54 - Rodrigo Caio

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O ano havia começado difícil para Rodrigo Caio, que soubera no início da temporada que só ficaria no Flamengo até o final do ano, já que o clube não tinha interesse em renovar o contrato após esse período de 12 meses.

Era uma surpresa previsível, sabe? Daquelas coisas que você sabe que podem acontecer, que até se prepara para que aconteçam, mas mesmo assim, quando realmente acontecem, você sente o baque.

Rodrigo sentiu.

Ele sabia que depois das inúmeras lesões, da idade batendo na porta e da queda no rendimento nos jogos — os quais sua presença foi se tornando cada vez mais ausente —, era de se esperar que o Flamengo buscasse renovar o elenco e quisesse vendê-lo.

Inclusive, essa "necessidade de renovação" havia sido um dos motivos pelos quais Marcelo Braz havia apontado durante a reunião para encerrar o contrato com o zagueiro.

Rodrigo sequer contra-argumentou. Apenas concordou com os termos do contrato pré-estabelecido, recebeu as merecidas gratificações pelo tempo de colaboração e realizou todos os outros trâmites burocráticos para assinar sua recisão com o Clube de Regatas do Flamengo.

....

Já era noite quando Rodrigo saiu dos últimos exames demissionais dentro do CT do Flamengo. Seu advogado permaneceu no Ninho du Urubu para acompanhar a revisão desses exames e finalmente encerrar o vínculo empregatício do jogador com o clube.

Absorto em seus pensamentos, Rodrigo chegou ao estacionamento ainda aéreo, sem que a ficha realmente tivesse caído de que agora ele não era mais jogador do maior time do Brasil.

Chegava a ser engraçado porque, para um cara que passou boa parte da vida torcendo pelo São Paulo F.C, de alguma forma o rival rubro-negro havia roubado o seu coração.

É, é isso que o Flamengo faz com as pessoas...

Quando você menos espera, você já está devoto ao manto sagrado. Maluco e obcecado pelo gigante carioca.

Antes de entrar no carro, Rodrigo olhou para frente, encarando a fachada do CT que estava há alguns metros de distância de onde o jogador estava.

Antes de entrar no carro, Rodrigo olhou para frente, encarando a fachada do CT que estava há alguns metros de distância de onde o jogador estava

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O brasão vermelho e preto, reluzente por sua iluminação noturna, engrandecia o Flamengo em meio ao anoitecer.

Rodrigo inevitavelmente lamentou não poder ficar mais. Sentiria saudades de viver esse sonho diariamente.

De chegar e falar com todo mundo, de reclamar pelo horário do treino, de zoar com os amigos e atarzanar a vida do técnico feito uma criança atentada...

De estar ali. Assim como sentiria saudades de jogar no Maracanã:

De ver o estádio lotado, vez ou outra com mosaicos; De ouvir o grito arrepiante da torcida a cada vez que saía um gol; De escutar os torcedores cantando alegres ou não; de sentir aquele energia surreal que aos poucos se apagaria de seu cotidiano.

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