What the Fuck?

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— Ah, meu Deus, você veio! – Juan fala tão alto que todas as outras pessoas me olham assim que eu apareço no topo da escada do segundo andar do CdA.  — Eu sabia que você não ia ser uma louca varrida e não fazer essa audição. Juro que eu ia partir sua cara no meio.

Eu tento sorrir enquanto ele me abraça, e a minha boca trava no meio do caminho fazendo com que eu fique com uma careta horrorosa. Os outros alunos me olham como se eu realmente fosse uma louca varrida, mas só por alguns minutos. Logo todos voltam para suas partituras e seus fones de ouvido. Juan me arrasta até um canto milagrosamente vazio do corredor abarrotado, aponta para uma porta marfim e meu estômago dá uma pontada. Ele nem precisa dizer nada, eu sei que é ali aonde tudo virá à tona. Joe Mantello está do outro lado daquele pedaço de madeira.

Dou uma olhada rápida de novo para as outras pessoas. Muitos dedos batem contra pernas, pés contam os ritmos contra o chão, lábios murmuram letras inaudíveis e há aquela tensão no ar. Tenho a sensação de que se eu me esforçasse um pouquinho, conseguiria segurar o ar com as mãos de tão pesado que ele está. Aquilo já era uma atmosfera meio que conhecida pra mim, mas eu nunca me acostumava. Sempre ficava nervosa, até por que não tinha tanta experiência assim. Algumas peças no currículo em papeis secundários não eram nada comparado com aquilo.

Apesar disso eu não estou tão nervosa quanto pensei que ficaria e o motivo era bem simples. Minha cabeça não estava só ali, o que era um péssimo sinal. Eu continuo pensando naquela maldita mensagem que eu enviei para o Liam na noite anterior, que por sinal, não tinha respondido. Acho que nunca me senti tão idiota na minha vida.

— Acho que eu vou vomitar — Juan sussurra do meu lado. A pele dele está levemente avermelhada e algumas gotas de suor se juntam na sua testa.

Eu entrelaço meu braço no dele, e aperto sua mão.

— Para com isso, você é maravilhoso. Tudo vai dar certo! Capaz que o Mantello te chame para a próxima peça dele na Broadway.

Juan sorri pra mim agradecido, mas posso ver que ele ainda está nervoso. Qualquer pessoa que entrasse ali acharia que estávamos participando de alguma audição de West End ou Broadway. Todos os alunos sabem que é do CdA que saíram alguns dos grandes atores de musicais da última década, e a produção de Wicked seria uma oficial e apresentada em West End só que feita por estudantes. Isso explica todo aquele nervosismo mutuo.

Quando a porta se abre todas as cabeças se viram para olhar a garota que sai de lá. Ela parece bem normal pra quem havia acabado de fazer uma audição e isso me tranquiliza, mas não por muito tempo.

— Lua Martinez.

Assim que ouço a voz vinda de dentro da sala, meu coração palpita. Juan prende o ar tão bruscamente que eu penso que ele vai engasgar. Demoro uns dois segundos pra reagir,e assim que recobro a lucidez pego as partituras da minha mochila e dou uma última olhada para Juan que parece pior do que antes. Sei que todos estão me olhando agora, então arrisco olhá-los de volta para mostrar que está tudo bem, que eu estou bem, mas quando o faço vejo o garoto maluco do outro dia. Ele dá uma piscadela pra mim e sorri. Eu entro.

As janelas abertas deixam o sol entrar e tudo parece muito mais aceso e claro do lado de dentro. Uma moça loira com uma prancheta na mão fecha a porta atrás de mim. Meus olhos passam pelo pianista, que está sentado em frente ao piano de calda, e param finalmente sobre a banca. Reconheço o diretor Lawrence, baixinho e gordinho, com uma barba rala branca como a neve e poucos cabelos na careca. Ao lado dele está o Sr. Mantello e meus olhos tremem só de olhá-lo. Reconheço suas feições por que ele é um dos diretores de peças e musicais mais famosos do mundo. Ele olha pra mim com curiosidade e eu fico tão hipnotizada que demoro a perceber o terceiro auditor e quando percebo quem é quase dou um grito.

De Lua, com amorOnde histórias criam vida. Descubra agora