Epílogo - Some Kind of Wonderful

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Enquanto crescia em Itupeva sempre pensei que eu teria um emprego, uma casa no máximo em São Paulo se eu conseguisse me firmar na área do teatro musical por lá. Um dia provavelmente iria me casar e quem sabe ter filhos e cuidar deles com a minha mãe bem próxima de mim, porque eu não conseguia me ver sendo mãe.

Aconteceu tudo ao contrário.

— Eu sei que você tem que ir para casa agora, mas na próxima sexta você vai! – Dou sorriso cansado, mas feliz por que ver que Juan ainda me considerava tanto. — Não quero saber. Traz o boy magia também e aquela louca da sua prima. Pode trazer o pacotinho também.

— Vou tentar, eu prometo. — Ele me olha desconfiado sem parar de andar do meu lado. — Eu juro!

Juan não está acreditando e com razão. Eu sempre tento ir quando ele me convida para assisti-lo em "Book of Mormon" no teatro próximo a Circus Line, mas eu nunca consigo.

— Sério, Juan. — Juan para do meu lado quando alcançamos o meu carro. Você já está em Londres de novo há meses. Daqui a pouco a peça sai de cartaz e você ainda não me viu.

Ele está certo e eu não sei o que dizer por isso só faço a minha melhor cara de piedade. Funciona já que Juan suspira e me abraça.

— Próxima sexta — ele resmunga me soltando.

— Tem certeza que não quer uma carona até o metrô? — pergunto, mas Juan já está no meio do estacionamento, enrolando mais o cachecol listrado no pescoço.

— É ali na esquina já e eu preciso desfilar por aí para ver se algum boy me nota — ele grita de volta me fazendo rir.

Entro no carro correndo porque está frio e começando a chover. O tempo que eu fiquei indo de Nova Iorque para o Brasil me fez desacostumar com aquele clima da Inglaterra. Sim, nos Estados Unidos também fazia frio e nevava bastante no inverno, mas chovia demais em Londres e essa era a parte ruim de se morar ali. Essa, e a parte de que meus pais estão a quilômetros de distância, em outro continente.

O resto era ótimo. Por exemplo, o fato de que Juan e eu agora ensaiávamos nossas respectivas peças no mesmo prédio destinado especificamente para as companhias de teatro de West End e é dali que eu estou saindo agora.

Outra coisa boa é que eu podia ver Poliana todas as semanas. Ela andava me alugando sempre que conseguia me encontrar livre – ou seja, quase nunca – para ajuda-la na mudança já que a gora que ela tinha casado com o Stuart, eles tinham comprado um apartamento bonito no Soho.

Ela ia me visitar também, mas nunca era para me ver.

O trânsito em Londres não era muito bom, principalmente naquele horário, final da tarde. Eu tinha relutado muito em começar a dirigir porque eu já não era muito boa nisso no Brasil, piorou aqui que eu tive que aprender a guiar o carro no lado contrário. Mas era necessário pois eu não podia mais andar de metrô sempre. Na verdade agora eu não posso fazer várias coisas porque eu vivo ocupada. Eu não tenho um dia de sossego, mas não é ruim. É quase compensador.

Mas não posso evitar o alívio que eu sinto quando chego quase uma hora depois em casa. Assim que eu entro, tiro o casaco grosso do meu corpo e o penduro perto da porta dos fundos. Passo pela cozinha e cumprimento a Sra. Abbey que está entretida com várias panelas do fogo. Ela sorri assim que me vê e já me lança várias perguntas que vão desde como foi o meu dia até sobre o que eu gostaria que fosse comprado no dia seguinte no mercado.

Ás vezes eu não acreditava que eu tinha que tomar aquele tipo de decisão. Minha mãe me deu um discurso quase um ano atrás sobre como eu era agora uma dona de casa. Torço os lábios quando penso nisso. Eu não me sentia desse jeito porque eu tomava decisões, mas fazer as coisas de casa mesmo eu mal fazia. Pessoas como a Sra. Abbey faziam para mim.

De Lua, com amorحيث تعيش القصص. اكتشف الآن