Capítulo 03

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Vilarejo Paraiso das Gaivotas



Diana havia cavalgado o dia todo sem parar, já estava anoitecendo e ela estava exausta. Então ao avistar uma pequena estalagem, a bruxa desce de seu ronzino pegando Freya no colo, que ainda permanecia desacordada, e entrando no estabelecimento, que era um pequeno salão feito de madeira com algumas mesas rústicas espalhadas pelo local e a um canto ficava uma escada de madeira em espiral que dava acesso ao piso superior onde ficava os quartos para aluguel. Ela, ao dar uma rápida olhada pelo espaço, percebe que as mesas estavam todas ocupadas por homens e algumas mulheres, que bebiam cerveja em canecas de ferro e que a maioria deles já estavam bêbados.


- Boa noite, gostaria de uma cama só por esta noite - pede ela, ignorando o cenário, à um homem barbudo e gorducho atrás de um balcão.


O estalajadeiro olha desconfiado para Diana devido a sua aparência imunda e desleixada.


- Você tem como pagar pelo aluguel da cama? - O homem pergunta de forma grosseira exalando um bafo azedo de cerveja barata.


- Tudo o que eu tenho são essas moedas. - Diana tira do bolso da capa desbotada uma bolsinha de pano e espalha seu conteúdo no balcão a sua frente.


- Essas moedas de cobre não são suficientes para pagar o aluguel.


- Eu posso dormir no celeiro mesmo, não me importo.


- Moça...


- Por favor - implora Diana com lágrimas fazendo seus olhos verdes brilharem.


- Está bem. - O homem atarracado convence-se recolhendo as moedas de cobre do balcão. - Vou deixá-la ficar no celeiro por causa da menina em seu colo, mas peço que vá embora assim que o sol nascer.


- Eu agradeço muito.


O homem a conduz até o celeiro do lado de fora da estalagem encaminhando-se até a parte de trás do local. Após o estalajadeiro se retirar, Diana acomoda Freya entre o feno no chão e deita-se ao lado dela adormecendo logo em seguida.



○○○



Diana acorda sob o crepúsculo decidindo sair do celeiro antes mesmo de amanhecer. Freya, finalmente havia despertado.


- Onde estamos? - indaga a menina confusa olhando para os lados.


- Em uma estalagem, precisamos continuar a nossa viagem. - Diana levanta-se sacudindo o feno preso em sua roupa e em seus cabelos desalinhados.


- Para onde estamos indo? - Freya senta-se no feno encarando a tia.


- Em busca de um amigo.


- Que amigo?


- Você não o conhece. - Diana estende a mão na direção da outra. - Agora vamos.


A bruxa ajuda a menina a se levantar, pois a mesma ainda estava fraca. As duas saem do celeiro e montam no cavalo, que havia ficado do lado de fora. As duas seguem a maior parte do caminho caladas.


- Estou com fome - reclama Freya sentada à frente da tia em cima da montaria.


- Eu também.


Diana retira de um dos sacos de pano amarrados em sua cintura, um pedaço de pão preto endurecido.


- Isso é o que tem para comer por enquanto. - Ela entrega o pão para a sobrinha, que retorce a boca em desgosto, mas pega o alimento repartindo-o em dois e oferecendo a outra metade para a tia, que aceita.



Com mais algum tempo de viagem, ambas chegam em um vilarejo mais perto das montanhas. Diana, com Freya sentada a sua frente, ia passando com seu ronzino avermelhado de patas brancas pelas ruelas de terra vermelha e pelos casebres com telhados de vime construídos um ao lado do outro. Nesse aspecto assemelhava-se muito com o vilarejo Monte Esmeralda.


A bruxa para o animal em frente a um dos casebres.


- Fique aqui - ordena Diana desmontando.


Ela estaca em frente ao casebre respirando fundo e bate na porta de madeira rústica. Um homem alto de pele acobreada abre a porta e fica mudo ao ver a bruxa, que também permanece em silêncio por alguns segundos.


- Cassius - sussurra ela, por fim.


- Quanto tempo, Diana - diz o homem abrindo um largo sorriso.


- Desculpe aparecer assim depois de anos e diante de tudo o que aconteceu, mas eu não sabia para onde ir.


- Por favor, entre - diz ele afastando-se para o lado afim de dar passagem a ela.


- Eu não vim sozinha. - Ela aponta para Freya, que ainda estava montada no cavalo, só observando.


- Vocês duas podem entrar. - Cassius encaminha-se até a menina ajudando-a a descer do dorso do animal.


Ambas entram no casebre e Freya posta-se a um canto do cômodo ao ver um menino de pele acobreada, cabelos castanhos encaracolados brincando sentado no chão.


- Oliver - chama Cassius - essas são Diana e...


- Freya - completa a bruxa.


- Oi - diz o menino se levantando com um sorriso no rosto -, quase não recebemos visitas.


- Oliver, poderia ajudar Freya a amarrar o cavalo lá fora?


- Claro, vou mostrar a ela o meu arco e flecha também. - Oliver animado pega Freya pela mão e sai puxando-a para fora do casebre.


- Agora quer me contar o que aconteceu? - indaga Cassius para Diana.


- Nosso vilarejo foi invadido por caçadores e levaram a Isabel.


- Isso quer dizer que... - ele não termina a frase.


- Que ela foi queimada na fogueira - completa ela com os olhos marejados. - Eu não podia ficar no vilarejo Monte Esmeralda depois disso.


- Senão você e a menina poderiam ser as próximas.


- Sim. Isabel foi capturada e morreu para proteger a filha.


- E a menina é a cópia fiel da mãe, os mesmos cabelos pretos e os mesmos olhos verdes penetrantes.


- Até no temperamento são parecidas.


- Ainda bem que ela não se parece com o pai.


- Do infame do pai, Freya herdou a marca de nascença.


- Ela também tem a marca da lua crescente?


- Sim, no ombro. Afinal de contas, ela é uma nascida da Lua Crescente assim como o infeliz do pai.


- Essa marca a deixa exposta como bruxa.


- Por este motivo Isabel a manteve escondida todo esse tempo.


- Bom, aqui a casa é simples, mas acho que dá para vocês duas se acomodarem.


- Nossa casa era tão simples quanto a sua, só não quero incomodar você e seu filho.


- Incômodo nenhum, Diana. Vocês são bem-vindas e sintam-se à vontade.


- Agradeço, Cassius. - Em um impulso ela o abraça. - Eu não sabia se você iria querer nos receber depois de tudo o que aconteceu.


- Vocês não têm culpa pelo o que ele fez.


- Freya nem sabe da história. - Diana afasta-se meio sem jeito. - Isabel sempre desconversou toda vez que a filha indagava sobre o pai.


- Eu nunca tive coragem de contar nada para o Oliver. Para ele, a mãe morreu devido a peste negra.


- Eles são apenas crianças, é melhor que continuem acreditando nisso. Ambos não precisam saber da história verdadeira.


- Eu concordo.


Eles vão até a porta e observam Oliver ensinando Freya a pegar no arco e atirar uma flecha. Ela erra o alvo ficando emburrada e ele ri.


Caça às Bruxas (CONCLUÍDO)Where stories live. Discover now