Capítulo Quarenta // Damn brown eyes

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Segunda-feira.

Espero que Enola nunca descubra isso...

"Becky, posso falar com você um segundo?", pergunto assim que ela atende a minha ligação, pelo que me pareceu ter sido após o quarto ou quinto toque. Na tela, vejo-a bocejar. "Não me diga que estava dormindo..."

"Pois eu estava, sim. Estou de férias, Amity."

"É, de férias em Bahamas...", tento lembrá-la e fazer entender que... era Bahamas.

"E daí? Eu dormiria mesmo se estivesse pendurada na janela do Burj Khalifa."

Aquilo era realmente verdade. Desde que decidiu parar de fumar maconha, Becky parecia ter adormecido para a vida. Dê a ela 5 minutos de silêncio e ela se encostará em uma parede e dormirá. O que não deveria acontecer já que um dos principais sintomas da abstinência no organismo era insônia.

"Não sei como a April ainda não reclamou disso."

"Não se engane, ela reclamou muito.", enfatizou o 'muito'

"E o que você fez?"

"Ué, eu dormi."

Pisco, meio incrédula.

"Você pegou no sono enquanto a sua namorada brigava com você e ela não fez nada?", vejo-a assentir. "Onde eu consigo uma dessas?", minha pergunta era real, mas ela riu. "Não, juro. Se eu dormisse enquanto a Enola reclama, eu acordo com ela reclamando mais ainda."

"E possivelmente careca."

"E possivelmente careca!" repliquei e soltei o ar, sabendo que eu não trocaria aquilo por nada. "Eu queria conversar com você sobre uma coisa que envolve a minha namorada, inclusive."

Becky no mesmo instante aparentou despertar de vez, como se eu tivesse dito que assaltei o país mais bem protegido do globo terrestre e que um grupo terrorista agora estava atrás de mim.

"Se você tiver traído ela, saiba que eu não vou te acobertar, concordar com isso ou qualquer outra coisa que remeta ao sofrimento daquela insuportável da sua namorada."

Ergo uma sobrancelha, olhando Becky até o limite que a tela me permite.

"Achei que você e a Enola não se gostassem..."

"É, eu detesto ela, mas detesto traição ainda mais.", diz firmemente, se concertando na cama.

Traição era a pior destruição e a maior arma que alguém poderia usar contra a pessoa que se dizia amar. Porque não era amor, era posse, era falta de caráter, era apego, era qualquer coisa menos isso que chamam de amor. Se não dá responsabilidade afetiva, não há respeito e se não há respeito não há amor.

Simples assim.

Não sei porque existem tantas músicas que complicam isso. Alguns sentimentos eram simples... outros nem tantos. Há sentimentos que acarretam outros e são esses os mais difíceis de lidar.

"Não traí a Enola, Rebeca. Eu não faria isso, nunca.", digo com ainda mais firmeza.

"Hm. Acredito em você, sabe? Ninguém é realmente maluca ao ponto de querer ficar com você e ainda correr o risco de apanhar pra aquela lá.", indica com a cabeça um lugar aleatório. "Mas se não quer falar sobre traição, qual outro pecado capital você cometeu?"

"Não cometi nenhum, por enquanto.", me remexo na cama, sabendo que não seria nenhum pouco fácil convencê-la a fazer o que eu estava pensando. "Becky, eu preciso da sua ajuda pra uma coisa, mas, por favor, me deixa explicar antes, pode ser?"

Enmity [Enemies to Lovers]Wo Geschichten leben. Entdecke jetzt