Capítulo Nove // History in half

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Domingo.

Se me lembro bem, Amy aprendeu a tocar violão aos onze anos. Aos treze, aprendeu a tocar guitarra e bateria. E desde então, não parou de tocá-los nem por um segundo. Havia dias questionáveis que ela não tocava, mas isso não durava muito, logo o som metálico da guitarra tomava conta dos meus ouvidos e voltava a me irritar.

No meu mundo, Amy não significava nada mais do que caos, barulho. Sempre foi assim. Sua existência me irritava, mas ela estava lá, constante, notável.

Havia uma semana que Amy não tocava nada, não falava nada, apenas... existia em silêncio.

O barulho e o caos que Amy causava me irritava, me tirava do sério, mas não havia nada pior do que o seu silêncio.

— Parabéns pra você... — minha mãe começou, adentrando meu quarto com um sorriso singelo. Sentei-me na cama e dei espaço para que ela fizesse o mesmo. — Bom dia, aniversariante.

— Bom dia. — coçei meu olho e encostei minha cabeça em seu ombro. — Que horas são?

— Seis horas e alguma coisa. Muito cedo para acordar em um domingo, não acha?

— Considerando o fato que eu não vou poder ir muito longe — indico minha perna engessada. —, é, muito cedo.

Minha mãe se endireitou na cama, sentando-se de frente pra mim. Notei que ela nem havia tirado o pijama ainda, o que significava que ela não havia saído para sua caminhada matinal.

— Tem alguma coisa te incomodando. — ela afirma. — Quer me falar o que é?

Jogo minha cabeça no travesseiro, encaro o teto e tento encontrar as palavras certas para descrever o que eu estava sentindo.

— Enola...

— Eu nem sei o que eu estou sentindo, mãe. Hoje é meu aniversário e tudo que eu sinto é... — paro. Não sei o que veria a seguir. — Escuta.

— Escutar o quê?

— O silêncio. — indico o ar. — Tem uma semana que esse silêncio tá aí, me irritando.

— Achei que você gostasse do silêncio. — ela diz. — Você sempre quis estar no silêncio, e agora você tem.

Não sei se é bem isso que eu queria.

— É, tem razão. — sorrio sem graça para a minha mãe, não me sentindo nenhum pouco melhor. Acabei deixando isso para lá. Remexer naquele sentimento não iria me fazer bem, tudo que eu teria que lidar, ficaria para depois.

Mais tarde, por volta das duas da tarde, a porta foi aberta – escancarada – e logo senti dois braços me apertando tão forte que eu juro ter sentido dois ossos se estalarem.

— Taylor... ar... — murmuro contra o peito da mais alta. Não consigo fazê-la me soltar. — Taylor, eu preciso de oxigênio aqui!

— Ah tá, desculpe. — me soltou um pouco, o suficiente para que eu pudesse respirar. Logo seus braços me agarraram novamente. — Feliz aniversário, atriz de araque!

Grunhi contra seu peito novamente, porém não reclamei dessa vez. Aceitei aquele abraço porque se eu reclamasse, ela me abraçaria mais.

— Agora, seu presente. — ergueu um objeto pequeno e fino em frente ao meu rosto. Eu nem tinha visto de onde ela havia tirado aquilo.

— Hm, o que será? — animo-me. Balanço o pequeno presente em minhas mãos. Pelo som que faz, eu chuto que seja algo duro como um perfume ou uma tiara. Só tenho que descartar essas hipóteses porque Taylor nunca dava presentes normais. Nunca. Ano passado, por exemplo, ela me deu uma soqueira. Uma soqueira. E eu nem sei dar um soco em alguém! E, é claro, teve aquela vez, no natal do mesmo ano, que ela me deu um quebra-cabeça de 100 peças. Até que achei legal, até que eu montei tudo e descobri que era uma foto nossa com a frase “use a soqueira, Enola... use a soqueira!”

Enmity [Enemies to Lovers]حيث تعيش القصص. اكتشف الآن