Capítulo 34

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Floresta da Lua



Oliver e Beatrice resolvem parar devido ao cair da noite. Eles acampam ao ar livre. O bruxo junta vários gravetos para fazer a fogueira que os aqueceria durante a madrugada.


- Gostaria de ver você usando sua magia.


- Então você vai ver.


Ele senta-se em frente ao amontoado de gravetos no chão, coloca ambas as mãos sobre as folhagens no solo e fecha os olhos. Beatrice senta-se ao lado dele em silêncio apenas o observando.


Faíscas saltam por entre os gravetos até as chamas começarem a crepitar e erguerem-se formando a fogueira.


Oliver abre os olhos e fita Beatrice, que estava admirando o fogo.


- O que achou? - pergunta ele.


- Fantástico - responde ela deslumbrada sem tirar os olhos da fogueira -, deve ser extraordinário ser bruxo.


- Sim é, mas também é perigoso.


- Por causa da perseguição da Igreja a vocês. - Ela olha para ele. - Há quanto tempo vocês são caçados?


- Há muito tempo, desde que a Igreja decidiu que toda e qualquer crença divergente do Cristianismo passou a ser considerada uma heresia.


- Qual sua crença?


- Eu acredito no poder da natureza, que é da onde nós canalizamos nossa magia.


- Não é justo vocês terem que se esconderem para sobreviver.


- Realmente não é, mas essa tem sido nossa vida. - Ele desvia o olhar e encara a fogueira, observando as chamas alaranjadas bruxuleantes soltando fumaça que subiam em direção ao céu estrelado. - Se pensar bem, talvez seja perigoso para você casar-se comigo.


- Não me diga que está desistindo da ideia?


- Só não quero que nada de mal te aconteça. - Ele volta a encará-la.


- Acho que estarei mais segura com você do que casada com aquele Conde.


- O que eu puder fazer para protegê-la, eu farei - diz Oliver em tom de promessa.


- Depois de chegarmos ao vilarejo e nos casarmos, para onde iremos?


- Pensei de seguirmos para o Mosteiro da Graça, onde meu pai e os outros estão escondidos, lá estaremos seguros.


- Como acha que seu pai vai receber a notícia do casamento?


- Não faço ideia de como ele pode reagir, mas com certeza ele irá te acolher.


- Sentirei como se eu fosse uma intrusa invadindo o seu mundo.


- Não pense assim, você será da família. - Ele sorri para ela, que corresponde ao sorriso. - Agora se quiser ir descansar, fique à vontade, eu fico de vigia durante a noite.


- E quanto a você?


- Eu descanso depois.


Beatrice deita sobre a relva perto da fogueira ajeitando seu vestido verde claro, que já estava empoeirado, e fecha os olhos, enquanto Oliver permanece sentado abraçando os joelhos e observando o fogo crepitar.



○○○



Castelo Forte dos Espinhos



Dimitri e os cavaleiros escolhidos por seu tio Eduardo para as buscas haviam se embrenhado pelo Bosque Real a procura de Beatrice ou a qualquer rastro que os levassem até ela. Depois de algum tempo sem conseguirem encontrar nenhum vestígio da donzela perdida, eles resolvem voltar para o castelo.


- Encontraram ela? - pergunta Hector, assim que o filho adentra a Sala de Reunião. Ele estava de pé perto da janela, que tinha visão para o Rio Nobre nos fundos do castelo.


- Infelizmente não - arfa Dimitri com o semblante cansado, os cabelos loiros baguçados e seu uniforme da Guarda Real sujo de terra.


- Então, por que voltaram? - aborrece-se o Duque segurando seu tom de voz para não gritar. - Continuem procurando.


- Alguns cavaleiros montaram acampamento no bosque para continuarem as buscas. Beatrice não deve ter ido muito longe - diz o cavaleiro rezando em pensamento para que a irmã já estivesse fora de alcance.


- Muito bem, o casamento será adiado, mas nosso acordo continua valendo - diz Hector dirigindo-se para o Conde Ricardo, que também estava presente na sala.


- Por enquanto sim, mas não poderei esperar para sempre que sua filha apareça - ressalta o Conde com seu corpo volumoso esparramado em uma das cadeiras.


- Eu sei, mas ela vai aparecer, não se preocupe.


- E se não aparecer?


- Vamos dar um jeito de manter o nosso acordo de outro modo.


Dimitri, exausto por ter percorrido todos os cantos do bosque tentando apagar possíveis rastros da irmã e do bruxo, resolve retirar-se deixando o Duque e o Conde discutindo sobre negócios e ir até seu aposento na Torre da Cavalaria.


- Não encontraram a sua irmã, não é? - indaga Adrian, que estava deitado em seu colchão.


- Ainda bem que não - responde Dimitri jogando-se em seu colchão de pena. - Os cavaleiros foram separados em dois grupos e um deles foi mandado para o lado oposto ao qual Beatrice e Oliver seguiram. Eles vão acampar no bosque para continuar as buscas nos próximos dias. O restante que estavam comigo voltaram para o castelo. Enquanto meus companheiros vassculhavam a mata, eu fui apagando todos os vestígios que encontrei e que poderiam ser dos dois.


- Se tua irmã não for encontrada, você acha que isso fará com que seu pai desista do casamento dela com o Conde?


- Eu não sei, mas temo que meu pai resolva fazer algo para manter o acordo de casamento; algo que Beatrice esqueceu-se de considerar.


- O que?


- Temo que meu pai decida realizar o casamento dela por procuração, usando outra donzela para representar minha irmã na cerimônia.


- Se teu pai fazer isso, então a fuga dela terá sido em vão.


- Vou ter que ficar perto de meu pai, se caso precisar demovê-lo dessa ideia ou de qualquer outra.


Dimitri, deitado de barriga para cima, coloca os dedos entrelaçados embaixo de sua cabeça e fita o teto por alguns segundos, até que é vencido pelo cansaço e fecha os olhos adormecendo.

Caça às Bruxas (CONCLUÍDO)Where stories live. Discover now