Perdido

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Jumpol tão pouco passava tempo em sua casa, era quarta-feira e ele ainda não havia visto sua mãe chegar, pois quando ela entrava ele já estava dormindo, e quando ela saía ele ainda estava acordando.

Na maior parte do dia ele ficava ao lado de Nan. Como agora no final da manhã, onde enquanto Jumpol lia seu livro e fumava, seu amigo estava sentado ao seu lado preparando a aula para o dia seguinte. Ambos estavam em uma praça, tendo contato com a grama e o dia ensolarado que queimava a pele.

— Faz três dias seguidos que você está lendo esse livro. Do que ele fala?

— De amor.

— Um romance?

— Não é uma história de amor específica. É só... - Ele deu uma olhada na capa e contra-capa. - Como o amor funciona eu acho, na visão de Platão.

— Filosofia do amor, essa era uma das minhas matérias favoritas na faculdade.

Off fechou seu livro e olhou para Nan enquanto tragava:
— O que você acha do amor?

— Eu concordo com Schopenhauer. - Nan também colocou suas anotações de lado e sorriu: - Eu acredito que o amor é um mal necessário.

— Um mal necessário?

— Para Schopenhauer a crença de que uma pessoa só poderia amar de verdade uma vez na vida era idiota. Ele também batia na tecla que se um relacionamento acaba você deve partir para outro sem culpa, e defendia que o amor era terrível, instável, dilacerante, mas fundamental. Só não poderíamos sofrer tanto por ele.

— Como algo tão ruim pode ser considerado fundamental?

— Não é necessariamente ruim. Só não é perfeito, ele vai acabar te machucando porque você está lidando com um ser humano como você, imperfeito. Então ele tem que ser imperfeito, caso contrário não é sincero. Porém isso não significa que você tem que aceitar qualquer coisa, não pode passar dos limites.

— Isso de não sofrer tanto parece uma ideia de amor irreal pra mim. Em um relacionamento você não tem que fazer sacrifícios? Aguentar algumas coisas?

— Nenhum relacionamento precisa ultrapassar os limites de segurança da sua saúde mental. Você pode abrir mão de algumas coisas sim, contanto que elas não interfiram na sua essência. Você não pode se perder em outra pessoa, sabe? - Nan jogou isso para que o vento levasse, Jumpol se sentiu atingido e reflexivo, o que o levou a se perguntar em voz alta:

— O que você vai pensar se eu voltar com a Irin?

Nan ficou em silêncio, e um sorriso fraco e quase inexistente surgiu em seu rosto.

— Qualquer um ficaria infeliz com a infelicidade do seu amigo.

— Então você ficaria feliz?

— Eu ficaria infeliz.

Ele não precisou dizer mais nada. Jumpol apenas acenou, pois havia entendido bem o que lhe foi apontado.

Depois disso abriu seu livro novamente e deu a última tragada em seu cigarro antes que ele terminasse, Off notou que naqueles três dias havia fumado uma carteira e meia e seu cenho franziu-se ao pensar sobre isso. Estar de volta lhe causava uma ansiedade absurda, tudo a sua volta parecia dar pavor. Ficar em casa era claustrofóbico, e ficar fora o fazia sentir que ele estava fugindo de problemas que deveria resolver.

Foi quando seu celular vibrou, já era meio-dia. Nan o encarou confuso enquanto o homem desligava seu alarme.

— Tem algum compromisso?

— Tenho sim, só um minuto. - Off foi até o contato do homenzinho distante e ligou para ele, dessa vez apostou em uma chamada de vídeo que foi aceita.

Quando nos Vênus, te juro a Marte - Offgun Where stories live. Discover now