Floresta da Lua
Freya acorda sentindo seu corpo chacoalhar, então abre os olhos, vagarosamente, vendo a floresta a sua frente se movimentando. Ela se dá conta que está em cima de um cavalo e mexe a cabeça para os lados desorientada.
- Finalmente, você acordou - diz uma voz rouca atrás dela.
A bruxa paralisa espremindo os olhos verdes tentando puxar da memória os últimos acontecimentos e as lembranças surgem aos poucos em sua mente. Freya olha para cima, ainda confusa, deparando-se com o rosto do caçador que a capturara.
Devido a aproximação, ela pôde observar o maxilar bem definido e a pele pálida dele; seus olhos azuis que estavam mais claros por causa do contato com a luz do sol; seus cabelos ondulados e volumosos loiros escuros com algumas mechas mais claras que cobriam sua nuca e alguns fios teimosos caiam sobre sua testa dando um charme.
- Você me resgatou do Tribunal? - indaga ela voltando a olhar para frente.
- Sim - responde o homem, laconicamente, sem olhar para ela concentrado no caminho.
- Por que?
Ele não responde, apenas para o cavalo às margens do Rio das Sombras. Freya desce do animal caindo de joelhos, por ainda estar fraca, sobre as folhagens e galhos. O caçador a pega pelo cotovelo erguendo-a do chão. A bruxa encaminha-se até a beirada do rio agachando-se e afundando as mãos juntas em concha pegando a água, que estava fria, para lavar o rosto e os braços que estavam sujos pela poeira da cela e da estrada. Depois ela repete o movimento levando a água até os lábios ressecados e bebendo o liquido turvo e refrescante.
O homem estava parado de pé há alguns passos atrás dela observando-a de braços cruzados.
- Adrian? Esse é o seu nome, não é? - indaga ela olhando-o por cima dos ombros.
- Sim - responde ele aproximando-se e agachando-se ao lado dela para lavar o rosto também.
- Por que você me resgatou? - pergunta Freya, secamente, levantando-se enquanto fitava-o jogar água no rosto.
O caçador a ignora bebendo o liquido em uma golada abundante.
- Por que você me resgatou? - insiste ela erguendo o tom de voz e cutucando a perna dele com o bico de sua bota de cânhamo.
- Você preferia morrer, bruxa? - indaga Adrian, rudemente, levantando-se.
- Claro que não - rebate ela empinando o queixo para poder fitá-lo nos olhos -, mas não faz sentido nenhum você, um caçador, me salvar da execução.
- Eu apenas achei que você não merecia morrer. - Ele vira as costas para ela voltando para perto de seu cavalo.
Ela fica em silêncio acompanhando-o com o olhar até que vira o rosto fitando a água turva do rio e percebe, pelo seu reflexo embaçado, que estava usando uma capa cinza por cima do seu vestido em farrapos.
- Essa capa não é minha - comenta Freya alisando o tecido, que era de uma qualidade melhor do que a da sua veste.
- É minha - diz o caçador virado de costas para ela ajeitando as rédeas do animal.
- Você poderia tirar essas algemas dos meus pulsos - sugere ela fitando as costas largas dele.
- Não confio em você, bruxa, para deixá-la usar sua magia. - Ele se volta para Freya deparando-se com os olhos verdes dela o encarando.
- Eu preciso me curar - diz a bruxa apontando para o seu próprio corpo.
Ele esquadrinha o corpo franzino de Freya, observando seus pulsos e tornozelos machucados; as queimaduras espalhadas pelas pernas, inclusive a marca na bochecha e, por último, pousando os olhos no ferimento do abdômen dela coberto por uma crosta de sangue seco e pus, que ele causara com sua flecha.
YOU ARE READING
Caça às Bruxas (CONCLUÍDO)
FantasyEm meados do século XV, na época da Inquisição, a Igreja perseguia os bruxos acusando-os de heresia e condenando-os a morte. É nesse cenário que vive Freya, uma bruxa que quando criança viu sua mãe ser executada na fogueira. Anos depois, ela mesma é...