Floresta da Lua
Freya acorda no chão a um canto da caverna. Ainda deitada, ela olha ao seu redor e vê a tia aproximando-se com uma cumbuca nas mãos.
- Finalmente você acordou - diz Diana sentando-se ao lado da sobrinha.
- Quanto tempo eu dormi? - indaga Freya sentando-se e ajeitando o corpo, que estava dolorido.
- Por dois dias, mais ou menos. - Diana responde oferecendo a cumbuca a outra, que aceita pegando-a entre as mãos. - Na verdade, você acordava e voltava a dormir sem recobrar a consciência por completo.
- O que é isso? - pergunta Freya referindo-se ao conteúdo da cumbuca ao cheirar o interior do recipiente.
- É uma sopa de legumes. - Diana coloca uma das mãos sobre a testa da sobrinha. - Você teve febre alta durante estes dias, mas parece que sua temperatura, enfim, abaixou.
- Alguma coisa aconteceu enquanto estive inconsciente?
- Não - responde Adrian que se aproximava -, eu e mais alguns bruxos fizemos patrulhas pela floresta no perímetro do acampamento, mas não encontramos nenhum sinal de caçadores, então não se sabe se eles já foram informados sobre o incêndio do Tribunal.
- Pelo menos eles não terão mais um lugar para voltar e, tampouco, continuar a cometer as atrocidades da Inquisição - comenta Diana.
- Mas isso não significa que nossa luta acabou - diz Freya tomando um gole da sopa.
- O que quer dizer com isso? - indaga Adrian sentando-se ao lado de Freya.
- Que o Tribunal do Santo Oficio não existe mais, apesar de ter deixado rastros com alguns caçadores espalhados por aí, mas ainda falta acabar de vez com a fonte de todo o sofrimento dos bruxos nos últimos anos.
- Você está falando... do Rei? - pergunta Diana hesitante.
- Sim - responde Freya entregando a cumbuca para a tia.
- Mas sem o Tribunal, o Rei perde sua força - retruca Diana.
- A nobreza precisa saber quem ele é.
- Não precisa pensar nisso agora - diz Adrian -, você precisa descansar e se concentrar em recuperar suas forças.
- Ele tem razão.
- Eu sei, ainda me sinto fraca, mas o Rei não vai ficar ileso por tudo o que fez com o próprio povo.
Diana e Adrian apenas se entreolham sem dizer nada.
- Agora preciso ver a luz do dia depois de passar dois dias dentro dessa caverna. - Muda de assunto Freya.
- Eu te acompanho - diz o cavaleiro ajudando-a a se levantar.
Adrian enlaça Freya pela cintura apoiando o corpo dela ao seu e ambos se afastam, lentamente. Diana apenas fica os observando se distanciarem e saírem da caverna.
○○○
O povo todo estava reunido em torno da fogueira acesa no centro do acampamento, embaixo da lua minguante que se erguia no céu.
- E agora o que vamos fazer? - indaga um dos bruxos, que assava sobre o crepitar das chamas um javali, caçado naquela tarde, enfiado em um espeto.
- Como o Tribunal virou cinzas, então estamos livres e podemos voltar para nossas casas - responde Cassius sentado em um tronco -, mas ainda precisamos ter cuidado, pois há caçadores pela floresta e vilarejos.
- Isso significa que ainda não estamos seguros.
- Significa que ainda precisamos estar atentos. Eles não possuem mais um lugar para nos torturar e executar, mas ainda vão querer nos matar.
- Estamos livres do Tribunal, mas não de sermos caçados - dispara outro bruxo.
- Mas agora estamos, definitivamente, em maior número, os caçadores vão pensar muito antes de atentar contra nós novamente.
- Mas se nos separarmos e cada um ir para a sua casa, isso daria vantagem a eles, que ainda possuem as armas forjadas pelo Rei.
- Talvez fosse melhor ainda nos mantermos unidos - diz Oliver sentado no tronco ao lado do pai e com a esposa sentada do seu outro lado com a cabeça apoiada em seu ombro.
- Vocês são livres para decidirem o que acharem melhor.
- Ainda tenho um inimigo para derrubar - dispara Freya, que até então só observara a conversa sentada no chão perto da fogueira.
- Você está falando do Rei - comenta Diana sentada no chão aos pés de Cassius, que mantinha as mãos nos ombros dela.
- Ele traiu o próprio povo por poder, então precisa ser exposto para a Corte e deposto de sua posição de Rei.
- Mas isso não colocaria a nobreza contra nós? Já que um bruxo ascendeu a Realeza enganando-os - argumenta Oliver.
- Os cavaleiros que já lutaram a nosso favor podem ser testemunhas de que só queremos a nossa liberdade.
- Eu faço parte da Corte e posso servir de testemunha também a favor de vocês - diz Beatrice.
- Você foi deserdada - diz Oliver olhando para ela.
- Mas ainda sou uma nobre - retruca ela encarando o marido - e você também é, já que é sobrinho do Rei, assim como Freya por ser filha dele.
- Mas eu não desejo a coroa - diz Freya levantando-se -, só quero que o Rei perca todo o poder que alcançou traindo os seus e até mesmo a Corte. Não estou pedindo que ninguém me acompanhe, farei isso sozinha se for preciso.
- Você não estará sozinha - diz Cassius -, eu estarei com você.
- É claro que eu também irei com você - diz Adrian de pé do outro lado da fogueira.
- Eu também - dizem Oliver e Beatrice juntos.
- Eu preciso ver de perto o que vai acontecer ao Rei, então também irei - diz o bruxo com o espeto de javali na mão.
Por fim, todos concordam em acompanhar Freya até o Castelo Real.
- Dessa vez não será um ataque, a menos que precisemos nos defender - avisa Freya -, só queremos a cabeça do Rei traidor, se ele não cooperar em renunciar a coroa.
Todos ovacionam com gritos de vitória em concordância.
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Caça às Bruxas (CONCLUÍDO)
FantasyEm meados do século XV, na época da Inquisição, a Igreja perseguia os bruxos acusando-os de heresia e condenando-os a morte. É nesse cenário que vive Freya, uma bruxa que quando criança viu sua mãe ser executada na fogueira. Anos depois, ela mesma é...