Floresta da Lua
Oliver e Beatrice resolvem parar devido ao cair da noite. Eles acampam ao ar livre. O bruxo junta vários gravetos para fazer a fogueira que os aqueceria durante a madrugada.
- Gostaria de ver você usando sua magia.
- Então você vai ver.
Ele senta-se em frente ao amontoado de gravetos no chão, coloca ambas as mãos sobre as folhagens no solo e fecha os olhos. Beatrice senta-se ao lado dele em silêncio apenas o observando.
Faíscas saltam por entre os gravetos até as chamas começarem a crepitar e erguerem-se formando a fogueira.
Oliver abre os olhos e fita Beatrice, que estava admirando o fogo.
- O que achou? - pergunta ele.
- Fantástico - responde ela deslumbrada sem tirar os olhos da fogueira -, deve ser extraordinário ser bruxo.
- Sim é, mas também é perigoso.
- Por causa da perseguição da Igreja a vocês. - Ela olha para ele. - Há quanto tempo vocês são caçados?
- Há muito tempo, desde que a Igreja decidiu que toda e qualquer crença divergente do Cristianismo passou a ser considerada uma heresia.
- Qual sua crença?
- Eu acredito no poder da natureza, que é da onde nós canalizamos nossa magia.
- Não é justo vocês terem que se esconderem para sobreviver.
- Realmente não é, mas essa tem sido nossa vida. - Ele desvia o olhar e encara a fogueira, observando as chamas alaranjadas bruxuleantes soltando fumaça que subiam em direção ao céu estrelado. - Se pensar bem, talvez seja perigoso para você casar-se comigo.
- Não me diga que está desistindo da ideia?
- Só não quero que nada de mal te aconteça. - Ele volta a encará-la.
- Acho que estarei mais segura com você do que casada com aquele Conde.
- O que eu puder fazer para protegê-la, eu farei - diz Oliver em tom de promessa.
- Depois de chegarmos ao vilarejo e nos casarmos, para onde iremos?
- Pensei de seguirmos para o Mosteiro da Graça, onde meu pai e os outros estão escondidos, lá estaremos seguros.
- Como acha que seu pai vai receber a notícia do casamento?
- Não faço ideia de como ele pode reagir, mas com certeza ele irá te acolher.
- Sentirei como se eu fosse uma intrusa invadindo o seu mundo.
- Não pense assim, você será da família. - Ele sorri para ela, que corresponde ao sorriso. - Agora se quiser ir descansar, fique à vontade, eu fico de vigia durante a noite.
- E quanto a você?
- Eu descanso depois.
Beatrice deita sobre a relva perto da fogueira ajeitando seu vestido verde claro, que já estava empoeirado, e fecha os olhos, enquanto Oliver permanece sentado abraçando os joelhos e observando o fogo crepitar.
○○○
Castelo Forte dos Espinhos
Dimitri e os cavaleiros escolhidos por seu tio Eduardo para as buscas haviam se embrenhado pelo Bosque Real a procura de Beatrice ou a qualquer rastro que os levassem até ela. Depois de algum tempo sem conseguirem encontrar nenhum vestígio da donzela perdida, eles resolvem voltar para o castelo.
- Encontraram ela? - pergunta Hector, assim que o filho adentra a Sala de Reunião. Ele estava de pé perto da janela, que tinha visão para o Rio Nobre nos fundos do castelo.
- Infelizmente não - arfa Dimitri com o semblante cansado, os cabelos loiros baguçados e seu uniforme da Guarda Real sujo de terra.
- Então, por que voltaram? - aborrece-se o Duque segurando seu tom de voz para não gritar. - Continuem procurando.
- Alguns cavaleiros montaram acampamento no bosque para continuarem as buscas. Beatrice não deve ter ido muito longe - diz o cavaleiro rezando em pensamento para que a irmã já estivesse fora de alcance.
- Muito bem, o casamento será adiado, mas nosso acordo continua valendo - diz Hector dirigindo-se para o Conde Ricardo, que também estava presente na sala.
- Por enquanto sim, mas não poderei esperar para sempre que sua filha apareça - ressalta o Conde com seu corpo volumoso esparramado em uma das cadeiras.
- Eu sei, mas ela vai aparecer, não se preocupe.
- E se não aparecer?
- Vamos dar um jeito de manter o nosso acordo de outro modo.
Dimitri, exausto por ter percorrido todos os cantos do bosque tentando apagar possíveis rastros da irmã e do bruxo, resolve retirar-se deixando o Duque e o Conde discutindo sobre negócios e ir até seu aposento na Torre da Cavalaria.
- Não encontraram a sua irmã, não é? - indaga Adrian, que estava deitado em seu colchão.
- Ainda bem que não - responde Dimitri jogando-se em seu colchão de pena. - Os cavaleiros foram separados em dois grupos e um deles foi mandado para o lado oposto ao qual Beatrice e Oliver seguiram. Eles vão acampar no bosque para continuar as buscas nos próximos dias. O restante que estavam comigo voltaram para o castelo. Enquanto meus companheiros vassculhavam a mata, eu fui apagando todos os vestígios que encontrei e que poderiam ser dos dois.
- Se tua irmã não for encontrada, você acha que isso fará com que seu pai desista do casamento dela com o Conde?
- Eu não sei, mas temo que meu pai resolva fazer algo para manter o acordo de casamento; algo que Beatrice esqueceu-se de considerar.
- O que?
- Temo que meu pai decida realizar o casamento dela por procuração, usando outra donzela para representar minha irmã na cerimônia.
- Se teu pai fazer isso, então a fuga dela terá sido em vão.
- Vou ter que ficar perto de meu pai, se caso precisar demovê-lo dessa ideia ou de qualquer outra.
Dimitri, deitado de barriga para cima, coloca os dedos entrelaçados embaixo de sua cabeça e fita o teto por alguns segundos, até que é vencido pelo cansaço e fecha os olhos adormecendo.
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Caça às Bruxas (CONCLUÍDO)
FantasyEm meados do século XV, na época da Inquisição, a Igreja perseguia os bruxos acusando-os de heresia e condenando-os a morte. É nesse cenário que vive Freya, uma bruxa que quando criança viu sua mãe ser executada na fogueira. Anos depois, ela mesma é...