Confesse!

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Na manhã seguinte, Micael acordou cedo, antes das sete. Tinha acostumado com a rotina do presídio. Quanto mais cedo acordar, mais paz teria no banho.

Pegou outra muda de roupa e foi pro banho, mais uma vez aproveitou a ducha quente com um sorriso. Hoje teria um longo dia á procura de um emprego que pagasse o mínimo das contas.

Saiu do banheiro com a toalha amarrada na cintura, parou de frente ao espelho e suspirou ao se encarar. Eram muitas cicatrizes das brigas que se envolveu. Balançou a cabeça e se virou pra pegar a roupa que tinha jogado em cima da cama, mas ouviu o barulho da porta se abrindo devagar.

— Ué, já está acordado? — Sophia entrava no quarto na ponta do pé, até vê-lo de pé. — Isso me surpreendeu.

— Eu sou um Micael com novos hábitos, gata. — Brincou e sorriu. — Bom dia!

— Bom dia. — O olhou de toalha e sorriu. — Você assim me traz todo um déjà vu da última vez que nós vimos.

— Aquela não foi a última vez. — Deu uma risadinha sacana. — Houveram mais duas vezes.

— Na delegacia e no julgamento não contam. — Deu de ombros. — Estou falando da última vez em que as coisas estavam normais.

— Da noite que eu estraguei tudo, estou sabendo. — Suspirou. — O que veio fazer aqui? Augusto vai odiar saber que estamos no mesmo quarto sozinho, se souber que estou apenas de toalha então...

— É que as minhas roupas ficam nesse armário. — Apontou pro guarda-roupa de casal que tinha ali. — Eu vim buscar uma peça pra ir até meu apartamento.

— Achei que já morava aqui. — Implicou. — Pareceu.

— Ainda não casei. — Caminhou pra mais perto e abriu a porta do armário. — Daqui uns dias...

— Vou tentar resolver minha situação pra sair daqui logo, antes disso acontecer. — Falou baixo. — Espero que não leve meses.

— Você sabe que sempre vai ser bem vindo aqui, não precisa correr.  — Deu as costas ao armário e encarou Micael, dessa vez reparando bem em seu corpo marcado.

— Eu não quero conviver com você recém-casada com meu amigo. — Foi sincero, não pretendia assumir a dor de cotovelo, mas naquele momento, precisava ser sincero. — Não dá.

— O que foi isso? — Ergueu a mão para tocar suas cicatrizes e ele olhou pra baixo. — Você está todo machucado.

— Eu estive machucado, hoje o que restaram foram as marcas. — Deu de ombros e tirou a mão da loira de si. — Acho melhor você pegar sua roupa e sair.

— Você tem raiva de mim? — Franziu a testa, sem entender. — Eu não te fiz nada, Micael.

— Não acho que raiva seja a palavra. Decepcionado, talvez... — A expressão de confusão se intensificou no rosto de Sophia.

— Decepcionado porque eu vou casar? — Cruzou os braços. — Fala sério!

— Você vai casar com o meu melhor amigo! — Disse alto, irritado, agora sim parecia um déjà vu da última conversa que tiveram. — Podia ser qualquer um, mas você escolheu a pessoa que eu tenho de mais próxima. O cara é meu irmão!

— Eu não estava pensando em você quando escolhi. — Disse baixo, com um tom de culpa. — Eu gosto dele.

— Estava sim, você estava tentando me atingir quando escolheu. Você pode até gostar dele agora, mas quando você o agarrou lá atrás, você não gostava.

— O que você sabe disso Micael? Estava preso! — Disse alto e ele cruzou os braços.

— Estava sim. — Diferente de antes, agora falava baixo, sua voz era triste. — Eu precisei de você, sabia??

Aquela Noiteحيث تعيش القصص. اكتشف الآن