A culpa

243 24 18
                                    

— Você perdeu o juízo. — Afastou a loira depois de um tempo aproveitando o beijo roubado. — Sophia!!

— Não faz essa cara de santo. — Rolou os olhos e se afastou mais um pouco, cruzando os braços. — Você aproveitou bastante antes de me empurrar.

— Eu fiquei sem reação! — Resmungou. — Micael é meu melhor amigo, isso está errado demais.

— Ué, você não veio aqui saber da minha vida pra fazer fofoca pra ele? — Ergueu uma sobrancelha. — Agora você sabe, chega lá e conta.

— Mas é lógico que eu vou contar. — Levou as mãos a cabeça. — Só que você devia pensar um pouco nele, eu sou o único que se importa o mínimo, eu sou o único que o visita. E você fez um negócio que vai fazer ele ter raiva de mim pra sempre e ficar ainda mais sozinho naquele inferno.

— Ele não vai ter raiva de você pra sempre. — Soltou uma risadinha debochada. — Tenho certeza que você vai deixar claro que fui eu a culpada. — Caminhou pra cozinha. — Sabe, acho que você gostou.

— Ah, eu gostei? — Respondeu com certo deboche ao segui-la.

— Me parece que está aqui esperando por mais. — A loira se debruçou na meia parede que tinha na cozinha. — Só está pensando se vale a pena ou não a briga que vai encarar com seu amigo. — Augusto a olhou com os olhos inflamados de desejo. Sophia ainda estava debruçada e seus seios pareciam saltar da blusa de ginástica. — Eu posso garantir que vale.

— O que deu em você? — Balançou a cabeça tentando afastar a nuvem de pensamentos impróprios que teve. — Parece que surtou.

— Meu ex namorado foi preso há mais de três meses. Uma mulher tem desejos. — Deu de ombros e então saiu da meia parede e foi buscar água. — Mas eu entendo que talvez seja um pouco demais pra você. — Retirou a blusa e ficou apenas de top e calça legging. — Calor.

— Eu vou embora. — Se apressou pra fugir e Sophia não correu atrás, ficou na cozinha bebendo água. Ouviu a porta bater, mas tinha certeza que ele voltaria. Deixou o copo na pia e então caminhou pra sala, ainda sem a blusa.

Recomeçou sua série de exercícios e foi interrompida por Augusto, cerca de dez minutos depois. Tomou um susto quanto o viu entrando com tudo no apartamento. Não disse nada e a puxou pra um beijo.

Augusto tinha um metro e setenta e cinco de altura, pesava oitenta quilos. Não era musculoso, mas estava longe de ser apenas magro. Branco, com cabelo castanho e olhos cor de mel, usava uma barba baixa que ninguém lembrava de um dia o ter visto sem. Óculos completavam o visual do programador.

Não era o tipo de Sophia, mas era o que tinha naquele momento e sabia que conseguiria irritar muito Micael com aquilo, então ela foi até o fim.

Conhecia Augusto desde que começou seu namoro com Micael, anos antes. Haviam se conhecido aos dezesseis, por um aplicativo de namoro que nenhum dos dois acreditava que fosse encontrar alguém. Eram quase quatro anos de namoro que tinham sido jogados no lixo.

Guto tentou deixar Micael fora de sua cabeça pelo menos naquele instante, enquanto entrava em Sophia. Aquela altura estava nua na cama enquanto ele colocava a camisinha.

A loira de cara sentiu uma tremenda diferença, Micael era muito melhor no que fazia, mas Guto também tinha seu mérito e quando conseguiu expulsar Micael igual Augusto tinha feito momentos anos, ela aproveitou aquele sexo.

Por fim, os dois caíram na cama, ofegantes e incrédulos de que realmente tivesse rolado. Nenhum dos dois dizia nada. Sophia sorriu e se levantou, em silêncio. Foi até o banheiro e jogou uma água no corpo.

— Se quiser tomar um banho. — Apontou pra trás. Estava com a toalha enrolada em seu corpo. — Não vai deixar nada mais estranho do que já está. — Mexeu no armário e tirou de lá uma toalha limpa.

Augusto era apenas culpa. Oitenta quilos de culpa. Se lavar não adiantava nada, precisava ir embora dali. Fechou o chuveiro e se secou o máximo. Enrolou a toalha na cintura, agora constrangido de ficar nu na frente de Sophia e foi em busca das suas roupas.

— Não precisa agir como se tivéssemos cometido um crime. — Disse da penteadeira, escovava os cabelos. Se virou pra encarar Augusto enquanto se vestia.

— Pra mim foi um crime. — Disse com pesar, após colocar a cueca, jogou a toalha no ombro e vestiu a calça. — Onde eu penduro isso aqui? — Perguntou a loira que se surpreendeu, comparando novamente com Micael que teria jogado a toalha na cama.

— Pode pôr no banheiro. — Observou ele assentir e ir guardar a toalha, voltou e vestiu a camisa. Penteou os cabelos com os dedos. — Não seja dramático, não foi um crime.

— Meu amigo está no presídio pagando por um crime que eu duvido que cometeu. Apanhou pra cacete, come aquela comida terrível todo dia, você sabia que ele me disse que tem bicho na comida as vezes? Micael parece um palito de tão magro. Nunca o vi daquele forma. Ele me pede um favor e eu vou lá e estrago tudo. — Sentou na cama, no auge da culpa. — Como que eu vou contar essa merda pra ele?

— Não conta, quem aqui está te obrigando? — Ficou de pé e deixou a escova na mesa. — Aliás, alguém aqui te obrigou a alguma coisa?

— Não, você sabe que é gostosa. — Ergueu o olhar pra ela. — Só se eu fosse viado pra sair daqui e ir embora.

— Tá legal, eu sou ex namorada, o próprio Micael terminou comigo e você sabe. E se ele não tivesse feito, eu teria, ou você acha que eu vou namorar um estuprador?

— Ele não é um estuprador.

— Mas comeu o cu daquela vagabunda. — Rebateu na hora e Guto ficou em silêncio. — Ele pode até estar passando por uma barra lá dentro e eu sinto muito, mas porra, ele me traiu Augusto.

— E você me usou pra atingir ele. — Constatou baixinho. — Ele é um irmão.

— Meus parabéns, você comeu a ex namorada do seu irmão. — Aplaudiu, já cansada daquele drama. — O que está feito não pode ser desfeito, não adianta se sentir culpado. Aliás, devia adicionar a Samantha nessa sua lista de culpa.

— Samantha não é minha namorada. — Respondeu baixo. — Eu não vejo razão pra me sentir culpado por ela.

— Guto, eu acho melhor você ter sua crise de consciência em casa. — Disse seca, realmente estava cansada. — Qualquer coisa você me liga depois se quiser transar de novo, mas sem essa ceninha de menino culpado.

— Até mais, Sophia. — Pegou os óculos e saiu apressado do apartamento. Em que buraco tinha se enfiado, precisava contar ao Micael.

Aquela NoiteHikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin