O Jogo(1/2)

327 86 613
                                    

Segunda-Feira, 20 de janeiro de 2011

— Meu meio irmão Noah... ele era a única pessoa que ainda importava naquela casa... e também... nunca soube do que acontecia, mas... era ele quem me fazia continuar lá — falou a garotinha ruiva sentada na cama, segurando um pedaço de pizza pela metade em sua mão. — Até que eu não aguentei mais... — E desviou o olhar para baixo.

  O quarto de hotel que foi dado à banda de James Blake não era muito aconchegante. Possuía três camas, sendo duas de casal e uma de solteiro, todas com colchões velhos e desconfortáveis assim como os travesseiros. As paredes amarelas já estavam descascando, faltavam verniz nos armários que continham alguns puxadores quebrados, assim como também faltava na estante a qual segurava a pequena televisão que, ao menos, era a cabo e funcionava. Quanto ao banheiro, o chuveiro e a torneira só liberavam água fria — o que era péssimo em meio àquele frio de Liverpool — e a descarga da privada tinha de ser puxada no mínimo duas vezes para funcionar.

  As capas dos instrumentos jogadas no chão junto as malas abertas e as roupas e sapatos espalhados dentro e fora destas, só deixavam aquele ambiente mais feio. Sem falar no fedor de bebida alcoólica misturado a cigarro e a um certo cheiro de perfume masculino barato.

— Deveria ter contado a ele antes de ter feito aquilo — retrucou o loiro sentado na cama ao lado, com os cotovelos apoiados nas pernas cujos pés se encontravam apoiados no chão. — Eu entendo o seu motivo, e não a julgo, mas sinto em te dizer, Samantha, você não vai sobreviver na rua. Seu pai é policial, certo? Já devem estar atrás de você e não vai ser tão difícil achá-la.

  A menina sentiu um aperto no coração e, após o nó na garganta, seus olhos marejaram de imediato.

— Não me diga que você mudou de ideia sobre não me entregar... por favor...

— Oh, querida, não... Claro que não... — a encarou com um semblante preocupado. — Eu cumpro minhas promessas. Posso te ajudar com isso sem te entregar, mas pode ser um pouco difícil.

— Você... — fungou e limpou as lágrimas com a mão livre. — Você pode? Mesmo? Não me importo se é difícil, eu quero.

  Antes que James pudesse responder, ele e Samantha ouviram sons de risos vindos de um homem e uma mulher. Não demorou muito para que a porta fosse aberta por um cara branco de cabelo moicano que possuía um piercing no lábio inferior. Ele calçava um coturno negro, da cor de seu cabelo e vestia apenas uma calça jeans acompanhada de um colete do mesmo tecido cujo exibia seu abdômen liso, seu peito com uma pouca quantidade de pelos e seus dois braços quase totalmente tatuados. Ao seu lado, se encontrava uma mulher loira e magra que vestia um vestido tubinho rosa e calçava um par de saltos prateados.

— Oh, Jay... me desculpe — disse o do moicano com a voz arrastada em meio aos risos. — Pensei que estava na festa com os outros... — Estreitou os olhos. — Quem é essa menina?

— História para outra hora, Mark. Falo com você quando estiver sóbrio.

— Beleza... — encarou a mulher ao seu lado que apenas sorria. — Vamos para a sua casa então, belezinha?

— Sim, sim, com certeza... — a loira concordou com a cabeça sorrindo e logo o homem fechou a porta ao sair junto a ela.

  James desviou o olhar para a ruiva que se encontrava encarando a porta com a boca entreaberta, ainda exibindo os olhos marejados e o rosto rosado por conta do choro, enquanto ainda segurava a pizza pela metade em sua mão.

— É o Mark. Meu tecladista. Ele vai ser útil para nós mais tarde — suspirou e logo se levantou. — Vou ligar para os outros pedindo para que não venham para cá se estiverem acompanhados de alguém de fora... — Se virou novamente para a garota. — Samantha — Ela o olhou de imediato sem mudar a expressão. —, não quer enviar nem mesmo uma carta de despedida para o seu meio-irmão? Podemos dar um jeito de fazer isso se quiser...

Painful Secrets - 1ª Temporada[CONCLUÍDO]Where stories live. Discover now