando Nora chamava ou ficava em negação, seus olhos afundavam e adquiriam olheiras, assim como seus cabelos insistiam em grudar ao rosto. Então ela sempre o prendia.

“Preciso levar Yuri pra casa. Ele chorou até não aguentar mais e acabou dormindo.”, soltou o ar, completamente cansada.

Assenti levemente, me inclinando para ver o pequeno pilantrinha de 11 anos deitado no colo de Schneider, este que encarava o chão enquanto fazia um cafuné nele.

“Vocês querem carona? Posso dirigir se vocês quiserem.”, falou para Enola se referindo a família dela.

“Enola e eu precisamos fazer uma coisa antes de irmos.”, digo para Nora, afim de livrar Enola de esforço de se explicar.

Minha irmã parece entender, pois ela assente e dá um último abraço apertado em minha esposa antes de ir. Queria que fosse possível, por Nora ser cardiologista, tirar a dor da minha garota, mas as coisas não funcionam dessa forma...

Procuramos por Sam aquele dia, porque sei o quanto isso era importante para Enola por ter sido importante para Lewis... No entanto, todas as mulheres que sobraram naquele velório, nenhuma delas era ou conhecia a Sam.

“Estou me sentindo tão... frustrada. Ele realizou a promessa dele de me levar para o altar, mas eu não fui capaz de realizar o último pedido dele.”, outra lágrima cortou seu rosto sem que ela ao menos percebesse.

Enmity [Enemies to Lovers]Where stories live. Discover now