I Guess This is Goodbye

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Fiquei em Londres mais de 300 dias e mesmo assim esse é um dos poucos em que fazia sol de verdade. Aquele tipo de sol que te faz querer ficar na rua e socializar. O tipo de sol que me deixou colocar um shorts acho que pela primeira vez nos últimos três meses. O tipo de sol que deveria ter aparecido mais vezes, mas deixou pra dar as caras só na minha última semana naquela cidade e na estação mais improvável de todas.

O tipo de sol que fez Poliana me tirar de casa praticamente arrastada.

— Só queria poder tirar essa roupa e pegar um bronzeado. Nunca estive tão branca como agora.

Ela está estirada de costas sobre a toalha xadrez, o corpo apoiado nos cotovelos, e acompanhava por trás dos óculos escuros a movimentação em frente.

E que movimentação. Era uma mera coincidência aquele festival de música estar acontecendo bem em um dia quente como aquele. Aparentemente todos os londrinos resolveram aproveitar a sorte comparecendo ao evento aberto que ocorria no Hyde Park naquele instante. Pelo menos a parte jovem "pseudo descolada" da população resolveu dar uma conferida já que até agora todas as bandas que eu ouvi se encaixam nas categorias pop-rock ou indie.

— Isso aqui não é uma praia, Poliana. Se controla. — Tento dizer por cima da música, mas nem me esforço muito.

O palco onde estavam acontecendo os shows está há metros de distância. Do elevo onde estamos dava para ver o mar de gente realmente interessada em assistir seja lá quem fosse aparecer ali. Eu não conhecia nenhum daqueles artistas e por isso decidi ficar lindamente acomodada embaixo de uma árvore, um pouco afastada da multidão.

— Você diz isso por que continua com essa pele coradinha de quem acabou de voltar do litoral — ela resmunga sem me olhar.

Ao invés de responder apenas me encosto melhor no tronco da árvore e trago os joelhos para mais perto do meu peito, apoiando melhor o pequeno caderno que estou levando para todos os lugares que eu vou desde o dia anterior.

Cada vez que me lembrava de algo que precisava resolver antes de viajar eu escrevia. Toda vez que pensava nisso eu entrava em pânico porque a lista já tinha quase duas páginas e eu só tenho uma semana pra resolver.

Mas não estou pensando nisso no momento. Nem no refrão chiclete da música que está tocando agora. Eu estou pensando no que parecia não sair nunca da minha mente: lábios rosados, olhos cor de mel.

Chega a ser dolorido cada vez que Liam aparece na minha cabeça e ali naquele parque a dor era pior ainda o que me faz tocar mais constantemente do que normal a lua pendurada no meu pescoço. Foi naquele parque que tudo começou.

— Você deveria escrever — Polly comenta e eu me viro em sua direção sem entender. — Faz bem pra aliviar um pouco. Deixar o coração falar. — Continuo confusa e ela nota mesmo sem poder ver meus olhos espreitados, escondidos pelos óculos. — Minha psicóloga falou.

— Desde quando você vai à psicóloga?

— Na verdade foi a Ellen Degeneres que disse. Eu a considero minha psicóloga.

Ela sorri quando eu solto uma risada e começo a bater a ponta da caneta na minha perna no ritmo da música.

— Não sou boa nisso — digo voltando a analisar a minha lista.

— Em escrever ou em colocar os sentimentos pra fora?

— Os dois.

Polly se levanta, enxotando com tapinhas alguns resquícios de grama grudados na perna.

— Faz um teste. — Pega do meu lado os dois copos vazios que havíamos deixado. O dela de cerveja o meu de coca. — Outro dia eu escrevi uma mensagem de quase 20 linhas para o Stuart. Foi bem libertador.

De Lua, com amorWhere stories live. Discover now