Família

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O tempo começou passar diferente após aquele acontecimento. Jumpol não chegou a contar para Atthaphan que sua mãe não pisava mais na sua casa jazia alguns dias, era uma conversa delicada que poderia abala-lo mais que o necessário levando em conta qual foi o gatilho para que a briga se iniciasse.

Por outro lado as coisas pareciam não ter mudado muito, levando em conta de que seu pai e ele já viviam sozinhos muito antes do homem pedir o divórcio.

Do outro lado da moeda, no entanto, havia alguém que assim como Jumpol também tinha um relacionamento familiar abalado, mas diferente do tatuador, não era com a mãe.

Ele pincelava uma tela em branco, tentando replicar o rosto do homem que estava lendo um livro deitado ao sofá, aproveitando o calor do sol que cobria seu rosto.

— Está ficando meio abstrato. - Tay comentou, fazendo Arm rir.

— Eu gosto de arte abstrata.

— Vai pendurar essa na sua parede também?

— Lá no meu quarto, para eu olhar pra ela sempre que acordar. - Ele se levantou do sofá e caminhou até Tawan para ver como estava o andamento da obra. - Já pensou em usar o pincel sujo?

— Vai borrar tudo.

— Não vai, tenta com as janelas. - Ele indicou e assim Tawan fez, surpreso com o resultado. - Viu? Fica bom em algumas ocasiões.

— Pensei que nossas aulas tinham acabado.

Arm sorriu e segurou o queixo do outro, roubando dele um selinho lento, com direito a um sorriso aberto no final.

— Não é a opinião de um professor, é a opinião de um parceiro que trabalha com isso.

— Tudo bem, continue me dando conselhos então.

— Pode deixar. - Ele passou o polegar na bochecha alheia. - Tinha tinta no seu rosto.

— Que conveniente. - Ele riu, voltando a pintar.

— Tay, seu pai ligou pra você hoje de manhã. - Comentou a caminho do seu bar, enquanto escolhia uma safra; - Faz dois dias que você está aqui, falou com ele?

O homem que até então pintava parou o que estava fazendo.

— Não.

— Por que não está falando com ele?

— Eu acho que só estou evitando uma conversa inevitável o máximo que posso.

— Que conversa?

— Sobre a minha mudança após a formatura. E como vai ficar a nossa convivência.

— Convivência que você diz é se vocês vão permanecer tendo contato mesmo sem estar sob o mesmo teto?

— Meu pai não parece feliz com as escolhas que eu tomei. Eu nunca escondi nada dele, a sexualidade, o curso que eu queria, os meus relacionamentos, as minhas amizades, a minha crença. Sempre tivemos uma relação sincera, mas muito frustrada.

— Sente que o melhor caminho seria ter seguido o que ele queria para atingir as expectativas dele?

— Eu não sei, eu gosto de quem eu sou hoje. Uma pessoa apaixonada por cultura, que conseguiu gerenciar bem cada parte da vida, tirando a familiar. Se eu não tivesse feito as escolhas que fiz eu não teria praticamente nada do que eu tenho hoje, e eu provavelmente seria infeliz.

— Mas com as escolhas que você fez, a sua relação com a sua família foi posta em jogo. - Comentou enquanto preparava um drink para ambos.

— É como colocar o coração e uma pena na balança. Fisicamente é impossível que ela esteja em equilíbrio, mas na representação mitológica é perfeitamente possível se o dono do coração for uma pessoa justa. Ainda tenho esperança de concertar as coisas com o meu pai, balancear os meus sonhos com os meus relacionamentos. Mas se eu não conseguir é isso... eu vou me formar e dar um último abraço de adeus, eu não abriria mão de tudo que eu construí por um único relacionamento.

Quando nos Vênus, te juro a Marte - Offgun Onde histórias criam vida. Descubra agora