Capítulo Trinta e Seis // Details that brought us here

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Segunda-feira.

“Dá pra ser mais delicada?” Becky segurou a minha mão diante do seu rosto, afastando o gaze e me olhando com raiva.

“Não fui eu quem te quebrou na porrada, sabia? Mas se quiser eu posso fazer isso agora. É só pedir.”

Ela fechou a cara no mesmo instante, me deixando fazer o que eu tinha que fazer.

Nem quero saber o que ela irá fazer quando April acordasse e visse o estrago que a nossa colega de quarto estava, porque, sinceramente, eu já havia cansado de entender o que estava acontecendo. Tudo que eu quero nesse momento é tomar um banho e ir para a aula, pensar no que eu irei fazer para a conclusão desse primeiro semestre e ver a minha namorada no fim do dia.

É engraçado pensar no antes e no agora. Antes, eu mal acreditava no amor, hoje eu escrevo o nome de Enola nas entrelinhas da minha história.

Na verdade, Enola era a porra do livro todo.

“Do que você está rindo?”

“Nem quero ver o que a April vai fazer com você quando ela acordar.”, termino de limpar os machucados e jogo tudo no lixo.

“Ela não vai fazer na...”, ao tentar terminar a frase, foi interrompida.

“Que porra aconteceu com você?”, a garota jogou a coberta para o lado e veio até Becky, que fechou a cara assim como tinha feito comigo. “O que isso significa, Rebeca?”

“São machucados, nunca viu não?”

Se eu respondesse à Enola dessa forma, tenho quase certeza que nem na Terra mais eu estaria.

Mas April apenas respirou fundo.

“Quem foi, Rebeca?”

“Bela pergunta.”, cruzo minhas pernas e meus antebraços sobre as minhas coxas. “Quem fez isso com você?”

A garota se levantou como se a pergunta não tivesse sido feita.

“Parem de agir como se se importassem comigo.”, e então bateu a porta na nossa cara.

“Mas eu me importo.”, April sussurrou, mesmo que Becky não conseguisse ouvir. De repente, pegou o celular na mesinha de cabeceira e digitou algo para alguém. “A partir de hoje, Rebeca, você só sai desse quarto com a presença de um guarda-costas.”

Mas... era o quê?

No mesmo instante, Becky voltou a abrir a porta.

“Eu ouvi direito?”

“Não sei, a surra que te deram danificou algum aspecto auditivo? Ou o fato de você ser tão inconsequente ajuda nessa questão?”

“Inconsequente?”, ela ri. “Você fala como se eu tivesse escolhido apanhar!”

“Sei que não escolheu, mas poderia me deixar te ajudar.”

“Você nem sabe pelo que eu estou passando, April!”, rebate.

“Porque você não me diz!”, contrapõe.

Em uma discussão, sempre há um limite que não se pode atravessar. Senti esse limite sendo quebrado quando Becky disse ao alterar a voz:

“Eu sou sozinha nesse mundo, April! Não sou acostumada a pedir ajuda ou... ou... sei lá! Agir como uma pessoa normal age quando nunca foi protegida da mãe alcoólatra e teve que viver com o pai com outra família! Você não sabe o que é ter uma irmã obcecada pela própria aparência e com o passado. E mesmo que ela foda todos os dias com a sua vida, que te toque quando você não quer ser tocada, as pessoas sempre a escolhem porque ela é a filha perfeita. As pessoas... finge que não vê o que acontece com você, porque você não faz parte da família. Você... não existe pra eles.”

Enmity [Enemies to Lovers]Where stories live. Discover now