Broken Hearter

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Ao entrarmos digo para Liam me esperar um momento. Vou para o quarto e deixo lá minha mochila, meu casaco e, pelo menos tento deixar também a minha tensão. Quando volto para a sala ele está sentado no sofá, os cotovelos apoiados nos joelhos e as mãos entrelaçadas. Liam levanta os olhos para mim e eu percebo que ele vai falar alguma coisa, mas eu não deixo. Eu falo primeiro porque sei que se ele falar eu vou perder a coragem.

— Eu estou bem. — É a primeira coisa que eu digo. Liam prega os olhos castanhos em mim e concorda silenciosamente. Parece um pouco mais aliviado, mas também meio desacreditado então eu continuo. — Eu acho que consigo lidar com isso, mas eu quero saber se eu realmente preciso.

Fico em silêncio achando que não fui exatamente clara no que eu quis dizer, mas Liam entende a deixa.

— Só se você quiser — ele diz e parece tão frustrado que eu tenho vontade de chorar. Na verdade eu passei o dia inteiro com vontade de chorar e acho que isso está escrito na minha cara porque Liam me olha meio desesperado. — Eu quero ficar com você, Lua. De verdade. Eu quero você. Mas eu também não posso te obrigar a lidar com isso. Eu sei que pode ser demais pra alguém aceitar conviver com esse tipo de coisa.

Eu vejo o rosto dele se fechar e os olhos ficarem mais escuros. Tudo na expressão dele grita "culpa". Dá pra ver que ele se sente culpado pelo o que outras pessoas estão falando, o que é, claro, um absurdo.

— Eu preciso te falar uma coisa. — Liam fica rígido de repente, os ombros tensos e a expressão preocupada. — Calma, não é nenhum segredo de estado. É só uma coisa que eu preciso falar por que... — minha boca começa a ficar seca e eu paro por um segundo antes de continuar. — Eu preciso explicar por que eu relutei tanto. Por que eu ainda não me joguei de cabeça nisso. Seja lá o que isso seja. Por que eu pareço ser tão difícil assim.

Estou parada em frente a ele, apesar de ter uma mesa de centro entre nós. Liam aperta os olhos antes de concordar.

— O.k. ... — ele diz me encorajando a continuar.

Respiro fundo algumas vezes. Percebo que estou nervosa apesar de não entender muito bem o porquê. Não é como se eu tivesse feito algo horrível, eu só não gostava de falar no assunto porque ainda doía demais e parecia que  doeriapara sempre. Eu não gostava de lembrar do passado e era por isso que eu tinha ido parar ali, em outro país.

— Eu tinha um namorado — eu falo e estou agitada demais para ficar parada então começo a dar voltas pelo pequeno espaço entre os moveis. — Eu tive um namorado por quase quatro anos. Terminou um pouco antes de eu chegar aqui. Parece absurdo agora dizer que isso durou tanto tempo, mas foi o que aconteceu. Eu tinha 17 anos e talvez eu fosse inocente demais ou idiota demais, mas no começo foi bom. Ele era fofo e cuidadoso. Mas depois... — Noto que estou sem fôlego por que as palavras estão saindo da minha boca quase que instantaneamente. — Eu achei que fosse normal. Começou com pequenas coisas. Eu não podia sair sozinha, eu não podia conversar com ninguém do sexo oposto, eu não podia usar certas roupas. Mas foi piorando. — Paro de andar porque meu corpo dói e estou me sentindo meio zonza. — De repente eu não podia fazer mais nada. Eu não podia contracenar com ninguém nas minhas peças porque ele achava que eu estava me jogando em cima das pessoas. E quando eu conseguia algum papel mais importante era porque eu... Por que eu usava a minha aparência e não por que...

Quero continuar falando por que tem mais, muito mais, mas não consigo. Estou cansada como se dizer só aquilo já tivesse exigido muito de mim. Vou até o sofá e me sento na ponta oposta de onde Liam está sentado. Liam. Não tinha olhado para ele em nem um momento durante o meu monólogo então eu faço agora. Ele está encarando o lugar onde eu tinha quase aberto um buraco de tanto andar em círculos.

— Lua... — Liam se vira pra mim e eu percebo como a pele do rosto dele está avermelhada. — Ele te...

Ele aperta os lábios se calando sem coragem de falar.

— Ele não era agressivo. Não dessa forma — eu respondo . Eu sei que era aquilo que ele ia perguntar porque era a primeira coisa que passava na cabeça das pessoas quando ouviam falar sobre algum relacionamento abusivo. Mas não precisa de agressão para destruir alguém. — Ele mexeu com a minha cabeça, com a minha autoconfiança. E agora eu tenho medo. — Lembro das palavras de Juan e de Dylan no dia que nos conhecêssemos e, meu Deus, eles estavam tão certo. — De tudo basicamente. De falhar no que eu escolhi fazer da minha vida, mas principalmente, de me relacionar com as pessoas. Eu não sei mais fazer isso. Eu não sei mais lidar com relacionamentos porque eu acho que a outra pessoa vai esperar muito de mim. Vai querer coisas em troca que eu não posso dar. Ou vai surtar a qualquer momento.

— Lua eu nunca faria isso.

— Eu sei. — Eu consigo dar um meio sorriso para ele porque eu realmente sei que ele nunca seria capaz de fazer algo do tipo. Liam era só amor, carinho e cuidado. — E é por isso que eu estou te contando. Eu sempre vou ficar com um pé atrás com medo de que você me machuque. E talvez eu tenha uns dias ruins. E se... E se você quiser fazer isso você precisa saber que eu sou meio como um vaso quebrado...

— Você não é. — Liam diz, mas eu o ignoro.

— É como se eu tivesse acabado de grudar todos os cacos e eu ainda estou me acostumando. — Olho diretamente para ele mesmo que isso faça meu rosto esquentar. — Você me quer mesmo assim?

Liam se aproxima de mim devagar e senta tão perto que nossos joelhos se batem.

— Acho que eu quero você mais ainda, se é que isso é possível.

— Sério? — Não consigo controlar o tom meio choroso com que eu falo.

Sinto ele acariciar meu rosto com uma das mãos.

— Eu vou cuidar de você. — E aquilo foi suficiente para eu me sentir mais segura. Eu queria que ele fizesse isso mesmo, cuidasse de mim. — E eu vou começar te beijando.

Liam já está com o rosto bem próximo de mim de forma que eu me arrepio quando o ouço sussurrar aquilo. Minhas mãos voam para os ombros dele e eu me ajoelho sobre o sofá, ficando alguns centímetros mais alta que ele. Os lábios dele encostam-se aos meus e poucos segundos depois já sinto sua língua abrindo espaço na minha boca. Envolvo meus braços no seu pescoço quando Liam coloca as mãos na minha cintura. No primeiro momento os dedos dele fazem apenas uma pequena pressão contra o tecido da minha blusa, mas logo depois eles já estão na minha pele, dedilhando cuidadosamente as minhas costas por baixo da minha roupa.

Não é suficiente, mas aí eu lembro que a gente está no sofá da Polly.

— Liam... — eu murmuro. Falar mais alto do que isso está fora de cogitação. — Não podemos fazer isso aqui.

Paro de mexer no colo dele, mas já era tarde. Meu corpo estava anestesiado e meus olhos pesados pois podia sentir muito bem Liam embaixo de mim.

Ele parece no mínimo transtornado, o maxilar trancado e os olhos desfocados, mas Liam apenas me beija e me abraça, sem fazer nada que ultrapasse os limites, por mais que ele realmente queira ultrapassá-los.

Sinceramente, não sei o que está me segurando. Talvez seja o medo de que as coisas mudem depois que eu ele estivermos nus um na frente do outro. No fim, tudo ainda é muito estranho. Liam continua sendo uma estrela e eu continuo sendo apenas eu.

De Lua, com amorWhere stories live. Discover now