Touch Me

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Acordo não sei quanto tempo depois e quase esqueço de tudo o que aconteceu, mas sinto uma pontada de leve na testa quando me levanto. Comparado com antes a dor estava bem melhor e eu não estava tonta ou morrendo de sono o que já fazia uma diferença enorme.

— Sua roupa está diferente. — Coço os olhos e olho pra Liam. Ele está com uma camiseta e uma calça de moletom cinza, sentado no sofá e digitando algo no celular com rapidez.

Seus dedos param de se mover no aparelho e seu rosto vira em minha direção, mas logo ele volta a olhar o celular.

— Pedi para trazerem. E eu usei o seu chuveiro. — Ele faz uma pausa, os olhos pregados no objeto em suas mãos. — Como está a sua cabeça?

— Melhor. Eu estou bem, de verdade. — Liam faz um barulho com a boca. — É sério. É só um arranhão.

— Não é só um arranhão e você sabe.

De novo tenho a sensação de que algo está errado. O tom dele beira o irritado e ele não me encara de jeito nenhum.

— Você estava indo embora sem mim, não é? Você ia me deixar sozinha.

Liam não se assusta com a minha pergunta, reage como se estivesse esperando que eu perguntasse.

— Sim.

A resposta também não me surpreende, mas mesmo assim me sinto mal. Talvez dormir tenha sido melhor mesmo porque se eu ainda estivesse na pilha de antes com certeza ia começar a chorar de novo.

— Por quê?

— Por que eu não consigo te encarar sem me sentir culpado. Na verdade, eu nem consigo olhar pra você. — Noto que a voz dele fica menos seca e mais baixa. — Você está machucada e a culpa é minha.

— Você que jogou aquela coisa em mim? — pergunto com a voz firme, mas Liam continua sem me olhar. — Por que se não foi você então você não tem culpa.

— Você sabe o que eu quero dizer — ele resmunga, as mãos passando pelo rosto.

— É, eu sei e não faz sentido nenhum. Você não é responsável pelas outras pessoas só por que elas gostam de você. — como ele não esboça nenhuma reação, eu complemento: — E eu estou perfeitamente bem.

Tenho certeza que não vou receber uma resposta e também não espero nenhuma. Decido que cansei de conversar e entro no banheiro.

Fico tanto tempo encolhida naquela banheira - os braços em volta das pernas e o queixo apoiado nos joelhos - observando as bolhas de sabão explodirem uma a uma, que acabo pensando quanto tempo mais levaria para o meu corpo começar a apodrecer na água. Estou com frio e meu cabelo precisa ser secado urgentemente, mas não quero sair dali. Não quero encontrar Liam e perceber que ele ainda está agindo como se eu fosse um fantasma, se policiando para não me olhar.

— Lua? — Liam bate na porta. — Está tudo bem?

— É, eu estou viva. — grudo mais as pernas contra o meu peito.

Não ouço nada por um longo minuto e imagino que Liam tenha voltado para o sofá depois de constatar que eu não tinha me afogado ou algo assim.

— Eu sinto muito.

— Você ia me deixar lá. — Minha boca encosta na pele do meu joelho enquanto falo. — Você ia me deixar sozinha sendo que tudo o que eu queria era ficar com você. Eu estava com medo e você ia me largar lá.

— Eu sei, sou um idiota. Eu só... — Ele para de falar. — Se você estivesse com outra pessoa, uma pessoa normal, você não ia ter passado por isso.

De Lua, com amorDonde viven las historias. Descúbrelo ahora