34| Sanidades Consumidas

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Nua. Desnuda como sua alma. Fosse pelo fogo, fosse pela água que desabava em seu torso, purificada seria.
Um sopro... Era o que bastava.

Uma tontura imperava em Liz, o corpo emanava dor e ela forçava-o a andar desde que chegara até a sede, como se não quisesse demonstrar algum tipo de fraqueza, mas a cada passo que dava, ela sentia uma pontada aguda nos pés e seu tronco parecia envolto de um material gelatinoso, que com o mínimo toque ameaçava ceder.

Não, ela não entendera até aquele momento o que acontecera consigo. Mal sabia dar uma estrela, apesar de que, no momento em que estava naquele penhasco, deteve uma absurda convicção de que era capaz de tudo. Não compreendia o modo como havia arremessado Dalila a metros de distância, a maneira como a identificara ou até mesmo a energia estrangeira pulsando em seu coração.

Olhou para baixo, os cabelos formavam uma cortina negra ao redor do corpo, o piso do box manchava de rubro a medida que a água morna limpava sua pele. Talvez, Wilde diria que a normalidade é uma ilusão imbecil e estéril se estivesse ali, pensou ela, ah, querido Oscar, você nunca esteve tão certo.*

Liz deteve a mesma sensação de quando percebera que não era mais uma criança e desapegaria dos brinquedos que satisfaziam sua mente fértil. Não seriam mais úteis, mas faziam parte dela de certa maneira. Os brinquedos poderiam ser comparados à sua falsa identidade terrena.

Parte dela tinha convicção sobre não pertencer aquela dimensão, sobre o Deus, de que sua mãe tanto falava, ser seu Pai e Criador, parte dela estava presa aquele mundo, querendo aproveitar tudo que ele oferecesse. Se pode me ouvir mostre quem sou, aonde pertenço, suplicou mentalmente. Porque não se mostra para mim em vez de se esconder atrás de histórias bíblicas infantis? Liz tinha a impressão de falar com o nada, entretanto, não suportava mais a guerra interior entre ela e ela mesma.

Fechou os olhos, o som da água caindo deu lugar ao de espadas colidindo, trombetas ressoando. Ela viu imagens desconexas de lutas. Em um momento estava tocando uma arpa, sentada em degraus feitos de ouro, acompanhada de centenas de criaturas reluzentes, com asas; Em outro estava voando a quilômetros por hora ao redor da via láctea. Milhares de anos vividos presos em um subconsciente.

Ela apoiou uma das mãos na parede de azulejos a sua frente.

Por uma fração de minutos não sentiu dor, mas sim um peso acoplado em suas omoplatas e abriu os olhos, arfando, em um susto. Passou as mãos pelas costas e olhou para os braços, antes repletos de arranhões, mas que, com alguns toques de Rafael não deixaram nenhuma cicatriz. Rafael. Ela deslizou as mãos pelo rosto, tirando o excesso de água e encostou o polegar nos lábios, rememorando os beijos ardentes concedidos por ele. Liz almejava compreendê-lo, compreender toda a veracidade que desabou sobre si, contudo, não compreendia nem a si mesma.

— Que parte você não entendeu de detalhes? — Sofia insistiu. Estava apoiada atrás da porta do banheiro de um dos quartos da Sede do Rio de Janeiro. Hospedava em si uma mistura de raiva e indignação por Rafael ter pego seu pingente sem que ele notasse, entretanto, tais sentimentos se esvaíram quando encontrou-os juntos. Observou-os por um tempo, teve a impressão de quem eram peças de um quebra-cabeça se encaixando depois de algum tempo perdidas. Não era por acaso, nada era. Como ela desejava ter as lembranças de sua real essência de volta...

As Doze Luas - Filhos do AlvorecerWhere stories live. Discover now