I Can't Say No

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Olho para a televisão à minha frente sem prestar realmente atenção no que eu estou vendo. Eu sei que o filme é Notting Hill por que eu o escolhi, é um dos meus filmes preferidos. Já tinha o visto tantas vezes que não precisava prestar atenção para saber o que estava acontecendo. Ao invés de vê-lo eu deveria estar concentrada na minha adaptação do roteiro de "Oklahoma" que tem que estar pronto até a próxima segunda-feira. Ao invés de me encher de pizza eu deveria estudar e ensaiar. 

Olho para a Poliana que está com o notebook no colo ao meu lado e os olhos fixos na tela. Estamos na pequena sala do apartamento, sentadas no carpete marrom com as costas apoiadas nos pés no sofá.

— É sexta-feira e são oito da noite — eu digo esticando as pernas para debaixo da mesinha de centro onde estão uma caixa de pizza e duas garrafas de cerveja.

Eu não costumo beber, mas a semana tinha sido tão horripilante e estressante que eu decidi chutar o balde. Analiso de novo o pedaço de pizza que está na minha mão e penso que é por causa desse tipo de coisa que eu nunca vou me parecer como uma daquelas meninas do CdA.

Dane-se, eu penso antes de dar outra mordida.

— E daí? — Polly resmunga sem virar o rosto pra mim.

— E daí que achei que você fosse fazer alguma coisa do tipo sair e voltar só domingo à tarde. Você fazia isso em Itupeva.

Poliana me olha, pisca confusamente e volta a fitar o computador.

— Não dá, tem trabalho amanhã, esqueceu? — Ela estica o braço até a mesinha, pega a garrafa e leva aos lábios, inclinando um pouco a cabeça. — A gente não pode perder ele de jeito nenhum. 500 libras.

Eu faço um grunhindo concordando, mas continuo a observando.

— O que você está fazendo de tão importante nesse computador? — pergunto finalmente largando metade do pedaço de pizza na caixa em frente. Já tinha perdido as contas de quantos eu tinha comido.

— Estou vendo umas coisas do One Direction.

Polly levanta os olhos verdes pra mim e sorri de forma inocente. Eu perco a habilidade de falar por alguns segundos tamanho o meu choque.

— Você o que?! — eu quase berro na cara dela.

— Ah, você sabe! — Ela dá de ombros. Os cabelos ruivos estão presos com um lápis em um coque desleixado fazendo com que alguns fios caiam sobre o seu rosto. — Eu sempre curti umas musiquinhas, mas nunca parei mesmo pra olhar. Eles são bonzinhos, né?

— Poliana... — O álcool começa a fazer efeito e minha cabeça lateja. — Para com isso.

— E esse Liam é gatinho demais. — Ela me dá uma piscadela, mas suspira. – Pena que é um otário.

Polly fecha o notebook e o põe de lado antes de pegar um pedaço de pizza.

— Ele se desculpou. — Não queria voltar a falar no assunto, mas também não acho justo não deixar claro que, apesar dos pesares, ele havia genuinamente se desculpado.

— É, é... Provavelmente só para não te dar a chance de sair por aí falando que Liam Payne foi um ogro com você.

Eu volto a olhar a televisão. 

Ele tinha me parecido sincero, só que também não tenho como saber com certeza. Agora eu sei que eu não o conheço. Não dá pra conhecer alguém só por fotos ou vídeos.

— Esquece isso. Já é passado.

— É uma boa história pra você contar para os seus filhos — Polly diz entre risadas. — Como você literalmente acabou trocando telefones com um popstar juvenil.

Faço menção em pegar uma almofada só pra jogar na cara dela, mas paro bruscamente ao ouvir meu celular vibrar sobre a mesa. Meu coração acelera um pouquinho ao ver o alerta de mensagens piscando. Poliana percebe a minha tensão e olha para o aparelho. Ela sabe o que aconteceu no Brasil, porque eu havia explicado tudo no e-mail que enviei pedindo para ela me abrigar durante alguns meses. Respeitando o meu pedido, ela nunca chegou a tocar no assunto.

Eu pretendo ignorar, mas Polly se estica e pega o celular antes que eu possa impedi-la

— Hey!

— Ah, Meu Deus — ela murmura, perplexa. — É do Liam.

Meus ombros tencionam. Procuro qualquer sinal de humor na expressão dela, mas Poliana está séria. Se for brincadeira, ela está de parabéns por que não parece. Antes que eu me recupere do choque ela lê a mensagem em voz alta.

"Hey, Lua. Ainda me sinto muito mal pela forma que eu falei com você no telefone, fui um total idiota. Amanhã vamos fazer um show acústico no Opera House... Ficaria muito agradecido se você fosse. Liam x.".

— "Ficaria muito agradecido se você fosse"? — Poliana repete me entregando o celular. A mensagem está mesmo lá e eu a leio duas vezes em silêncio. — Se esse cara acha que está te fazendo um favor... — Ela para de falar ao me ver digitar rapidamente. — O que você está respondendo?

— Um "não obrigada". — Assim que paro de digitar percebo que Polly me encara. — Só disse que não vai ser possível e que eu vou trabalhar amanhã.

Mal acabo de falar e sinto algo vibrar em minha mão.

— Nossa — Polly sussurra levemente surpresa. — Ele ficou esperando você responder? Sério mesmo?

Lanço a ela um olhar cortante e ela fica quieta.

"É de manhã, às 11 horas da manhã. Não dá pra ir mesmo? :( Vou deixar seu nome na lista. Pode levar alguém, se quiser. Liam xx."

— Ele colocou uma carinha triste. — Acrescento depois de ler a mensagem para ela.

— Você tá de brincadeira, né? — Polly arranca o celular da minha mão e eu me levanto.

De repente aquele apartamento começou a me parecer pequeno demais. Começo a andar de um lado para outro nervosa. Aquilo já estava virando um hábito em situações críticas. Havia percebido que esse sintomas eram frequentes desde que eu cheguei em Londres.

— Você vai nesse troço e vai me levar junto. — ela se levanta balançando o celular na mão. — Jeffrey só precisa de nós depois das 15h.

— Como assim? Você estava resmungando sobre como ele é um ogro cinco minutos atrás!

— Eu sei! — a garota se aproxima de mim e me faz parar de andar, me segurando pelos ombros. — Mas isso não quer dizer que a gente não possa se divertir um pouco.

— Aonde isso é "se divertir", pelo amor de Deus? — rosno desesperada.

— Lua, me poupa! Você sabe as músicas desses caras de trás para frente. — Polly me chacoalha. — E você nem precisa falar com ele.

Eu sabia que aquilo não era verdade. Se eu fosse entrar de graça em um show do One Direction teria que falar com o Liam de algum jeito. Eu não sabia muito bem por que não queria ir. Talvez por vergonha por tudo o que tinha acontecido, ou por birra mesmo. Mas eu sabia o porquê de uma grande parte minha querer ir. Poliana estava certa, eu sabia mesmo todas as músicas de trás pra frente, Ainda sabia detalhes da vida deles (não os mais atuais, mas tudo bem) e tinha acompanhado a carreira da banda. Talvez a ideia não fosse tão ruim.


De Lua, com amorWhere stories live. Discover now