Atados

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— As vezes é necessário acabar com algumas coisas. Para que essas coisas não acabem com a gente, entende o que eu quero dizer?

Aquela voz suave sentada na escada dizia enquanto observava a fumaça subir. Suas mãos sujas de tinta fresca mostravam que a pouco ele estava ocupado, mas tirou um tempo para a visita que recebeu.

— Eu tenho inveja de você, Arm. Inveja de como você vê beleza na dor, e a transforma em arte, é um bom jeito de extravasar.

— Com certeza é mais saudável que esse cigarro que você fuma como se tivesse pulmões extra. - Chansook sorriu para seu melhor amigo, que desviou o olhar para o céu. A noite estava estrelada e quente, a varanda de sua pequena casa parecia aconchegante. - Mas é uma fuga, Jumpol. Você deveria parar de pensar em uma forma de escapar e dar um jeito de encarar o seu problema.

— Eu acho que não estou pronto para pegar um avião e encarar o rosto dela ainda.

— Mas sabe que isso é egoísmo da sua parte não sabe? Você não está mais apaixonado por ela está?

Off jogou seu cabelo para trás e suspirou, ainda tocando sua testa enquanto mantinha seu olhar fixo em seus pés.

— Não.

— Então o que te prende?

— Uma vida inteira ao lado dela, Arm. Eu não conhecia outro tipo de amor além do que ela me mostrou, não sei como agir diferente do que eu sempre fui. Sou refém de memórias, de momentos, sinto que ela me estragou. Sinto que se eu tentar de novo talvez eu seja o monstro da história.

— Tem medo de se tornar o que ela foi pra você se tentar de novo?

— Sim, Arm. Eu tenho.

— Como poderia? Você sabe que é errado. E você não está bloqueado emocionalmente, Off, você não tem medo de se machucar de novo, tem medo de machucar a próxima pessoa como foi machucado. Você não é como Irin, nunca vai ser.

— E se eu não souber como agir depois? E se eu repetir os mesmos erros porque não sei ser diferente?

— Então você vai tratar do seu psicológico para impedir que isso aconteça. E pessoas são individuais, Jumpol. Suas vivências serão outras, jamais poderá ser o mesmo em todas as suas relações. - Foi a vez de Arm respirar fundo, antes de colocar o braço ao redor dos ombros de seu amigo. - Sinto que você só está arrumando desculpas para sair da sua prisão porque se acomodou a ela. Me diz, P'Off... você sabe como é a sensação de se sentir livre? Já sentiu ela em algum momento?

As lembranças de Off sobre a noite que já anterior retornaram a sua mente. O beijo molhado embaixo no chuveiro, o abraço quente em meio as lágrimas salgadas, e o anseio silencioso pela insaciável vontade de proteger um ao outro; inconscientemente Jumpol sorriu.

— Já...

— E foi bom?

— Muito bom.

— Melhor do que esteve sentindo durante os dias com ela?

— ... Diferente.

— Então porque continuar lá, se você sabe que algo melhor te espera aqui? De uma chance para o novo, P'Off. Compre essa passagem e diga a Irin o que ela não quer ouvir.

— Arm... o que você faz quando sente que colocou seus problemas nas costas de alguém que já tem problemas demais?

— Eu sinto culpa, mas não adianta ficar parado esperando que isso alivie. Quando fiz isso me levantei e dei um jeito de mudar, óbvio que nunca vamos conseguir nos desvencilhar de todos os nossos traumas. Mas quando convivemos com alguém essa pessoa sabe que ao escolher você, também escolhe seus problemas. Basta você saber dosar cada um deles para que isso não fira quem se importa com você.

Quando nos Vênus, te juro a Marte - Offgun Onde histórias criam vida. Descubra agora