Capítulo Quarenta e Cinco // ... I love you

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[N/A]: Estou com medo de lançar esse final, mas por favor, leiam até entender...

Quando eu tinha nove anos acreditava que morreria aos dezoito, por ouvir que as pessoas falavam que aquela era uma idade muito importante — o que é apenas balela, como os quinze —, mas eu já tive dezoito e não morri. Já tive vinte e continuei viva. Já tive vinte e cinco e nada mudou. Passei pelos trinta e três... pelos quarenta e nove, pelos cinquenta e cinco..., mas eu nunca pensei que chegaria aos setenta e oito.

— Dezoito é uma idade importante. — minha mãe costumava me dizer ainda quando eu mal tinha dez.

Mas acontece que ela disse isso sobre os dezoito até os meus quarenta anos, porque ela não estava mais aqui para me confortar sobre uma verdade distante, sobre os tropeços de cada idade ou até mesmo me manter no agora. Agora, ela não está mais aqui.

— Você demorou, achei que não viria. — sussurrei ao ouvir o estalar dos cascalhos atrás do banco em que eu estava, tendo apenas a visão do mar à minha frente.

— É seu aniversário, Enola. — disse Amy, se sentando ao meu lado. — É óbvio que eu viria te ver.

Coloquei minha mão sobre o banco e Amy colocou a dela ao lado da minha, entre nós. Sorri com a comparação de nossas mãos. A minha pele estava enrugada pela idade, pelos anos vividos, as marcas de sardas e as veias saltadas são provas do quanto já vivi até aqui..., mas a mão de Amy continuava firme, hidratadas e lisas. E ao entender o porquê, meu sorriso se desfez.

E Amy percebe.

— Amor, eu esqueci de trazer seu presente de aniversário, acho que essa é a primeira vez que eu não te dou nada... — comenta, pensativa ao virar seu olhar para o mar acinzentado da Espanha ao meu lado.

Dou um sorriso fraco para reconfortá-la, mas não sei ao certo se consegui transmitir esse sentimento... porque tanto ela quanto eu sabíamos que fazia 39 anos que Amy não me trazia mais presentes.

Às vezes, aceitar isso é como um soco no estômago.

— Me perdoe, Enola...

— Eu nunca vou te perdoar, Amy. Não entendo o porquê de você ainda insistir em meu perdão mesmo após todos esses anos.

— Já faz quase quatro décadas... — ela solta o ar, esgotada. — Eu não quero ter essa discussão com você, mas não sei como te fazer entender que era uma escolha necessária. Não foi por mim, Enola, foi por ela. Skyler merecia essa chance e eu dei a ela. Por que ainda me culpa disso?

A vista do mar agora era só um borrão de lágrimas, como se os meus olhos pudessem me ocultar a verdade que há 39 anos eu tentei não aceitar.

— Porque você a colocou acima de você mesma, Amy! — esbravejei e as lágrimas caíram, enfim.

Minha esposa, paciente como era e como sempre foi, esperou que eu me recuperasse antes de, pela centésima vez, me explicar:

— É isso que os pais fazem, Enola... Lewis renunciou a Sam por Lennon. Eloise se divorciou do seu pai quando a agressividade dele atingiu você. E eu escolhi não segurar a sua mão, por Skyler. É isso que os pais e mães fazem, eles colocam os filhos acima deles mesmos e torcem para que valha a pena.

— Valeu para você? — não consigo não demonstrar minha indignação. — Olha em volta! É meu aniversário de setenta e oito anos e a nossa filha nem está aqui comigo. Ninguém está aqui, nem mesmo... — meus ombros caiem de frustração. — Nem mesmo a Taylor.

E isso era o que mais doía, porque eu posso fazer voltar a ser minha amiga..., mas não sei se eu consigo, não depois de tudo o que aconteceu, não depois de ter lido aquela carta, de ter visto as cerejeiras do Japão sendo colocada por ela sobre o tumulo da minha mãe.

Enmity [Enemies to Lovers]Onde histórias criam vida. Descubra agora