zona de conforto

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O som da máquina furando a pele alheia era o único som a ser ouvido no estabelecimento naquela manhã. Arm estava acostumado com o silêncio de seu parceiro, mas naquele dia em especial, algo o incomodava profundamente.

Jumpol limpava o sangue que escorria do braço de seu cliente que choramingava com a dor que sentia.

— P'Off, podemos dar uma pausa? Está realmente doloroso hoje. - Suplicou o homem na cadeira, mas não recebeu uma resposta. - P'Off... - Insistiu.

O tatuador tinha uma veia saltando de sua testa, seu olhar cerrado e sobrancelhas comprimidas davam ao homem uma imagem não tão reconfortante.

— Se pararmos agora você só vai estar adiando o inevitável. - Ele não olhou nos olhos do seu cliente para responder, apenas prosseguiu com o desenho o que fez o desconhecido se dar por vencido, apenas respirando fundo e limpando o suor de sua testa.

Arm realizou o pagamento enquanto Off fazia a esterilização de seus equipamentos a espera do próximo cliente, quando o homem saiu da loja, o balconista encarou seu chefe com reprovação.

— Sabe o que eu acho, Jumpol.

— Eu deveria saber? - Ele continuava sem encarar ninguém nos olhos, apenas forçando sua mente a acompanhar seus movimentos rápidos de um lado para o outro.

— Que você tem razão sobre a tatuagem. Ela já está doendo, não adianta tentar aliviar por um curto período de tempo essa dor porque uma hora ou outra ela vai voltar, você só vai estar adiando o inevitável.

Off jogou sua luva fora e respirou fundo, ele se inclinou e começou a esfregar aquela maca preta encarando aquela mancha antiga que não sairia não importa quanto esforço ele colocasse na limpeza.

— Você brigou com ela, não foi?

— Arm, me deixe limpar.

— Ela não te respondeu ainda?

Então ele começou a colocar mais força em seu braço em cima daquela mancha, esfregou de forma insistente enquanto ouvia seu amigo o questionar sem parar.

— Essa merda de mancha não sai.

— Off. - Ele notou que seu amigo logo rasgaria o couro, então correu até ele e tentou segurar seu braço - Off, ela não vai sair. Para, cara, para.

Então Weerayut observou Jumpol começar a chorar, seus joelhos dobraram-se sob o chão e aos poucos sua mão que antes segurava o tecido com força o soltou. O homem cobriu seus olhos e se encolheu no chão enquanto soluçava e tremia. - "Era patético, ele era patético" - Martirizava-se.

Arm se levantou para fechar o estabelecimento e rapidamente voltou a se ajoelhar perante seu amigo, tocando seu braço enquanto o ouvia chorar:

— Vocês brigaram?

— Ela não me responde. - Sussurrou.

— Quantas mensagens você enviou?

Pergunta gatilho; ela fez com que Jumpol desabasse ainda mais, sem forças para responder. Arm no entanto sabia a senha de seu melhor amigo, portanto recolheu o celular e verificou: vinte e nove mensagens e cinco ligações não correspondidas.

— Puta merda, Jumpol. - Arm sussurrou, impedindo que o tatuador pudesse ouvi-lo.

Chansook conhecia Adulkittiporn a anos. Assim como Off, ele também não havia nascido na capital, mas sim no mesmo estado que Jumpol. Os dois se conheceram jovens e construíram uma amizade de muito apresso, mas por conta dos estudos, Arm se mudou. Anos após, coincidentemente ou não, seus caminhos se cruzaram novamente com a busca de Weerayut por um trabalho de meio período.

Quando nos Vênus, te juro a Marte - Offgun Donde viven las historias. Descúbrelo ahora