Por bem ou por mal

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A campainha tocou e a empregada da casa passou rápido pra atender. Até então, Sophia e Micael não tinham percebido que havia uma empregada ali.

Carol chegou na sala acompanhada de Raquel que não deixaria a amiga sozinha enfrentando aquilo.

— O que essa mulher veio fazer aqui? — Sophia ficou de pé brava. Se referia a Carol.

— Olha a chifruda aí. — Carol debochou, assim como no dia do tribunal e Sophia deu um passo a mais pra perto da mulher. — Você levou chifre Raquel? Porque aquela ali levou! — Implicou mais.

— Vagabunda! — Micael ficou de pé e segurou a loira que estava a ponto de se esquecer que estava de resguardo.

— Para com isso! — Disse controlado. — Estamos na casa dos meus pais, nosso filho está dormindo e você fazendo um papelão.

— Ela me irrita. — Se livrou dos braços de Micael e fez um bico. — Mulherzinha de quinta.

— Levar chifre deve ser bem ruim mesmo, né amiga? — Raquel implicou dessa vez, olhando as unhas. — A gata ficou toda irritada. — Deram risadas, Sophia olhou pra Micael e ficou ainda mais irritada ao vê-lo prendendo uma risada.

— Isso não é engraçado.

— Vai brigar comigo também? Eu estava drogado. — Se defendeu, ainda prendendo o riso. — Fala pra ela, por favor? — Pediu ajuda a Carol. 

— Estava sim, seu marido o drogou.

— Ex-marido. — Corrigiu sem paciência.

— Uau, como o divórcio sai rápido nessa cidade. — Debochou mais um pouco. — Estava drogado, mas não resistiu nem um pouco. Nem posso julgar, uma loira sem graça como você, merece chifre.

— Micael se você não calar a boca dessa criatura eu vou socar a cara dela. — Ameaçou. — Quem que chamou essa mulher? 

— Vamos acabar com a picuinha na minha sala. — Luiz entregou o bebê a Solange e ficou de pé. — Eu chamei porque quero saber a história toda nos mínimos detalhes. Micael, você vai descer e comprar umas coisas pro seu filho. 

— Mas eu quero participar dessa conversa. 

— Querer não é poder, sua prioridade é o Levi, ou você quer que a Sophia vá até a farmácia de resguardo? — Ele soltou um suspiro pesado e ficou em silêncio. Sophia, Solange vai te levar até seu quarto, pra você poder se acomodar e tomar um banho. — Voltou a olhar o filho novamente. — Vê se traz uma muda de roupa pra ela também. 

— Sim, senhor. — Assentiu e viu o pai lhe entregar o cartão em silêncio. 

— Vamos meninas, por aqui. — Gesticulou e as duas foram na frente, sendo direcionadas por ele.  Micael ficou olhando por onde foram, com uma careta. 

— Esse jeito autoritário dele me irrita tanto. — Devolveu o cartão à mãe. — Eu não preciso dessa porcaria pra comprar fralda pro meu filho e o que quer que seja. 

— Vai dar uma de orgulhoso agora? — A mãe deu risada. — Seu pai só quis fazer uma boa ação. 

— Boa ação uma ova, ele quer é jogar na minha cara depois que eu não compro uma fralda. — Reclamou com careta. — Faz uma lista pra mim do que precisa de imediato, por favor. — Sophia assentiu e começou a digitar no celular. — Porque será que ele não quer que eu participe da conversa? 

— Deixa seu pai resolver isso, filho. 

— É da minha vida que estamos falando, mãe! Eu mereço estar lá. 

— Ou quer estar lá só por causa da Raquel? — Solange perguntou maldosa e Sophia ergueu o olhar do telefone. — É isso?

— Não arruma intriga, mãe. — Olhou pra ex-namorada. — Eu só quero saber da conversa. 

— Micael, já vai dar nove da noite, acho melhor você ir de uma vez, sei que tem que chegar em casa antes das dez. — Sophia disse com a voz baixa. — Então vai logo. 

— Tudo bem. — Se deu por vencido e saiu da casa. 

— Está chateada porque ele não te defendeu do ataque das duas? — Solange perguntou e a loira só deu silêncio em resposta. — Eu gosto da Raquel, eles dois são um casal muito bonitinho, embora eu só tenha tido uma breve conversa com ela, eu tive essa impressão. Mas não importa o que eu ache, todo mundo sabe que é de você que ele gosta. 

— Gostava. 

— Gosta! — Reforçou. — Ainda mais agora que vocês tem um filho. 

— Hoje eu disse a ele pra ser padrinho do Levi e não entrar na justiça pra registrar o garoto. — Suspirou e se sentou. — Foi um longo dia, eu preciso muito descansar. 

— Vamos lá, eu fico com o anjinho pra você tomar um banho relaxante e enquanto você não tem roupa, eu te empresto um pijama. — As duas caminharam escada acima e Sophia enfim pôde relaxar. 

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Dentro do escritório, Carol contava toda a verdade novamente. Raquel complementava alguns detalhes, assim como no apartamento de Arthur. Luiz ouvia sem interromper, ainda mais perplexo do que quando o filho lhe contou. 

— E foi isso. — Carol finalizou. — Acho que depois todo mundo sabe o que aconteceu. 

— Você precisa dizer isso a polícia. — O homem falou bravo e viu a morena negar fortemente com a cabeça. — É o correto a se fazer. 

— Eu não posso abandonar a minha mãe pra livrar a cara do seu filho!

— Só que foi você que fodeu com a vida do meu filho! — Bateu as mãos na mesa. — Um rapaz que tinha a droga de um futuro brilhante pela frente, você foi lá e jogou essa merda em cima como se não fosse nada. Destruiu a vida dele. 

— Eu já conversei com ele sobre isso, eu não posso ser presa e deixar a minha mãe sozinha. 

— Sua mãe não está curada? — Franziu a testa. — Você disse que tinha conseguido salvar a sua mãe com o dinheiro que Augusto te deu. 

— Sim, ela se curou do câncer, mas o senhor tem que entender que na vida somos só nós duas, sou eu que trabalho pra manter a casa, eu não posso simplesmente ser presa e deixar com que ela passe necessidades. 

— Caroline, de quanto é o seu salário atual? — Ela franziu a testa sem entender. — Líquido, por favor. 

— Com todo respeito, acho que isso não é da sua conta. — O velho balançou a cabeça. — É coisa minha. 

— Fala de uma vez. É um salário mínimo? — Ergueu uma sobrancelha. 

— É um pouco mais, mas eu sou vendedora de loja, tenho umas comissões também. — Informou. — Tiro quase dois mil por mês. 

— Eu dou à sua mãe quatro mil por mês, pelo tempo em que você estiver presa. — Ofereceu. — Quando sair, eu emprego você em uma das minhas agências de viagens que tenho por aí pelo brasil, basta você confessar e livrar a cara do meu filho. 

— Será que eu posso conversar com a minha mãe sobre isso antes? 

— A proposta tem duração de dois dias. Após esse prazo, as coisas acontecerão por mal. Eu mesmo irei até a delegacia e farei uma denúncia contra você e Augusto.  

— Tudo bem, eu vou conversar com a minha mãe e ligo pro senhor.  — Ele assentiu. — Pode me dar um telefone? —  O homem enfiou a mão na gaveta e tirou de lá um cartão. — Até mais então. 

— Só uma última coisa, meninas. — Elas que já tinham se virado pra porta, voltaram a olhá-lo. — Não falem uma só palavra disso ao Micael, ele é afobado demais e não sabe pensar direito, acaba metendo os pés pelas mãos. 

— Tudo bem. — Caminharam pra saída e Luiz as acompanhou. Se despediram na porta e o velho deu um suspiro antes de ir atrás de sua esposa. Estavam mentalmente exausto.

Aquela NoiteWhere stories live. Discover now