Capítulo 49

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Tribunal do Santo Oficio



Aimée estava sentada na grama à beira do Rio Nobre no Castelo Forte dos Espinhos com as pernas cruzadas e seu urso de pelúcia marrom desbotado em seu colo, observando o movimento suave da água devido a brisa que soprava. Ela estava distraída que não percebeu alguém se aproximando por suas costas, até que uma mão masculina com um lenço de linho branco cobriu seu nariz e sua boca.


A menina tenta se debater, mas a pessoa a agarra por trás imobilizando seus braços e a levantando bruscamente do chão, derrubando seu urso na grama. Aimée sente um forte odor de éter exalando do pano que tampava seu nariz, o cheiro a deixa tonta e letárgica, então sente outra pessoa prendendo seus pulsos com correntes, que queimam sua pele, mas antes que a dor pudesse alcançar seus sentidos, ela desmaia.


Aimée abre os olhos assustada sentindo seu coração acelerado dentro do peito, seu corpo todo estava dolorido por estar encolhida e tremendo de frio, seu estômago roncava de fome. Ela olha ao redor em meio a penumbra do lugar reconhecendo a cela em que fora trancafiada, então começa a chorar baixinho ao se dar conta de que seu pesadelo era real.


A porta pesada de ferro da cela range abrindo-se e Padre Bartolomeu entra aproximando-se da menina.


- Está pronta para confessar? - interroga ele parado de pé ao lado dela, que estava deitada, encolhida abraçando os joelhos encostada em uma das paredes frias de pedra.


Ela, com os olhos inchados de chorar, apenas fita as botas de couro e a barra da túnica preta do Padre sem dizer nada.


- Está pronta para confessar? - repete o Padre rispidamente.


- Confessar? O que? - indaga a menina confusa erguendo um pouco o olhar, mas voltando a fitar o chão úmido da cela logo em seguida.


- Se há mais bruxos na Corte.


- Não - responde ela baixinho.


- O que estava fazendo lá sozinha?


Aimée não responde.


- Vai querer fazer do jeito difícil?


- Fui levada até o Castelo Real - confessa a menina ainda olhando para o chão e sentindo todo o seu corpo tremer, não apenas de frio, mas de medo também.


- Por quem?


- Pelo Rei - responde ela hesitante -, mas, Vossa Majestade, não sabia que eu sou bruxa.


- Onde o Rei a encontrou?


Aimée abre a boca, mas a fecha novamente.


- Responda - exige Bartolomeu impaciente e fazendo sua voz trovejar pelos corredores subtarrâneos.


A menina estremece de susto encolhendo o corpo ainda mais e escondendo o rosto com as mãos.


- Não posso - murmura ela com a voz abafada.


- Então vai ter que ser do jeito difícil - bufa o Padre irritado.


Ele afasta-se abrindo a porta da cela.


- Levem-na para a Sala de Confissão - ordena o Sacerdote aos carrascos que aguardavam do lado de fora.


Dois carrascos entram na cela e desengancham as correntes das algemas dos pulsos e tornozelos de Aimée. Um deles a carrega no colo até a Sala de Confissão, localizada no fundo do corredor estreito e em penumbra, colocando-a deitada em cima de uma placa de madeira. A menina estava tão fraca que nem conseguia reagir.


Os mesmos carrascos engancham novas correntes às algemas esticando as pernas e braços de Aimée. Bartolomeu aproxima-se postando-se ao lado dela. A garota fita o Padre com os olhos azuis marejados.

Caça às Bruxas (CONCLUÍDO)Where stories live. Discover now