Lucky loser

Capítulo trinta e três

ZANE BRANDO

Ele está ali novamente, no canto, com um sorriso amigável em minha direção. De novo as mesmas palavras, "então é você o novo namorado dela", e como todos os dias, eu acordo sem ar. Ethan sempre parece mais vivido em cada sonho que tenho, isso me causa eu leve medo, pois não o conheci, como posso vê-lo com tão nitidez? Como posso imaginar uma voz? A respiração de Arizona bate no meu peito, mostrando que a realidade é ela comigo, dormindo em meu peito após transarmos a noite inteira na cama que estamos dividimos há dias, como um casal.

– De novo? – ela está com os olhos fechados, porém percebeu que eu acordei tenso.

– Sim – murmuro com um pouco de vergonha.

– A mesma coisa? – faço um "uhum", pois é sempre a mesma frase, sem um "a" a mais ou a menos – eu estou aqui com você.

– Eu sei – beijo o topo de sua cabeça, raspando meu nariz em sua pele – vou descer tomar água.

Retiro delicadamente seu corpo de cima do meu, colocando no lado vazio da cama. Ajunto a cueca e o shorts do pijama que foram parar no chão no decorrer da noite, e os visto. Abro a porta do quarto, saindo com o máximo de silêncio possível, antes de descer, passo no quarto em que Hunter está dormindo, apenas para conferir que ele está imerso em um sonho infantil. E lá está ele, dormindo tranquilamente na cama, provavelmente imaginado seu futuro como jogador de basquete. Aquela criança é meu filho, e nenhuma aparição espiritual poderá dizer ao contrário.

Saio do cômodo onde o pequeno está dormindo, andando pelo corredor até chegar nos pés da escada, nesses últimos dias não tenho conseguido dormir nada durante a noite e isso acaba influenciando negativamente meu treino, pois estou sem capacidade para utilizar toda a energia que está dentro de mim. Dentre três dias iremos embarcar para o Reino Unido, minha penúltima chance de vencer um Grand Slam. Respiro fundo, porque mesmo que não volte de lá vencedor, eu já ganhei a maior vitória da minha vida, que é ter Arizona e Hunter ao meu lado.

Abro a porta da geladeira, retirando a jarra de água de vidro da primeira prateleira, pego um copo e encho até a boca, tomando metade do líquido em apenas um gole. O frescor da água gelada toma conta dos meus nervos, me deixando mais relaxado após ver Ethan novamente em meus sonhos. Por que ele está aparecendo para mim? Por que só diz aquelas palavras? O que tudo isso significa? Acredito que nunca terei as respostas para essas minhas indagações, só espero que todos esses sonhos acabem rápido.

– Não está conseguindo dormir? – dou um pulo no lugar ao escutar a voz de minha irmã – ops.

– Não tive um sonho agradável – respondo colocando o copo na ilha da cozinha – e você?

– Essa coisa não me deixa dormir – ela faz sinal para sua barriga, suspirando com exaustão – três meses para acabar.

– Às vezes até nasce antes – tento ser positivo, porém a doutora nos informou na última consulta que o bebê irá nascer dentro da data prevista – como você está?

– Em um transe que parece nunca ter fim – Lizzy é realista, a praticamente morena, visto que seus cabelos estão voltando para a coloração castanha natural, vai até o armário e pega um copo de vidro – minhas amigas estão curtindo o último verão antes de irem para a universidade em uma praia na Califórnia, tomando sol e beijando surfistas bonitos, e eu estou aqui, com o corpo todo inchado, indo fazer xixi de 3 em 3 minutos, com uma barriga maior que o mundo.

Vou até minha irmã, abraçando seu corpo e deixando um beijo em seus cabelos, a vida não está sendo nem um pouco gentil e justa com ela. Sei que tudo isso passará, e que daqui alguns anos, nem a própria Lizzy lembrará disso tudo com clareza, porém, ela lembrará da dor de ter perdido cada momento único em sua juventude, de não ter curtido um verão com suas amigas, de não ter beijado surfistas canalhas e de não ter perdido sua virgindade com seu primeiro grande amor.