Romeu e Julieta

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Enquanto a mente cheia martelava as palavras que ouviu com tanto apresso, Gun encarava as folhas do seu livro sem sequer assimilar uma única palavra. Com os alunos já fora de sala, Atthaphan apoiou a cabeça em seu punho e permaneceu observando o campus pela janela.

Ele se questionava previamente como alguém poderia expelir falas tão românticas e torna-las meramente amigáveis como Jumpol fazia com tanta destreza. A verdade era que nas últimas semanas, Atthaphan pensava em Off mais do que gostaria.

— Da próxima vez é você quem vai fazer a decapagem, estou todo sujo de terra. - Tawan resmungava enquanto secava suas mãos recém limpas. Mas ao encarar seu amigo perdido, ele parou de reclamar e se pôs a sentar-se na frente de Gun. - No que está pensando?

— Em algo que não gostaria de pensar. Você acha que um relacionamento onde uma pessoa tem dependência emocional da outra pode dar certo?

— Eu acho que depende muito do relacionamento. Se houver respeito, amor, carinho, competência emocional e coisas básicas em um relacionamento saudável eu acredito que a dependência emocional possa ser tratada e então reestabelecer os laços.

— E se a outra pessoa se aconchegar a ideia de ter alguém dependente dela por saber que pode mantê-la na sua vida por mais tempo?

— Isso é um pouco assustador não acha? Nesse caso deve acabar e não tem porquê voltar levando em conta que a pessoa vai permanecer sendo narcista perante a relação. Não tem essa de "pode dar certo", pois já deu tudo errado.

— E você acha que uma pessoa de fora pode ajudar?

— Talvez a enxergar que a pessoa tem dependência, sim.

— E se ela já souber?

— As pessoas acreditam que só porque alguém sabe que tem dependência emocional ela passa a saber que a vida dela vai ser a mesma caso não tenha a outra pessoa por perto, então a partir do momento em que você descobre basta terminar. - Tay suspirou - Mas não é bem assim, eu acho que o máximo que você pode fazer por uma pessoa que já sabe e permanece nessa relação é mostrar que existe um mundo bem melhor fora da bolha dela.

— Como?

— Fazer o dependente aos poucos perder o interesse na pessoa. Se você estivesse em um relacionamento assim eu provavelmente te levaria para lugares por horas e faria com que se esquecesse de olhar para o celular e esperar uma mensagem do cara. Então quando voltássemos eu teria uma conversa como "Nunca vi você tão feliz quanto hoje".

— Mas e se enquanto eu estivesse com você eu nunca pegasse no celular independente da situação e me importasse apenas com o seu bem-estar?

— Então eu pensaria que está apaixonado por mim.

Phunsawat franziu o cenho esperando que Tawan risse de sua piada. Mas ele permaneceu observando.

— Tay, isso é sério.

— Mas eu estou falando sério. Eu não sou um psicólogo que entende desse tipo de coisa, mas tudo que eu sei sobre dependência emocional me leva a crer que a cabeça da pessoa está sempre ligada a outra, ela não se sente completa quando não está com o par. Então ela nunca doaria tanto seu tempo por alguém se esse alguém não significasse muito para ela.

— Isso é impossível em duas semanas e meia.

— Se apaixonar pode levar a cerca de 8,2 segundos. É diferente de amar alguém.

— Quando você tirou tempo livre para fazer esse tipo de pesquisa?

— Quando fui escrever o artigo sobre "enamorados da pré-historia a renascença" usando como base aquele blog que o professor anexou sobre o casal do neolítico.

Quando nos Vênus, te juro a Marte - Offgun Where stories live. Discover now