De Lua, com amor

With You

A primeira coisa que faço quando chego no CdA no dia seguinte é procurar por ele. Liam havia me acordado com uma mensagem me cobrando com a história de me ouvir cantar. Tentei dar milhares de desculpas, mas nenhuma funcionou. Eu precisava mesmo ensaiar minha parte do dueto com Juan para a aula do dia seguinte, mas não queria plateia. Pelo menos não aquele tipo de plateia, principalmente depois daquela conversa que tive com Polly na noite anterior.

Estava nervosa mesmo que ainda desacreditada.

O encontro sentado em um banco perto das escadas que levavam ao andar de cima. Respiro fundo inúmeras vezes enquanto me aproximo. A escola, apesar de aberta, ainda estava quase vazia afinal não era nem oito da manhã e mesmo assim ele estava ali, com os cotovelos apoiados nos joelhos, olhando fixamente para as botas caramelo.

— Bom dia — eu digo polidamente quando fico próxima a ele.

Liam se levanta de imediato e sorri. Ugh. Encará-lo ficou duas vezes mais difícil. Não quero analisar o rosto dele quando me olha. Xingo Polly mentalmente por colocar aquelas coisas na minha cabeça, já era difícil o bastante antes.

— Hey! Tô parecendo um stalker aparecendo em todos os lugares que você vai, né?

— Um pouco. — Ando até as escadas e ele me segue. Fico feliz por poder não olhar diretamente para ele durante o percurso até um dos estúdios de canto no andar de cima. — É meio irônico isso. As pessoas que deviam te seguir pra todos os lugares, não você.

O ouço dar uma risada rouca.

— É bom quebrar as regras de vez em quando.

Abro a porta do estúdio e acendo as luzes o mais rápido que posso. Quero acabar logo com aquilo porque meu nervosismo está me enlouquecendo. Só que agora eu percebo que eu estou nervosa com a música e não só com a plateia. Estou com medo de falhar na aula da Sra. Higglan, de não atingir as notas ou errar a respiração. Eu não era Cassie Levy que havia dado a voz para música original.

Posso sentir Liam parado ao meu lado enquanto dou uma olhada rápida na sala. Não é grande como o estúdio onde minha turma tem a aula de preparação vocal, mas é ótimo para ensaios. Imagino que com aproximação das audições para Wicked as pessoas venham aqui com mais frequência.

— Não me diga que você vai tocar também — Liam pergunta olhando para o piano de cauda que está no lado oposto da sala.

Ando até o equipamento de som.

— Não. Não estudei a partitura. — Tiro meu iPod da mochila e o encaixo no rádio. Procuro a música e a deixo preparada. Quando me viro para Liam ele está me encarando com o rosto inexpressivo. — Que foi?

— Você toca piano?

Eu enrugo a testa um pouco sem entender.

— Sim — respondo. — Bom, um pouco. Arranho alguma coisa.

O vejo suspirar e coçar a cabeça rapidamente.

— Tem alguma coisa que você não saiba fazer, Lua?

Umedeço os lábios e me volto para o aparelho de som.

— Andar de bicicleta, nunca aprendi. Falar francês, malabarismo e mais um milhão de coisas, Liam.

Ele fica em silêncio e eu aproveito para me concentrar. Puxo o ar e o solto devagar pela boca algumas vezes para estabilizar a respiração. Faço alguns exercícios com a voz que seriam totalmente estranhos para outra pessoa, mas Liam apenas se senta – no chão mesmo, apesar de ter várias cadeiras livres – com as costas contra a parede e as pernas dobradas. Nada daquilo é incomum para ele, afinal, ele deve fazer exercícios como aquele sempre antes dos shows. Por isso ele não diz nada e me deixa levar o tempo que for.