Não briguem crianças

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No dia seguinte, pela manhã, Micael foi acordado por um agente que bateu na grade e gritou seu sobrenome. Sabia que estava na hora de ir pro presídio, não imaginou que seria tão rápido.

— Junta seus panos de bunda, Borges. — Disse sem paciência, Micael se levantou, pegou a escova, pasta de destes, toalha e o cobertor que tinha ganhado ao chegar ali. Calçou o chinelo de dedo branco e então se virou pro agente. — Estende as mãos.

— Mas eu estou segurando meus panos de bunda. — Respondeu com certo deboche. — Impossível.

— Se você não quer levar uma surra de despedida e chegar no outro presídio todo quebrado, se vira e estende as mãos. — O deboche acabou, ele colocou a coberta debaixo de um braço, junto com a toalha, escova e pasta debaixo do outro. — Viu só como dá um jeito rapidinho?!

— Vocês não deviam poder bater na gente a hora que lhes dessem vontade. — Reclamou enquanto era algemado. — Somos seres humanos, merecemos direitos básicos.

— Ouviu isso, Ricardo? — O agente que algemou Micael disse gargalhando ao parceiro. — Esses filhos da puta matam, estupram e fazem sei lá mais o quê, e ainda querem direitos básicos. Deviam estar todos mortos. — Disse a última frase encarando Micael, bem sério. — Agora para de discursinho bosta e anda logo, não tenho tempo pra gastar com você. — Empurrou Micael de forma brusca e o moreno quase caiu, mas aquilo ficou por isso mesmo, logo estaria num lugar dez vezes pior, aquele guardinha não seria nada.

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Micael deu entrada no complexo de Gericinó e logo de cara percebeu a diferença do lugar que estava antes. Aquilo lá parecia terrível. Foi devidamente registrado e então, levado a área da carceragem. Contou umas vinte cabeças na cela onde foi colocado, não havia espaço nem pra se mexer e ficou imaginando como é que dormiriam todos aqueles homens.

Deu um boa tarde e então se sentou numa pequena área que havia ali. O pesadelo ficava cada vez pior.

— Olha, olha quem está aqui. — A desgraça não tinha limite? Foi o que pensou quando viu Bruno. — Temos uma conversa não acabada.

— Eu não quero confusão. — Rolou os olhos, sem medo daquele cara. — Eu tenho quinze anos pra cumprir e espero que sejam de paz.

— Eu tenho vinte, e você pode apostar que eu vou te infernizar pelo máximo de tempo que eu puder. — O moreno rolou os olhos novamente, não tinha saco praquele papo.

— E vamos ser inimigos esse tempo todo porque eu te dei uns socos? — Sorriu e irritou ainda mais o rapaz. — Esquece isso. Ouvi dizer que estupradores só são durões contra mulheres indefesas.

— Eu vou matar você. — Ameaçou, mas Micael não levou a sério. — Não vai pro banho de sol. — Avisou por fim e foi se sentar, Micael também não respondeu mais.

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Mais tarde aquele dia, quando o guarda abriu a cela para que os presos fossem até o pátio tomar sol, Micael pensou em não ir, mas no fundo não estava levando muito a sério aquela ameaça.

Sentado num banquinho, sozinho, Micael viu Bruno se aproximar com outros cinco caras.

— Eu avisei pra não vir. — Bruno soltou uma risada divertida. — Agora você aguenta!

Micael ficou de pé num pulo, prevendo a covardia. Porque achou que aquele bandido viria no um contra um?! Tentou escapar, mas dois rapazes do grupo o seguraram e então Bruno começou a bater.

— Me ajuda! — Micael pediu a um agente que estava ali perto, surpreso ficou quando o viu virar a cara e fingir que não enxergou nada de errado.

— Olha o que eu tenho aqui?! - Puxou uma faca improvisada com uma gilete e uma escova de dentes. — Eu vou te ensinar como são as coisas.

Aquela NoiteWhere stories live. Discover now