Vamos nos entender?!

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Micael entrou no bar e encontrou Augusto sentado próximo á mesa que ocuparam da última vez. Tinha uma cerveja e dois copos, uma porção de isca de peixe completava enquanto ele via o que parecia um jogo de futebol reprisado. 

— Demorou. — Disse ao pegar uma isca. — Achei que não viria mais. 

— Cadê o meu filho? — Perguntou com braços cruzados e cara feia. Os hematomas amarelados no rosto de Augusto lhe davam nervoso. 

— Queria que eu trouxesse o bebê para um bar? — Debochou. — Ele está em casa com a minha mãe e a babá. Senta aí de uma vez. 

— Eu não sou seu amigo, Augusto. 

— Para de ser idiota e senta aí, ou você acha que eu vou fazer o quê? 

— Eu não tenho a mente de um psicopata pra prever seus movimentos. — Puxou a cadeira e se sentou de frente á ele. — Onde você pretende chegar com isso? 

— Só uma saída de amigos, ué. — Pegou outra isca. — Não está servido? — Apontou pra porção. — Comprei pensando em você. — Encheu o copo vazio com cerveja e colocou diante de Micael. 

— Eu devo ter cara de idiota mesmo pra você achar que eu vou cair no mesmo truque duas vezes. — Deu uma risada forçada. — Nunca mais. — Empurrou a cerveja de volta.

— Para de ser tão desconfiado.  — Comeu outra. — Eu soube que você tinha saído da cadeia e te chamei pra dar uma volta. 

— Para de jogar comigo e vamos logo falar do motivo de você ter me chamado. — Ele falava baixo, mas Guto conseguia perceber que seu tom não era brincadeira. — Você ameaçou o meu filho pra me trazer até aqui. 

— Eu só ameacei pra ter certeza que você viria, eu não sou um monstro capaz de matar um bebê. — Deu risada. — Quero que a gente se entenda, Micael. 

— Está mesmo falando sério? — Recostou na cadeira. — Perdi cinco anos da minha vida em um presídio por causa de você e agora quer que a gente se entenda? 

— Eu assumo, eu realmente armei. — Ergueu as mãos em rendição. — A ideia não era você mofar na cadeira, eu só queria que você saísse do meu caminho. 

— Claro, não era pra eu mofar, por isso que você contratou um advogado sem licença pra advogar? 

— Micael, eu sou louco pela Sophia desde a primeira vez que você me mostrou a foto dela no aplicativo de namoro, se lembra? — Passou o dedo indicador pela borda de seu copo. — Eu não soube como falar, eu não soube como me comportar e ai quando eu vi, lá estavam vocês apaixonados. — Rolou os olhos. 

— Você me contar essas coisas não vai fazer com que eu amoleça e perdoe você. Isso nunca vai acontecer. — Olhou para os lados a procura de um garçom e pediu um refrigerante. — Você é um psicopata sem noção e merece apodrecer na cadeia. 

— Sabe que eu não vou ser preso, não é? E se for, é só pagar fiança e pronto. Aos olhos da lei, eu não fiz nada demais. — Deu de ombros. — Eu fiz tudo o que fiz porque você sempre teve uma vida muito melhor. 

— Dá um tempo, invejoso do caralho. — Pegou a latinha que o garçom lhe trouxe e então a abriu. — A única coisa que eu quero de você é o meu filho. 

— Se a gente conseguisse se entender, eu até poderia devolver o garoto numa boa. — Pegou outra isca e comeu. — Mas você está complicando tudo. 

Micael respirou fundo e então olhou nos olhos de Augusto, por um instante, interpretou aquilo como verdadeiro e isso fez com que se sentisse ainda mais estranho. Soltou um suspiro pesado e então, antes mesmo que respodesse, ouviu o amigo continuar falando. 

— Até mesmo o divórcio eu posso facilitar pra vocês. 

Micael havia esquecido do divórcio. eram tantos problemas um em cima do outro que ele sequer havia se lembrado que teriam um processo de divórcio pra enfrentar. Guto percebeu pela careta dele. 

— Não tinha pensado nisso, não é? Confesso pra você que não estou com boas intenções relacionadas a esse divórcio. — Bebericou a cerveja. — A não ser... 

— Não dá pra ficar de boa com uma pessoa psicopata e mau caráter que fez com que eu fosse pra cadeia duas vezes. E você está me chantageando pra isso acontecer, o que é dez vezes pior. Aceita que acabou. 

— A gente supera isso, sempre brigamos. 

— Meu irmão, vai se tratar! — Foi agressivo, estava muito irritado. — Deixa de ser cínico. Se você tivesse dado em cima dela, mesmo estando comigo era algo que eu poderia perdoar. Mas porra, você foi muito além.

— Ai Micael, para de drama. — Bufou. — Meu intuito era só queimar o seu filme diante da Sophia, eu precisava que ela se decepcionasse com você pra poder olhar pra mim. Era isso que eu queria, não que você fosse condenado. 

— Vai se foder. — Mostrou o dedo do meio. — Você é um psicopata! Amou que eu estava preso, amou me contar que tinha beijado a Sophia e eu tenho certeza que amou dizer que estavam namorando. 

— Não seja doido. 

— Ah, eu que sou o doido? — Deu uma risada irônica. 

— Eu estou falando sério, ninguem mandou você ir la e dizer que era culpado porra. E digo mais, eu queria avisar a tia Sol pra poder ajudar e você também não me deixou fazer isso. 

— Esse papo aqui não vai levar a lugar nenhum! — Se levantou. — Vai pro inferno. 

— Poxa vida, me desculpa! — Disse alto, Micael ouviu e não parou pra se virar, apenas seguiu pra fora daquele lugar. 

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— Eu não acredito que ele teve essa cara de pau. — Arthur e Laura estavam com Micael dentro do escritório deles e ouviam Micael contar sobre a conversa. — O Augusto é doido de pedra. 

— Acho que eu devia ter fingido estar bem pra pegar o Levi de volta. 

— Não vai se culpar por isso né? — Laura perguntou. — Não dá pra ficar bem com ele. É um psicopata de merda.

— Eu sei, mas ele tem a guarda do meu filho, eu tenho medo de que realmente faça mal ao Levi. — Suspirou. — Psicopata maldito.

— Você vai voltar a dormir aqui? — Arthur perguntou tentando mudar o assunto. — Você simplesmente sumiu depois do dia que descobrimos tudo.

— Nada disso, eu deixei a Sophia e o Levi na casa dos meus pais e depois vim pra cá. A gente só não se esbarrou, depois eu fui preso. — Fez uma careta.

— Gostaria de deixar claro o tanto que eu pedi a você pra não fazer o que fez.

— Não me arrependo, foram três dias que valeram a pena. — Deu risada. — Mas respondendo a sua pergunta, não, não ficarei aqui. Vim buscar minhas coisas. Acabou o tormento.

— Esta falando sério? — Laura sorriu. — Tudo? Acabou tudo?

— Sim, a Carol confessou, eu fui inocentado e a condicional acabou. — Contou animado. — Finalmente agora tudo vai começar a voltar ao normal.

— Isso é uma maravilha! — Arthur se levantou e abraçou o amigo. — Espero que tenha juízo agora que tem a ficha limpa.

— Nem tão limpa! — Deu risada. — A agressão ao Augusto está lá, fui liberado por fiança. Mas enfim, chega de falar desse merda, vou lá buscar minhas coisas, preciso ir pra casa, Sophia e meus pais devem estar surtando.

Aquela NoiteWo Geschichten leben. Entdecke jetzt