Briga! Briga! Briga!

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Augusto saiu da penitenciária e comprou dois buquês de rosas vermelhas. Dirigiu até o apartamento de Sophia que abriu a porta após olhar pelo olho mágico.

— Olá, Soph! — Disse empolgado e ela lhe forçou um sorriso. — Eu sei que não avisei que vinha, mas precisava ver como você está.

— Estou bem, Guto. — Deu passagem a ele, estranhando o fato dele ter dois buquês em mãos. — Do que se trata?

— Micael te mandou. — Estendeu um dos buquês. — E disse que te ama.

— Me mandou? — Sorriu e pegou as rosas. — Eu duvido, já que ele está preso, isso aqui é você tentando levantar meu astral. Obrigada, eu amei.

— Eu fui visitar ele hoje, lá em Niterói. — Sophia ficou surpresa. — Ele realmente mandou dizer que te ama, isso eu não inventei.

— Ele terminou comigo e agora mandou dizer que me ama? — Bufou e foi atrás de um jarro com água. Augusto a seguiu. — Nossa, como ele é ridículo.

— Ele te ama e por isso terminou com você, pra não te prender a ele sei lá quantos anos. Eu tenho certeza que você entende isso. — Ela ergueu uma sobrancelha e logo voltou pra sala acompanhada do amigo.

— Como ele está?! — Sentou-se e soltou um longo suspiro esperando as piores notícias. — Micael é todo fresco, não consigo imaginar ele na cadeia.

— Sinceramente, ele parece muito bem. Fiquei até surpreso. — Augusto deu risada e se sentou, ainda segurando o segundo buquê. — Eu falei isso pra ele, esperava vê-lo com a cara quebrada, mas não, estava bem.

— Que horror, Augusto! — Arregalou os olhos, mas em seguida riu. — Que bom que está bem, na medida do possível né, ele só vai ficar bem de verdade quando sair de lá.

— Levei pra ele uma foto de vocês. — Sophia o olhou surpresa e então sorriu. — Vai saber quantos anos ele vai ficar preso. Levei pra ele não esquecer sua cara.

— Animador, Guto. — Deu uma risadinha triste, acompanhada de um longo suspiro. — Sinto falta dele. Das nossas brigas idiotas, de quando a gente estava bem, dos estudos juntos, dos rolês com a galera. De tudo.

— Eu imagino o quão difícil deve ser. — Se levantou e deixou o buquê no sofá que estava, caminhou pra sentar ao lado da loira e pegou sua mão. — Mas vai dar tudo certo, é só uma fase ruim, quando a gente menos esperar, ele vai estar de volta.

— É sim, vamos ter fé. — Fungou e decidiu mudar de assunto. — São pra Samantha? — Puxou uma das mãos e apontou pras rosas iguais as suas.

— São sim. — Sorriu e voltou pra perto de suas flores. — Eu parei pra comprar pra ela quando estava voltando. Sam anda muito estressada, aí eu comprei pra você também. — Soph ficou de pé. — Eu vou indo, Soph. Passei realmente só pra ver como você estava.

— Obrigada pela visita e pelas flores. — O acompanhou até a porta. — Espero que tudo fique bem com a Sam, vocês combinam.

— Fala isso pra ela. — Deu risada e em seguida balançou a cabeça. — Qualquer coisa liga, sabe disso né?! — Soph assentiu. — Fica bem! — Lhe deu um beijo na bochecha e saiu rumo a casa da sua quase namorada.

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Com o passar dos dias, Micael estava cada vez mais enturmado com o grupinho que agora pertencia. Gil tinha feito dele braço direito com apenas um mês que havia chegado.

— Micaela, vai dizer a gente o motivo de estar aqui? — Gil perguntou pela décima vez, Micael sempre desconversava, tinha vergonha.

— Estupro. — Disse com um suspiro e careta, mas Gil riu. — Não é engraçado.

— É que você nao tem cara de estuprador. — Deu de ombros. — Olha o Bruno. — Apontou pra um rapaz com cara de maníaco que tinha sentado na cama da esquerda. — Ele sim é um estuprador. Ele pegou a filha da mulher dele, a garota tem quinze anos.

— Que coisa horrível! — Encarou Bruno horrorizado. — Eu não fiz isso, nem cheguei perto.

— E ele diz que a garota não foi a única, mas também não fala quantas já rodaram na mão dele.

— Certas coisas um homem não conta. — Bruno disse e deu uma risada. — Mas e você, me conta o que fez com a vagabunda?! Ela gritou? Se debateu? Eu adoro quando elas tentam lutar. — Parecia sentir prazer em pedir os detalhes e imaginar.

— Fala sério, vai se tratar irmão! — Bufou e viu Bruno se levantar irritado em sua direção. — Doente de merda!

— É o que você disse aí, cuzão?! — Enfiou o dedo na cara de Micael. — Repete!

— DOENTE DE MERDA! — Gritou na cara do bandido e levou um soco. — Eu vou arrebentar você! — Se recuperou e voou pra cima de Bruno.

A briga começou e com ela a algazarra dos presos. Eram gritos de todos, até dos que estavam em outras celas.

Dois oficiais chegaram pra tentar conter a bagunça. Deram ordens, mas os dois estavam tão ocupados trocando socos e pontapés que ignoraram os agentes. A certa altura, Micael estava em cima de Bruno.

Um dos agentes foi por trás e tentou pegar Micael e imobiliza-lo, mas num surto de adrenalina, o moreno se desvencilhou e acertou um soco em quem tentava segurar, sem saber que se tratava de um guarda. Então ele parou.

— Me desculpa, eu não sabia... — Foi interrompido, o guarda puxou o cassetete e lhe acertou diversas vezes.

— Desculpa é o caralho. — Foi só o que ouviu enquanto apanhava. Foi levado pra solitária quando o agente cansou de bater, ninguém se intrometeu.

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Uma semana depois, Augusto foi avisado pelo advogado que Micael estava na solitária e ficou um tanto desesperado, Sophia vivia pedindo informações, mas como ele diria aquilo a ela?! Então pela primeira vez ele escolheu ocultar algo de Sophia, não havia necessidade de fazê-la sofrer ainda mais.

Micael passou duas semanas na solitária, mas tinha a sensação de que foi mais de um mês. Foi retirado apenas porque havia chegado o dia de sua audiência, e só descobriu isso quando foi levado pro banho e vestiu uma roupa limpa, afinal, de branca sua camisa não tinha mais nada.

Foi algemado e levado ao transporte com três policiais armados fazendo escolta. Quando chegou, na entrada do tribunal, viu Sophia, Augusto e Arthur. 

Sophia estranhou a fisionomia de Micael. Estava claramente mais magro, parecia machucado também, tinha os olhos fundos. Sorriu quando seus olhos encontraram o azuis de Sophia, mas não teve tempo de dizer nem mesmo "oi". Foi puxado bruscamente pra dentro pelos policiais que o guiava.

Aquela NoiteWhere stories live. Discover now