Capítulo 05

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Floresta da Lua



Freya desperta atordoada pelo chacoalho do cavalo e percebe pelo céu alaranjado que o dia já estava findando e a noite logo tomaria conta da floresta. Sentada à frente do caçador com as mãos atadas, ela olha para sua ferida, que sentia fisgar de dor a cada trotada do animal, percebendo que o sangue em volta endurecera misturando-se ao pus e formando uma crosta nojenta por cima. Seu vestido estava arruinado pelo liquido viscoso que secara no tecido.


Ela pisca várias vezes sentindo sua cabeça latejar como se tivesse mil facas sendo enfiadas em seu crânio. A bruxa volta a olhar para sua a ferida.


- Você precisa limpar isso - diz o caçador com voz grave ao perceber para onde ela estava olhando.


- Foi você quem causou isso. - Ela retruca rispidamente. - E por que se importa se o meu fim é a morte mesmo?


- Apesar de ser uma bruxa, merece um julgamento, por isso eu devo te levar até o Tribunal viva - diz ele sem desviar sua atenção do caminho.


- Eu preferiria que você me matasse agora.


- Você não irá morrer pelas minhas mãos.


O homem puxa as rédeas do cavalo, fazendo-o parar perto do Rio das Sombras, que seguia seu curso por toda a extensão da Floresta da Lua. Ele desce do animal e segura Freya pela cintura arrastando-a para baixo.


A bruxa ajoelha-se na beirada do rio e olhando de soslaio percebe que o caçador, que ainda usava o capuz da capa acinzentada sobre a cabeça, ficara parado atrás dela. Então resolve lavar seu rosto e suas mãos sujas com seu sangue seco, porém para poder limpar a ferida, ela rasga uma parte da bainha de seu vestido, molhando a tira de tecido na água turva e a torcendo em seguida.


Freya passa, cuidadosamente, o pedaço de tecido úmido por seu ferimento, soltando alguns gemidos por causa da dor. Ela vai tentando limpar o quanto pode do sangue endurecido em volta da ferida aberta. Então percebe que a ponta de metal da flecha estava alojada em sua carne.


- Vou precisar da sua ajuda - diz ela secamente virando-se para o caçador.


- Para que? - indaga ele sem se mover e mantendo sua expressão impassível.


- Se não quer que eu morra antes de chegar ao Tribunal, preciso que a ponta da sua flecha seja retirada do meu abdômen, senão a ferida irá infeccionar - explica ela com impaciência.


O homem, a contragosto e com o semblante sisudo, ajoelha-se ao lado de Freya olhando para o ferimento dela.


- Vou precisar que puxe a ponta da flecha. Eu não consigo fazer isso devido as minhas mãos estarem amarradas.


O caçador, sem dizer nada, enfia seus dedos indicador e polegar em forma de pinça na ferida da bruxa sentindo o metal da ponta da flecha alojado na carne dela. Antes de puxar o objeto, ele olha para o rosto de Freya, que estava com uma expressão de dor: as sobrancelhas franzidas, os lábios retorcidos e lágrimas involuntárias escorrendo por suas bochechas. Ela o encara com um pedido silencioso nos olhos que ele acabasse com aquela agonia logo.


O homem puxa a ponta da flecha, cautelosamente, até conseguir retirá-la por completo, fazendo a bruxa soltar um suspiro de alivio, mas o sangue recomeça a jorrar. Então o caçador pega a tira de tecido, que ela ainda segurava na mão, molhando-a no rio e torcendo-a antes de colocar sobre a ferida fazendo um pouco de pressão para estancar o sangramento. Freya, ao sentir o toque do pano molhado em sua pele, fecha os olhos apertando-os e mordendo seu lábio inferior de aflição.


Abrindo os olhos novamente, ela decide rasgar outra tira maior de tecido da bainha de seu vestido para enrolá-la em volta do seu abdômen e, assim, cobrir o ferimento, mas como estava com as mãos atadas não conseguia fazer isso sozinha. O homem percebendo sua dificuldade, pega o pedaço de tecido da mão dela e o passa em torno da cintura da bruxa, finalizando com um nó para manter o pano fixo no local da ferida.

Caça às Bruxas (CONCLUÍDO)Where stories live. Discover now