Capítulo dez

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ARIZONA McGREGOR

Zane não matou ninguém, ainda não matou ninguém. Ele está gritando com alguém no telefone, já eu, estou abraçando sua irmã mais nova, que não para por um segundo de chorar. Estamos em uma delegacia, York está na sala do delegando, fazendo os primeiros passos para um boletim de ocorrência. Phil, o treinador de Zane, está tentando achar a mãe dos dois, mas pelo que parece, não obteve nenhum resultado até agora. Cantarolo uma canção infantil, que costumava cantar para Hunter quando ele era apenas um neném e não conseguia pegar no sono. A garota em meus braços soluça e penso o quão monstruoso é uma pessoa para abusar de uma criança enquanto ela dorme.

– Um dia uma criança me parou. Olhou-me nos meus olhos a sorrir. Caneta e papel na sua mão. Tarefa escolar para cumprir. E perguntou no meio de um sorriso. O que é preciso para ser feliz – murmuro em um ritmo calmo em seu ouvido e a garota se agarra mais firma em mim – amar como Jesus amou. Sonhar como Jesus sonhou. Pensar como Jesus pensou. Viver como Jesus viveu. Sentir como Jesus sentia. Sorrir como Jesus sorria. E ao chegar ao fim do dia. Eu sei que dormiria muito mais feliz.

Meu dedo enrola um fio do cabelo platinado dela, deixando um pequeno cacho se formar e rapidamente se desfazer. Lizzy cochicha para si mesma uma parte da canção e começo a cantá-la novamente. É uma música religiosa que minha mãe me ensinou e entre todas as músicas de ninar, essa era a única que fazia Hunter dormir tranquilamente.

– O que eu vou fazer? – sua voz saí rouca e com medo, muito medo.

– Primeiro, vamos achar quem fez isso com você e fazê-lo pagar por isso – garanto para a garota, que sentada em meu colo e com os ossos tremendo, parece uma menina tão pequena e frágil – depois, você decide o que irá fazer com a gravidez. Mas, por enquanto, seu irmão vai resolver tudo.

Zane irá se culpar pelo resto da vida, soube disso na hora que sua irmã contou o que houve, ainda na casa de sua amiga. Porque, Zane foi para um campeonato, como de costume, e sua irmã mais nova ficou em casa com a mãe deles e um estranho. Não foi culpa dele, muito menos de Lizzy, que é a principal vítima disso tudo. Mas, não posso falar o mesmo da mãe deles.

– Ele vai me proteger – ela afirma e sabendo que a loira não me vê, afirmo também com a cabeça – Zane vai me proteger de tudo.

– Vai sim, querida — deixo um beijo em sua testa, alisando seu rosto.

Com quem seja que Zane estava gritando, ele para, se recompõe e respira fundo. Seus olhos fixam em mim e sua irmã, tem tanta dor em seus olhos agora, que meu coração parece se despedaçar por saber dessa dor. Sem jeito, ele anda até nós duas e com seus braços largos, arrodeia nossos corpos. Deito minha cabeça em seu ombro e sua irmã volta chorar, com um certo receio, Zane toca no rosto da garota, fazendo carinho nele.

– Estou aqui, pequena – ele diz para tentar mantê-la calma, mas nessa situação, não tem como acalmar alguém.

Eu engravidei aos 17 anos por escolha própria e mesmo assim foi difícil. Agora, engravidar aos 17 anos, fruto de um abuso dentro da sua própria casa, é desumano. No lugar de Lizzy, não sei o que faria e acho que a menina ainda nem pensou que há de fato um embrião dentro dela.

– O que vamos fazer? – ela pergunta para Zane, que está desnorteado.

– Prender esse monstro – o rapaz garante com o lábio tremendo – e achar Cassidy, por Deus, o que mais quero agora é achar Cassidy e entender porque ela colocou esse monstro dentro da nossa casa.

Lucky loserWhere stories live. Discover now