Capítulo Quarenta e Três // Baby, kill your past

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Terça-feira.

Segurar o seu diploma em sua mão é o momento que seu coração explode, e por mais que algumas pessoas consigam pensar “me formei... e não sei porra nenhuma”, acredite em mim, elas sabem.

Pode ser bem pouco, mas sabem.

Esse é um momento importante e eu encarei cada pessoa da minha família quando recebi meu diploma. Com o choro na garganta e as lágrimas sendo seguradas no rosto, eu discursei perante dezenas e mais dezenas de pessoas me encarando. Eu discursei. Firme e profissional, como Amy discursou a 2 anos atrás em sua formatura. Eu discursei e discursei.

E quando achei que segurar o diploma fosse o maior sentimento que eu iria sentir aquele dia, vi Amy levantando da plateia e sendo a primeira a aplaudir. Encorajando as demais pessoas.

Eu a amava e a odiava, mas agora era mais amor do que ódio.

— Quem diria que a pirralha que perdia para mim no UNO se formaria com apenas 21 anos. — Miles comentou assim que passamos pela porta do quintal, onde Lennon e Nora organizavam os talheres sobre a mesa de carvalho.

Desde que Amy e eu nos casamos, nossas famílias concordaram em se unir todos os domingos ou em datas especiais, porque um casamento não deveria dividir as pessoas e sim multiplicar, e foi isso que as nossas famílias fizeram. Antes do casamento éramos seis... agora somos sete. Meu avô se foi, mas Nora e Yuri ocuparam seu lugar à mesa.

— Você não ganhava de mim no UNO, tio. Nunca ganhou.

— Já ganhei, sim... mas você estava doente de amor, sem nem querer procurar remédio na vida noturna.

— Por isso mesmo, eu estava vulnerável, então não conta.

Ele fechou a cara no mesmo instante quando percebeu que eu estava tirando os créditos da sua possível única conquista.

— Seu nome ainda estará escrito no tronco de uma árvore com uma cerra elétrica bem ao lado. — crispou os olhos para tentar me intimidar. — É bom dormir com os olhos fechados, sobrinha...

— Miles, deixe de coisa e venha aqui me ajudar. — minha avó esbravejou do outro lado do quintal. — Essa grelha não quer... grelhar.

— Já tentou ligá-la, mãe? — sorriu de lado com a pergunta, o quê zombadeiro fez minha avó respirar fundo para não gritar com ele. — Tudo bem, estou indo.

Limpei minhas mãos sujas de pão de alho no momento exato que ouvi um pigarro atrás de mim.

Meu tio desceu os olhos para o prato sobre a mesa, a cada vez que minha mãe colocava um pão de olho na taboa, eu roubava um pedaço. Acontece que eu já estava fazendo isso há... quase uma hora.

— Às vezes eu perco o controle...

— Às vezes?!

— Desculpa... — pedi com jeitinho, sabendo que ele não iria brigar comigo caso eu agisse de um jeito fofo.

O que caiu como uma luva.

— Tá bem... é o seu dia, hum? Pode comer quantos pãezinhos você quiser. — deu um sorriso e tirou algo da sua bermuda branca. — Eu sei, tá? Eu sei que é um dia feliz e tudo o mais, porém não posso deixar de te dar esse presente.

Ao erguer o colar, meus ombros caíram no mesmo instante.

— O colar do vovô... — segurei a correntinha de ouro e prata que ele sempre levou no pescoço e passei meus dedos por cada detalhezinho daquele objeto. — Por que você está com ele, Lennon?

— Porque ele te pediu para te entregar quando você se formasse. — explicou. — Lembra da carta que ele me deu?

— Sim.

Enmity [Enemies to Lovers]Onde histórias criam vida. Descubra agora