Capítulo quatorze

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ARIZONA McGREGOR

A malha da blusa de basquete é um algodão áspero, firme, meus dedos fazem uma parte do tecido raspar na outra. Na parte de trás, o sobrenome McGregor está escrito em letras garrafais. Um dia, essa camisa pertenceu ao meu marido e junto com sua coleção de camisas de basquete, estava empacotada dentro de uma caixa no fundo do meu armário. E ficaria lá, entretanto, não tem como pisar na casa do Atlanta Hawks sem estar vestindo o manto deles.

– Oi amor – murmuro após escutar a mensagem da caixa postal – adivinha aonde vamos hoje? – nada, o outro lado da linha fica mudo, como sempre, engulo um seco e forço um sorriso, mesmo que só tenha eu no quarto – vamos assistir o jogo do Atlanta Hawks. E sim, Hunter está contando os minutos para chegarmos no ginásio.

– Lembra a primeira vez que fomos lá? – um mini Ethan, um mini York e uma mini Arizona invadem minha mente – eu lembro. Lembro do seu olhar apaixonado para cada canto do ginásio e como disse que um dia jogaria na quadra, como um jogador profissional de sucesso. E você teria sido se tivesse tido mais tempo.

Ethan tinha uma oportunidade, o teste dele já estava marcado quando descobrimos o câncer. Depois de ter ganho dois campeonatos estaduais com a escola e sendo o jogador destaque em todas as partidas, era lógico que o Atlanta Hawks iria querer ele no seu time. E todos estávamos na torcida que logo York também seria chamado. Os dois estariam na NBA, realizando um de seus maiores sonhos. Hoje em dia, meu irmão vê de perto o sonho de jovens jogadores entrando na NBA, e tenho certeza que toda vez que ele deita a cabeça no travesseiro, imagina como teria sido se Ethan não tivesse tido câncer.

– Falando em jogador, Zane venceu o aberto do México – compartilho animada, segurando com a minha mão livre a camisa – ele é muito bom, ver ele jogar, parece ser tão fácil. Foi incrível, fazia muito tempo que não ficava animada para assistir um jogo.

– Nos beijamos, tipo, beijo de verdade, com língua e tudo – dou uma risada, pareço uma pré-adolescente falando – e eu amei, nossa Ethan, ele beija bem e... e eu descobri que ainda sei beijar alguém.

A sensação da pele lisa de Zane em contato com a minha faz todos os meus pelos do corpo ficarem arrepiados. Foi muito bom beijar alguém novamente e foi melhor ainda, porque foi com Zane.

– Ele vai levar eu e Hunter no jogo hoje – conto e deito o meu corpo para trás na cama, deixando sua camisa em cima da minha barriga – vai ser divertido, nós vamos torcer juntos, rir, comer várias comidas gordurosas e no final iremos desejar que tivesse passado mais devagar – faço uma pausa, encarando o teto – ele me disse que teria gostado de conhecer você, eu acho que não, mas você, ah Ethan, você teria adorado conhecer Zane e ver o quão carinhoso ele é comigo e com Hunter.

No fundo, eu acredito que Ethan conheça Zane, que seu espírito tenha abençoado Brando e a nossa relação.

– Senti saudade de você hoje, uma saudade diferente dos outros dias – confesso, desejando sentir o cheiro de seu perfume – queria você aqui, levando-nos em um jogo de basquete, como uma família, a família que sempre sonhamos em ter. E você não está aqui comigo.

Às vezes me pego pensando sobre como teríamos sido junto, será que nosso namoro suportaria a universidade? Será que os holofotes iriam cegar Ethan? Felizmente, jamais terei essas respostas, então, apenas cabe a mim, imaginar coisas boas. Teria sido um relacionamento bom, confirmo em minha mente, nós nos casaríamos mais velhos, teríamos nosso primeiro filho por volta dos 30 anos, moraríamos em uma casa de luxo. E amor, viveríamos o amor todos os dias.

– Você não está mais aqui, mas eu e Hunter estamos, e estou muito feliz de estarmos fazendo essas coisas, mesmo que seja com outra pessoa – e mesmo não tendo nenhum tipo de sinal místico de Ethan me avisando, sei que ele também está feliz – e Zane é bom para nós, fico feliz de ser com ele.

Lucky loserOnde as histórias ganham vida. Descobre agora