On the Street

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O tempo tinha passado rápido. Eu ainda consigo sentir as mesmas borboletas no meu estômago do dia da estreia. Elas estão lá ainda e eu tenho certeza que nunca iriam sair.

Juan me abraça logo depois de Amanda e eu o ouço choramingar nos meus braços enquanto eu o aperto. Nem sei como eu não estou chorando também. Estou triste, mas também estou com a sensação de dever cumprido. Wicked chegou ao fim.

E todo mundo está com a maior cara de enterro por que, claro, ninguém quer voltar para realidade. Ninguém quer voltar para o mundo em que nós somos apenas mais um no meio de milhões tentando um lugar ao sol. Ninguém quer voltar a ser rotulado como aluno, ou entrar na lista de atores que vivem em audições, mas que não conseguem nenhum trabalho de verdade.

É sempre muito difícil deixar um personagem e eu não me sinto pronta pra deixar a Elphaba. Ela é forte e corajosa e gosto de pensar que cada vez que a assumia, eu roubava um pouco dessas características dela que me faltavam. Agora as únicas coisas que eu posso roubar são a sua capa e seu chapéu pontudo para guardar de recordação.

E é isso que eu estou separando quando Dylan se aproxima de mim.

— Leva um pouco de tinta — ele diz do meu lado. — Você fica bem de verde.

Guardo as coisas na minha mochila de sempre e sorrio. Quando olho para ele, Dylan se aproxima mais. Segura o meu rosto e me olha para ver se eu vou pará-lo, mas eu não faço nada então ele encosta os lábios na minha boca em um selinho demorado.

Não o afasto de mim. Até correspondo ao beijo e é fazendo isso que eu percebo que não estou sentindo nada, diferente das outras vezes que ele me tocou. Antes o calor dos lábios e do corpo dele me distraía e eu me sentia confortável e segura nos seus braços. Agora eu não sinto nada disso.

Não é surpresa nenhuma isso, mas é estranho finalmente ver que aquilo não teria futuro nenhum.

Dylan entende, talvez pela minha expressão ou talvez ele também tenha sentido que alguma coisa tinha se perdido. Ele me dá um sorriso triste, gruda os lábios na minha testa algumas vezes e depois se afasta.

***

Antes de falar com a plateia do lado de fora pela última vez eu volto para o palco a pedido de Mantello que me chamou para cumprimentar algumas pessoas. Ele não deu muitas explicações, mas quando chego lá não vejo mais ninguém do elenco além de mim. Só enxergo pessoas estranhas divididas em dois grupos diferentes: um que claramente me parece uma família e outro cheio de homens engravatados que conversam baixo com o diretor.

— Você é a Elphaba? — Uma garota pequena com o cabelo cheio de cachinhos pergunta, pulando, elétrica, em frente ao palco.

— Eu sou. — Eu sorrio para ela e me corrijo mentalmente, "eu era".

Desço pelas escadas laterais até que eu alcance as cadeiras da plateia e pare na sua frente.

— Mas você nem é verde. — A menina faz cara de pensativa e eu rio.

— Rebecca, para de amolar a moça. — Uma senhora de cabelos muito brancos e corpo pequeno diz atrás dela.

— Não, está tudo bem — eu digo quando a pequena estende o livreto pra mim, se enrolando na perna da senhora.

Eu assino ao lado da minha foto, pois imagino que é isso que ela espere que eu faça, e devolvo para garota que sai correndo. Já a mulher continua na minha frente e eu noto que ela está analisando o meu rosto como se procurasse alguma coisa.

— Eu me lembro de você — ela diz de repente, seus olhos caramelados fixados em mim. — Você é aquela garota do parque, Hampstead Heath. — E a olho um pouco confusa, mas ela continua me avaliando parecendo mais certa ainda do que antes. — Você estava com um garoto e eu me lembro de ter comentado com o meu George como vocês se pareciam conosco quando começamos a namorar.

De Lua, com amorOnde histórias criam vida. Descubra agora