Eu te amo

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— Vocês viram? — Sophia perguntou em choque, ainda olhando por onde haviam levado Micael. — Viram o estado que ele está? Você tinha me dito que ele está bem, Augusto! Aquilo não é bem pra mim!

— Você vai brigar comigo? — Disse um tanto indignado. — Eu não te avisei porque não queria te preocupar. O advogado me ligou outro dia e disse que ele deu um soco na cara de um agente, foi parar na solitária.

— Ele não faria isso. — Defendeu.

— Com todo respeito a sua dor, está na hora de você enxergar que ele fez muitas coisas. — Estava um pouco sem paciência e Sophia estranhou o tom. — Ele não é um santo.

— Você está irritado? — A loira disse bem mais baixo e viu o amigo de Micael suspirar. — Você me escondeu uma informação importante e está com raiva??

— Estou chateado com tamanha cobrança, eu só tento ajudar desde que toda essa merda aconteceu e é só reclamação na minha cabeça. Sabe o que você pode fazer, Sophia? Contrata você um advogado, que aí ele vai passar a dar as informações direto pra você. Não vai ter mais motivos pra reclamar. — Foi grosso e deixou Sophia de boca aberta.

— Que isso, cara?! — Arthur disse baixinho. — Você não precisa falar assim, ela só está nervosa, todos estamos, é horrível ver o Micael passar por isso.

— Eu sei, me desculpa. — Falou baixinho. — Exagerei.

— Está tudo bem, você tem sido um ótimo amigo, eu também fui injusta. — Deu um abraço no amigo. — Será que podemos entrar, preciso acabar logo com esse tormento.

— Não acho que vai acabar tão cedo. — Arthur comentou e segurou a mão de Sophia, Guto segurou a outra e então os três caminharam pra dentro e se sentaram nós primeiros bancos do tribunal.

Micael já estava lá, conversava com o advogado, mas não haviam muitas dicas a serem passadas. O lugar estava cheio, e Sophia podia apostar que eram curiosos ou estudantes. No lado direito, atrás do promotor, os que acreditavam nas acusações e a vítima.

Mais alguns minutos de espera quando ouviram alguém dizer "silêncio no tribunal" e logo em seguida "todos de pé". O nome do juiz foi anunciado e quando ele permitiu que se sentassem, deu início ao julgamento.

— Fique de pé e declare seu nome e idade. — Ordenou a Micael, que ficou de pé junto com advogado.

— Micael Leandro de Farias Borges, vinte anos. — Declarou como ordenado e aguardou em silêncio.

— E como o réu se declara de todas as acusações?

— Culpado, meritíssimo. — Um burburinho surgiu após sua resposta e o juiz bateu seu martelo pedindo silêncio.

O Juiz aceitou a confissão de culpa e Micael foi condenado a pena máxima por todos os crimes, com um total de catorze anos e oito meses. Sophia desandou a chorar e ele reconheceu o barulho dentre o falatório e olhou pra trás.

— Se acalma, você vai passar mal. — Arthur passava as mãos nas costas da loira numa fraca tentativa de acalma-la. — Vamos lá fora buscar um copo de água.

— Não. — Fungou, ficou de pé e correu até perto de Micael que ainda não havia sido levado pelos policiais. — Eu amo você. — Disse ao se jogar pra um abraço, logo apareceram policiais para separar o casal. — Não esquece disso! — Gritou quando já estava longe, ele não conseguiu responder, quando deu por si, já estava de volta no transporte.

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— E aí, você sobreviveu a solitária. — Gilberto fez piada quando viu que Micael foi devolvido a cela. — Demorou tanto que achei que tinham te matado.

— Me tiraram porque tive a audiência com juiz hoje. — Suspirou. — Condenado a catorze anos. — Contou com pesar. — Quando eu sair daqui, Sophia já casou e tem cinco filhos.

— Por falar em Sophia. — Tirou a foto debaixo do colchão. — Guardei quando você foi levado. Você sabe que quando sair pode deixar ela careca se tiver com outro, né? Na verdade, não precisa nem esperar, se quiser eu uns parças na atividade que fazem isso hoje mesmo.

— O quê? — Arregalou os olhos. — Não, é claro que não! Eu amo essa mulher, quero que seja feliz. Eu vou ser um ex-presidiário, sem emprego, sem casa, sem expectativa de vida. Um estuprador. Você tem noção? Não tenho nada a oferecer pra ela.

— Sabe, Micaela. — Começou a dizer com um sorriso sacana. — Continuo achando que você não tem pinta nenhuma de estuprador, isso foi coisa que enfiaram na sua cabeça.

— Podia ser só um pesadelo, mas infelizmente não é. — Suspirou e se deitou. — Tudo que eu queria, era voltar aquela noite e ter escolhido ficar em casa com a Sophia. Ela deu uma de mãe Diná e previu que alguma coisa ia acontecer, eu não ouvi, olha no que deu.

— É, resta a você aproveitar a sua estada aqui, levando em consideração que logo, logo deve ser transferido pra Gericinó.

— Bangu, não é? — Perguntou lembrando do nome.

— Sim, e irmão, lá o bicho pega. — Micael gelou. — Já tive lá umas duas vezes, em prisões anteriores. Que lugarzinho. Bruno foi pra lá essa semana.

— Só né falta cair na mesma cela que ele. — Fez uma careta. — Castigo demais.

— Mesmo se vocês estiverem na mesma cela, é tanta gente junta que vocês nem vão conseguir se ver. — Deu risada. — Prepara o psicológico, Micaela.

— Venho tentando, mas a verdade é que a cada dia está mais difícil. Quinze anos da minha vida jogados no lixo.

— Capaz de cinco, Brasil é muito generoso em termos de lei. Se comporta direitinho, que logo menos você vai atrás da sua gata.

— Não vou atrás dela quando sair daqui, não vou bagunçar a vida dela com a minha vida desastrosa. — Gil não disse mais nada e observou o companheiro de cela se ajeitar e ficar fazendo carinho na fotografia que tinha em suas mãos.

Aquela NoiteWhere stories live. Discover now