Diga a ele que sim

230 22 11
                                    

Depois que Gil chegou á penitenciaria a vida de Micael ficou muito mais simples. Não entendia o motivo de Gil gostar tanto dele, mas agradecia mentalmente sempre, por ser um dos amigos mais próximos de um fodão dali. 

Quase dois meses depois, sem receber nenhuma visita, Micael foi surpreendido pelo aviso de que tinha uma. Foi encaminhado até o grande galpão, parecido com um refeitório escolar, igual do presídio anterior. 

— E ai?! — Augusto disse animado ao ver o amigo. — Aqui é dificil demais de entrar, cê é loko!

— Eu achei que tinha esquecido que eu existo. — Apertou a mão do amigo e um breve abraço rolou. — Faz muito tempo. 

— Esqueci nada, eu tive que fazer outra carteirinha e pra entrar aqui é a maior luta, tem noção que eu cheguei meia noite na fila pra conseguir entrar aqui agora às dez? — Micael arregalou os olhos. — Se foder, vai pra um lugar fácil, arrombado. 

— É ruim hein, agora eu estou vivendo uma fase boa aqui. — Deu de ombros e foi a vez de Augusto arregalar os olhos. — É serio, acho que o pior já passou. 

— Micael, você está num presídio, não tem fase boa em um presídio. — O moreno deu uma leve risada. — Fala sério!

— Guto, se você soubesse o que eu já passei aqui, concordaria que agora eu vivo no paraíso, mas eu não vou gastar nosso tempo de visita contando pra você o quanto eu apanhei. — Observou Augusto sorrir. — É sério que você quer saber disso? 

— Deve ser no mínimo interessante. 

— Eu vou deixar esse assunto pra quando eu sair e estivermos em rodinha conversando. — Viu o amigo dar de ombros. — Enquanto isso você me conta como estão nossos amigos e a Sophia. 

— Sophia eu não tenho visto, ela se afastou de todos nós. — Não tinha mais nenhum traço de humor na expressão de Micael. — No dia da sua audiência, ela inventou de ir conversar com a mulher.

— A Caroline? — Balançou a cabeça negativamente. — E você não impediu ela de fazer uma merda dessa? 

— Alguém impede a Sophia de algo? — Debochou e viu Micael rir. — Sophia foi falar com a mulher, a chamou de vagabunda, as duas bateram boca na frente do tribunal. Caroline gritou na cara da Sophia que era uma chifruda. O clima esquentou. 

— Mas que merda! Essa mulher me odeia tanto e eu nem sei o motivo, queria ter tido a chance de conversar com ela dois minutos, só pra ver o que ela diria. — Suspirou e Augusto o encarou por um instante. — Que foi?

— Você forçou a mulher e não sabe o motivo dela te odiar? — Deu risada. — Fala sério, Micael.  A não ser que você tenha voltado a achar que é inocente, nesse caso me avisa pra eu também achar. 

— Você não tem opinião própria, amigo? — Brincou. — No fundo você acha alguma coisa, não precisa fingir que não. 

— Nunca achei você culpado e sempre achei maluquice você se declarar assim sem sequer tentar se defender. — Micael suspirou. — Mas, você é adulto, sabe o que faz. Arthur abriu um restaurantezinho, junto com a Laura. Inaugurou semana passada, é um sucesso. — Mudou o assunto.

— Mas que maravilha, Arthur vem querendo isso há tanto tempo. — Uma notícia boa de verdade era o que precisava. — E com a Laura ainda, eles vão casar? 

— Duvido, eles só namoram. — Os dois deram uma risadinha. — Aquele ali não vai assumir um casamento nunca. 

— Olha quem fala?! Você enrola a Samantha já quase um ano, não assume nem que namora.

— Mas eu não namoro com ela, eu fico com ela. — Deram mais risada. — Namoro é algo muito sério, casamento então. — Fez uma careta. — Isso aí é só pra quando se tem certeza de que está com a pessoa certa.

— Eu costumava ter essa certeza. — Ficou triste ao falar. — Agora, a única certeza que eu tenho é que vou morrer sozinho.

— Para de drama, porra. — Se recostou na cadeira dura e riu da cara do amigo. — Vai morrer sozinho é o caralho. Não duvido nada que Sophia vai estar na porta desse presídio quando você for sair.

— Eu vou ser um estuprador condenado, fichado pra sempre. Vou ter dificuldade com emprego e as pessoas vão me olhar torto por onde eu for. Não tenho nada a oferecer pra Sophia.

— Ah, ela pode te sustentar. — Implicou. — Quer saber? Não vou mais me meter nos problemas de vocês. Daqui a sei lá quantos anos, vocês se entendam.

— Pode passar no apartamento dela para ver se está tudo bem? — Augusto fez uma careta. — É a última vez que peço, prometo.

— Me mete nos seus rolos mesmo. — Balançou a cabeça. — Última vez, não que eu não me importe com a Sophia, mas é que fica um climão terrível e a Samantha surta.

— Ela tem ciúmes do não namorado dela é? — debochou.

— Debocha mesmo, que aí eu não vou lá ver a Sophia e não venho mais aqui. — Deu risada. — Eu sei que sou a única pessoa que vem te ver. Inclusive, devia falar com a sua mãe.

— Que mãe o que, não começa com isso. — Ficou levemente irritado. — Vamos ver quantos anos eu tenho que ficar sumido até ela se dar conta de que tem algo errado.

— Você merece um prêmio de ser humano mais dramático. — Bufou. — Eu não te aguento, juro.

Os dois conversaram um pouco mais sobre como as coisas estavam do lado de fora, até que foi anunciado o fim da visita e Micael voltou pra cela.

.
.
.

Augusto nem passou em casa, foi direto até o apartamento de Sophia cumprir o que havia prometido.
Bateu na porta várias vezes, não era mais interfonado, Sophia havia liberado sua entrada.

— Oi, Guto. — Abriu a porta empolgada. Usava uma roupa preta colada e o cabelo amarrado num rabo de cavalo. Sua testa brilhava suor e a respiração era ofegante. — Não repara, estou fazendo uns exercícios, andei relaxando bastante nas últimas semanas.

— Está ótima pelo que vejo. — Entrou e fechou a porta, Sophia correu de volta a sala, onde acompanhava a mulher do vídeo que tinha colocado na televisão com polichinelos. — E muito bem disposta.

— Preciso reagir e seguir minha vida, chega de ficar deprimida pensando no chifre que levei. — Disse com um sorriso que surpreendeu o amigo. — Veio aqui falar do Micael, não é? — Parou o exercício e o encarou. — Só me procura pra isso.

— Nada a ver, eu vim ver se estava bem, mas coincidentemente, eu estou vindo do presídio hoje. — Sophia rolou os olhos. — Não rola os olhos pro coitado.

— Eu só tenho pena de mim, Augusto. — Resmungou. — Micael fez a escolha dele.

— Deixa de ser seca, você estava toda preocupada, isso tudo é só porque a Carol te chamou de chifruda. — Prendeu o riso.

— Carol? Que intimidade, vocês são amigos também? — Cruzou os braços e falou com deboche, claramente enciumada. — Eu estou bem Guto, não precisa se preocupar.

— Não quer saber dele? — A loira negou com a cabeça. — Pois ele quer saber de você, já ficou com alguém?

— Isso é da conta dele? Eu fui até ele na delegacia e ofereci meu apoio, disse que não ia abandonar nesse momento difícil. Ele terminou comigo, que se foda.

— Para de complicar a minha vida, assim fica bem difícil fazer o trabalho de leva e traz. — Debochou e uma ideia louca passou pela cabeça de Sophia. A loira se aproximou. — Ei, o que está pensando?

— Ele não quer saber se eu fiquei com alguém? — Augusto balançou a cabeça positivamente e tomou um susto quando recebeu os lábios de Sophia nos seus, num beijo que parecia de cinema. — Pois diga a ele que sim. — Disse ao se afastar.

Aquela NoiteWhere stories live. Discover now