Some Other Me

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Do meu lugar consigo ver perfeitamente os cinco sentados em banquinhos, Niall com seu violão a tiracolo. Não há bateria ou guitarras, não há telões de led ou pistas de skates. Só há eles e as fãs. Harry está falando agora e ele é atencioso com o público, faz questão de acenar e interagir. Do meu lado uma menina que não deve ter mais que 16 anos está tão trêmula que não consegue segurar a câmera. Ela então desiste, guarda o aparelho na bolsa e usa as mãos agora livres pra limpar as lágrimas que não param de cair dos seus olhos vermelhos.

Poliana está do meu outro lado, com um copo de Coca-Cola na mão. Por incrível que pareça ela parece estar se divertindo, balançando corpo no ritmo da música.

— Qual é o nome dessa? — ela pergunta em todas as músicas sem exceção. Não sei se ela está interessada ou só me zoando por eu saber todas, mas mesmo assim respondo.

— I Wish. — Dou um gole no meu refrigerante. Meus olhos começam a arder de leve.

— Eu conheço ela... — Polly para um minuto. — Você não era doente por essa música? Quero dizer, mais doente do que por todas as outras? Eu me lembro de chegar na sua casa e essa música estar tocando no último volume.

Alguns ursinhos voam em direção ao palco. Louis se abaixa, pega um do chão e começa a cantar para ele. A plateia grita histérica e eu sorrio.

— Eu sou doente por essa música.

Eu cantarolo baixinho, não querendo deixar de ouvi-los cantando. Liam para de cantar por um momento e manda um beijinho para uma fã.

— Lua, pelo amor de Deus, me diz que você não está chorando.

Passo um dedo pelo o meu rosto e sinto a pele molhada. Seco os olhos com as mãos e começo a andar procurando a saída.

Sei que Poliana está me seguindo, mas não paro de andar até estar fora da casa de shows. Ainda tem muitas fãs do lado de fora, aquelas que não tinham ingresso e que foram apenas para ver os meninos de relance. Afasto-me o máximo possível delas, ouvindo Poliana gritar o meu nome atrás de mim.

Finalmente paro quase no final da rua. De lá mal dá para ouvir os gritos e burburinhos das fãs. Polly para em minha frente, ofegante, e me da uma olhada meio preocupada, meio acusadora.

— Imagino que o surto dessa vez não tenha relação com One Direction, Liam ou aquela música cretina.

Encosto-me a uma cabine telefônica, daquelas vermelhas típicas de Londres. Claro que não tem a ver. Ou pode até ter, mas não diretamente.

— Eu quero voltar... — consigo murmurar, a voz trêmula e fraca. Cruzo os braços sobre o peito.

— Para casa? Para o show? Para o Brasil?

— No tempo.

Poliana está confusa. Algumas pessoas passam com pressa, mas sequer nos notam.

— Eu quero voltar a ter 17 anos. — Preciso explicar por que agora as coisas fazem sentido. — Eu quero refazer as minhas escolhas! Eu era feliz, inocente... Eu tinha sonhos! Mas eu estraguei tudo.

Começo a entender o meu nervosismo, os meus surtos de ansiedade e ataques que eu tive desde que cheguei a Londres. Ficar andando em círculos, respiração acelerada, taque cardíaca.

— Você não estragou tudo. — Polly tira um lenço de papel da bolsa e o passa para mim que o uso para secar o canto dos olhos. — Ele estragou. E toda essa coisa de One Direction, Liam e músicas cretinas da sua adolescência estão mexendo com o seu inconsciente. Te fazem lembrar de como a vida era boa antes dele.

De Lua, com amorWhere stories live. Discover now