Imagines || Atletas ¹

33 - Marcelo Vieira (Twelve)

— Uma copa do mundo, 25 títulos só pelo Real Madrid, incluindo La Liga, Supercopa e a Champions... Realmente, vida, você conquistou tudo que qualquer jogador sonha em conquistar. — S/N beijou a bochecha do marido e ele apertou ainda mais a cintura dela, que estava sentada de lado em cima de seu colo no sofá da sala do casal.

Após quase 20 anos jogando futebol profissionalmente, o jogador começou a cogitar sua aposentadoria.

De tudo que um atleta imagina ou sonha, a aposentadoria é algo que sequer passa pela cabeça — pelo menos não tão cedo.

E era estranho para Marcelo começar a pensar sobre isso agora.

Passava um filme na cabeça do lateral esquerdo: As peladas na rua quando ele ainda era moleque e o futebol era apenas um sonho; O primeiro jogo como profissional; O primeiro gol como titular; A primeira taça que ergueu; A ida para a Europa; E, não menos importante: a maior derrota com o 7x1 em 2014 e a maior vitória logo em seguida, com o hexa na Copa do Mundo de 2018.

O futebol realmente era como uma montanha russa.

E tinham as realizações pessoais, também: o primeiro salário, a primeira casa, a primeira viagem internacional, entre as inúmeras outras coisas que obteve através do futebol.

O jogador nem percebera, mas já derramava algumas lágrimas sem sequer notá-las enquanto revivia os principais momentos da sua história com o esporte.

Marcelo era totalmente apaixonado por sua profissão, algo genuínamente admirável, como pensava sua esposa ao observá-lo em silêncio, cheia de orgulho do homem com quem se casou.

E não existiam dúvidas:

Quando se tratava de futebol, não era o corpo do M12 que falava mais alto, era a alma. Seu interior gritava e prontamente o seu talento atendia.

Inclusive, muitos costumam dizer que isto é, de fato, o quê designamos como dom.

Toda vez que entrava em campo, o tempo não existia para Twelve. O futebol o levava para outra dimensão. Um lugar cheio de energia, emoções, pressões...era como estar entre a paz e o caos. O desafio e o conforto.

Era um lugar onde havia satisfação, mas nunca a monotonia. Marcelo poderia facilmente permanecer lá para sempre. Mas, agora se perguntava se ainda conseguiria sentir essa sensação caso parasse de jogar.

Como poderia se acostumar sem ver a alegria dos torcedores após uma vitória ou a revolta dos mesmos com uma derrota?

Como poderia correr sem esperar que a adrenalina de sua jogada pudesse levar a um gol contra o adversário?

Como poderia lidar sem a impotência ou quaisquer preocupações diante de uma lesão?

Afinal, Marcelo saberia viver sem o quê por 20 anos fora seu tudo?

Porque era isso que o futebol representava para sua vida. Era tudo.

E o jogador não sabia se estava pronto pra dizer adeus.

— Só você pode decidir a hora de encerrar. — S/N disse como se pudesse ler os pensamentos de seu marido. — De qualquer forma, eu sei que irá tomar a melhor decisão. — A paranaense fez carinho na cabeça do atleta.

Estavam sendo quase 20 anos se dedicando a ser o melhor profissional que poderia ser. E era inegável o quanto Twelve se esforçava para tal. A sensação de dar tudo de si pela carreira era de longe uma das melhores sensações do mundo, mas ao olhar sua esposa, Marcelo pegou-se refletindo se ele havia se dedicado tanto como no campo à esposa e aos filhos.