Festa de arromba

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— O que será que vão obrigar o Micael a fazer? — Arthur disse quando os três já estavam sozinhos. Ainda em choque. — Ele vai entrar numa roubada.

— Tomara que não seja preso junto com eles, vai ser difícil explicar e aí adeus condicional. — Laura caminhou e abraçou o namorado. — Mas temos que agradecer muito a ele, só Deus sabe o que teria virado isso aqui se ele não os conhecesse.

— Será que iam realmente me estuprar? — Sophia alisou a barriga redonda e pequena, tinha terror nos olhos. — Que situação horrorosa.

— Eu não duvido, o pessoal que estava na cela com Micael eram estupradores mesmo. — Arthur suspirou. — Que situação horrorosa. Como foi que tudo aconteceu, Soph?

— Eu vim pra chamar a Laura pra um passeio no shopping, tenho umas coisinhas do bebê pra comprar e queria também contar que é um menino. Estava parada aqui em frente, procurando seu número na agenda do celular. Foi tudo tão rápido, quando dei por mim o tal Gil estava com a arma na minha cabeça.

— Que situação desesperadora. — Arthur a puxou pra um abraço. — Mas você está bem?

— Fora esse susto gigante e o tapa na cara... — Deu de ombros, pelo menos até Laura ver sua roupa suja de sangue, era bem pouco, mas ainda assim, a mancha vermelha estava ali. — Que cara é essa?

— Vamos ao hospital. — Puxou a loira pela mão, já chamando um carro por aplicativo. — Você está suja de sangue, Soph.

— Eu o quê? — Arragalou os olhos e começou a procurar. — Não sinto dor alguma, isso não é estranho?

— Que tal irmos de uma vez ao invés de ficarmos aqui parados? — Arthur disse alto. — Mesmo que não sinta nenhuma dor.

E assim os três foram para o hospital descobrir se era grave ou apenas mais um susto.

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— Posso saber pra onde é que estão me levando? — Micael estava dentro do carro, com medo de que a polícia os parasse e acabasse encrencado novamente. — Eu não quero me meter em confusão.

— Está rolando uma festinha no morro pô. — Gil comentou enquanto dirigia. — Churrasco e cerveja liberado. Pessoal tá todo lá. Murilo, Adeílson, Jackson...

— Essa cambada está toda solta e não valorizam a liberdade! — Reclamou. — Vão acabar em bangu novamente.

— Larga de ser medroso porra! — Bruno gritou. — Não estamos levando você pra cometer crime nenhum! Relaxa e curte a vida, chatão.

— Aqui, precisava mesmo ter batido na Sophia? — O moreno ignorou a fala de Bruno e se concentrou em Gil. — Sério, ela está grávida!

— Grávidas apanham na cara e nas pernas! — Gil soltou num tom bem humorado. — Você devia ter acabado com a raça daquela vagabunda, ela te abandonou no seu pior momento pô. Não vem ficar com peninha.

— Eu não ligo mais, já tenho até outra namorada!

— Olha a Micaela gente, tem emprego, namorada, casa e amigos. Que lindo, uma vida toda estruturadinha.

— Para de debochar, Gil. — Micael deu risada. — Eu estou sim tentando reconstruir minha vida, e se eu não for preso hoje, vou esquecer que vocês me obrigaram a estar aqui. — Olhou o carro subindo pelas ruas da favelinha.

— Mal agradecido, você da sorte que eu te considero demais, Micaela, senão você já tinha levando muita surra pra aprender a parar de reclamar. — Sentiu o tom de ameaça e então ficou calado. Não era louco de ir contra Gil, nem na cadeia, muito menos fora dela.

O carro parou e os quatro saíram, continuando a subir por uma escadaria. Aquilo não parecia correto, e o medo de Micael ficava mais aparente a cada degrau que pisava.

Muitos degraus depois, chegou onde a festa acontecia. Som alto com um funk pesadíssimo, cheiro de churrasco, cerveja e erva. A fumaça era tão densa que até mesmo que não fumava estava doidão. Num canto mais reservado alguns usavam cocaína. Mulheres nuas dançavam pra homens com fuzis como se suas vidas dependessem daquilo.

E dependiam.

— Que tipo de festa é essa hein? — Gritou mais alto que o som.

— Minha festinha, aqui você pode fazer o que te der na telha. — Gritou de volta. — Pega uma puta e vai ser feliz.

— Não quero uma puta, já te disse que tenho namorada. — Seguiu bancando o chato.

— Como você é certinho, eu não sei porque é que gosto de você. — Rolou os olhos e caminhou pra dentro. — ABAIXA O SOM! — Gritou e logo alguém correu pra obedecer. — Senta aí. — Aquela altura, Bruno e Mosquito já estavam em outra área, curtindo. Apenas Micael estava perto. — Tem certeza que não quer nenhuma delas?

— Por que aquela ali está em uma cela? — Apontou pra moça assustada, essa estava vestida. — Ela não quer estar aqui.

— Você sabe bem qual é o meu negócio não é? — Ergueu uma sobrancelha ao amigo. — Recebo encomendas e então quando encontro uma mulher do jeito que me pediram, eu as entrego.

— Ou seja, tráfico de mulheres.

— Tráfico internacional de mulheres. — O corrigiu. — Você não imagina o quanto pagam por essas beldades brasileiras mundo a fora. Aquela sua amiga vale um dinheiro legal! — Falou novamente. — Até a sua ex-namorada. Isso seria uma vingança boa hein?! A gente vende ela pra algum lugar bem distante. Turquia? Itália? Nova Zelândia?

— Para de falar essas coisas, deixa a Sophia em paz. — Suspirou. — Sinceramente, eu não me sinto bem aqui.

— Vamos parar de falar isso então. — Ergueu as mãos e logo chegaram duas cervejas pra eles. — Vamos só conversar sobre a vida, como sempre fizemos.

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— Gente, e aí, como a Sophia está?! — Augusto chegou no hospital horas depois. Laura e Arthur só avisaram a ele quando tiveram notícias dos médicos. — E o bebê?

— Fica calmo, como dissemos pelo celular, foi tudo um grande susto! — Arthur contou. — Houve um sangramento de escape, mas nada que prejudique os dois. Sophia foi medicada e já já vai ter alta.

— Que merda aconteceu?

— Um assalto. — Não queria entrar em detalhes. — Nós tomamos um baita susto, mas como eu disse, eles estão bem, você só tem que levar a Sophia pra casa e fazer com que ela descanse.

— Olha ela vindo aí. — Laura avisou quando viu a amiga caminhar apoiada no médico. — Parece grogue.

— Meu amor! — Augusto foi até ela e a amparou. — Ela está mesmo bem?

— Sim, está tonta por conta do calmante, ela estava bastante nervosa por causa de um tal de Micael, não parava de perguntar por ele. E então, a sedamos. — Entregou o papel da alta ao marido. — Leve-a pra casa e a deixe descansar. Acordará novinha em folha. Qualquer sintoma adicional, não hesite em voltar! — Os três assentiram e caminharam pro estacionamento.

Já no carro, Sophia foi afivelada no banco da frente, e o casal estava atrás.

— Quando é que vão me contar o que o Micael tem a ver com a história? — Disse levemente curioso. — Pra Sophia passar mal por ele, imagino que seja peça importante.

— Os bandidos que assaltaram o restaurante eram colegas de cela do Micael. — Guto arregalou os olhos surpreso. — Eles o levaram.

— Como assim? O levaram pra onde?!

— Não sabemos, o cara mandou ele ir e pronto. Não tivemos mais notícias. — Arthur suspirou. — Estou morrendo de medo de que façam com que Micael perca a condicional.

— Só me faltava essa. — Guto balançou a cabeça. — Querem ir lá pra casa? A gente aguarda notícias juntos.

— Pode ser sim, não é como se fôssemos abrir o restaurante hoje depois de tudo o que rolou. — Laura se aconchegou em Arthur e o restante do caminho foram em silêncio.

Aquela NoiteWhere stories live. Discover now