Capítulo 51

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Castelo Forte dos Espinhos



Henrique estava em seu aposento sentado na beirada de sua cama com olhos fixos em um ponto indefinido do cômodo. Desde a morte da Rainha, ele não saíra de seu quarto nem mesmo para as refeições, que eram trazidas pelos servos até o quarto, mas mal tocava no prato que lhe era servido.


Também não conseguia dormir direito e as olheiras já adornavam seus olhos em demonstração de sua insônia, quando adormecia um pouco tinha pesadelos com aquela noite; com Cateline ensanguentada vindo em sua direção reclamar todos os filhos mortos por culpa dele. Nesses momentos, Henrique acordava assustado com a respiração entrecortada e ensopado de suor, que escorria por suas têmporas e costas.


Mais uma noite, ele tivera outro pesadelo com a Rainha, só que dessa vez, além de ela acusá-lo por todos os filhos mortos, também tentara matá-lo apertando sua garganta. Henrique acordara sentindo-se sufocar, com o ar lhe faltando nos pulmões. Não conseguindo conciliar o sono novamente, sentara-se à beira do colchão pensando em uma maneira de acabar com aqueles malditos pesadelos que o aterrorizava quase todas as noites.


Henrique continuava olhando fixamente para a parede, quando a Sombra da Morte aparece como fumaça negra a sua frente. Ele apenas olha para o rosto disforme da entidade materializada.


- Tenho péssimas notícias para você.


- Você só aparece para me dar péssimas notícias - rebate ele friamente voltando a fitar um ponto indefinido do quarto -, ainda estou me recuperando da perda da minha Rainha.


- Você está assim, não porque sente falta da sua Rainha, mas porque sabe que ela morreu por sua culpa.


- Como ousa me dizer isso? - esbraveja o Rei levantando-se de um salto e encarando, furiosamente, a Sombra.


- Você sabe que é verdade. Na tentativa inútil de ludibriar o destino achando que conseguiria trazer seu filho ao mundo vivo usando sua magia, você a matou.


- Eu não queria que ela morresse.


- Por isso se culpa pelo o que fez - diz a Sombra impassível. - Ela teria tido uma vida linda se não fosse por você entrar no caminho dela.


- É para isso que você apareceu? - irrita-se o Rei. - Para me atormentar com suas ladainhas?


- Eu disse que tenho péssimas notícias.


- Então diga logo do que se trata e suma daqui - diz ele se afastando até sua mesa de leitura e enchendo uma taça com vinho.


- Uma pessoa que talvez você se importe mais do que tenha percebido está com os dias contados.


- De quem você está falando? - pergunta ele desinteressado, dando um gole de sua bebida.


- Sua filha - responde a Sombra olhando fundo nos olhos dele.


Henrique engasga com o liquido que desce queimando por sua garganta e, com o impacto da notícia, a taça em sua mão escorrega desabando no chão e derrubando o vinho pelo assoalho de madeira. Ele olha para a bebida se espalhando pelo chão parecendo uma poça de sangue.


- Você está falando de Freya? - pergunta ele olhando fixamente para a Sombra, que ainda o encarava.


- Sim, ela é sua única filha. De quem mais eu estaria falando?


- Como e quando isso vai acontecer? - Ele aproxima-se da Morte.


- Em breve.


- Tem algo que eu possa fazer?


- Talvez, mas eu a sinto cada vez mais perto de mim, vindo ao meu encontro.


- Você não pode levá-la.

Caça às Bruxas (CONCLUÍDO)Where stories live. Discover now