53| Quando o Sol Se Põe

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Manhã de Sexta-feira Santa

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Manhã de Sexta-feira Santa.

Às oito horas o céu já tingira de azul-claro. Pessoas chegavam à praia carregando guarda-sol, cadeiras e crianças que mal pisavam na areia e corriam em direção a água, onde surfistas se preparavam para o brandir das ondas; vendedores ambulantes gritavam, gaivotas voavam, risadas corriam de um lado ao outro, todavia, para Liz o mundo estava em silêncio e o barulho encontrava-se dentro de sua cabeça.

Ela vagou o olhar de um lado ao outro da praia, pousando-o no horizonte sem fim do mar. A água salgada cobria metade das canelas, a calça jeans grudara na pele molhada. Seus cabelos emaranhados era jogados pelo vento. Os braços cruzados sobre o peito e o mistério abrigado em seus olhos talvez fosse o motivo de tantos olhares alheios.

— Sei que pode me ouvir. — disse Liz, a voz soou rouca. — Sendo assim, pode me dizer que droga está acontecendo?

Ela suspirou de uma só vez.

— Me sinto uma idiota.

Liz virou-se, a água espichando conforme se afastava do oceano para a areia. Piscou e o coração acelerou momentaneamente. As pessoas estavam congeladas em seus lugares, as folhas dos coqueiros em volta da orla balançavam em câmera lenta; Rafael, sentado a alguns metros parecia estagnado em seu lugar.

— Isso de novo? — Liz virou-se de costas para a orla, abriu os braços e olhou para as poucas nuvens no céu. — Qual é a sua?

Tudo será como deve ser. A voz soou como trovões reluzindo em seu cérebro.

Liz arregalou os olhos. Suas palavras haviam evaporado e a certeza de que Yahweh lhe respondera importunou seu coração.

Um vento voraz fez com que suas pálpebras fechassem de automático, uma sensação de acolhimento borbulhou em seu peito, uma paz diferente, a mesma que sentia quando seu pai tocava violão nas tardes de domingo. Um sopro bateu em seu rosto e Liz abriu os olhos, piscou várias vezes, as sobrancelhas franziram ao examinar tudo ao redor e ver que tudo estava em perfeito estado.

Ela marchou em passos apressados pela areia, em direção a Rafael, sentado como de costume, os cotovelos apoiados nos joelhos, a jaqueta jogada sobre um dos ombros e as tatuagens a mostra. A luz do sol provocou um clarão na argola metalizada em seu lóbulo direito e seus cabelos desgrenhados eram jogados para trás pela leve brisa. Ele piscou e seu olhar pousou em Liz; O castanho das íris quase rubro à claridade, os olhos carregados de desconfiança, eram uma arma engatilhada. Haviam leves arranhões em sua testa e bochechas, e um pequeno machucado no lábio inferior. Liz sentou ao lado do rapaz, fazendo questão de soterrar os pés descalços.

— Ele falou comigo. — quebrou o silêncio. — O barulho cessou, tudo parou, inclusive você e eu ouvi a voz Dele.

Rafael virou levemente o rosto, notando as sobrancelhas erguidas de Liz.

As Doze Luas - Filhos do AlvorecerWhere stories live. Discover now